Este foi o método mais MacGyver pra encontrar um celular que usei na vida
Meu fim de semana consiste em estudar, fazer vídeo e atualizar o blog pra vocês. Essa semana eu balanceei mal essa equação e acabei estudando mais do que qualquer outra coisa, mas cá estou de volta com um conto em que eu QUASE me fodi.
QUASE. Esses dias aí eu perdi meu celular e o achei de uma forma que faria ninguém menos que o próprio Angus MacGyver se orgulhar deste cearense expatriado que vos escreve.

Se bem que se ele perdesse o celular, o MacGyver construiria outro usando dos clipes de papel, uma batata e 3 folhas de jornal, então tem isso.
Foi o seguinte. Ontem, ou acho que anteontem, sei lá, depente de quando você ler esse artigo né? Então, nesse dia misterioso qualquer — que agora que eu paro pra pensar foi provavelmente na quinta feira –, eu e a patroa decidimos ir ao YMCA (que é melhor conhecido em terras nacionais como ACM, ou “aquela música lá do Village People”). Eu, como já expliquei, tornei-me um adepto da natação, e agora a Bebbinha quer entrar na onda também. Aliás, se eu fosse mais gordo e causasse maior deslocamento de água, ela entraria na onda literalmente.
Ao chegar na YMCA, puxo o celular do bolso pra verificar algo e encontro nada senão vento nos bolsos.
Pavor.
Começo aquele movimento quase epilético de bater simultaneamente em todos os bolsos (num país frio em que somos obrigados a usar jaquetas POR CIMA de suéters, você acaba com uns 13 bolsos pra verificar). O pulso cardíaco vai aumentando consideravelmente, e aí cai a ficha de que eu não sei onde está meu celular.
Sabe o que é separation anxiety? É uma desordem que causa profundíssima agonia se o doente mental que a tem está separado de alguma coisa da qual ele gosta muito. Aliás, o artigo da Wiki não inclui separation anxiety de celular mas eu mesmo posso corrigir esse defeito lá pra eles.
Não que eu tenha isso, na verdade. Eu não tenho piripaques só por precisar ficar sem usar o celular — eu acho, já que nunca fico longe do celular pra verificar isso empiricamente –, mas não saber onde está a porra do iPhone novinho em folha é de causar taquicardia em qualquer um.
Começo a reverificar os bolsos desesperadamente pra encontrar o bicho. A essa altura o staff da YMCA deve estar imaginando que estou dançando uma misteriosa Macarena silenciosa em velocidade Créu Número 5.
É: não sei onde está o celular. Não há como negar a realidade do fato.
O desespero é que eu lembrava claramente de ter saído com o celular no bolso. Minha mulher, já ciente da minha completa agonia, pergunta “mas você tem certeza que trouxe o celular?” e eu dou um olhar que diz “você está realmente perguntando se EU saí de casa com o celular? O cara com quase meio milhão de tweets? Você já me viu alguma vez fora de casa, ou até mesmo em casa, sem o celular na mão?”
Puta que o pariu. Saí de casa com o celular, e cheguei no meu destino sem. Onde estaria essa merda? Batendo a mão nos bolsos futilmente pela milésima vez (o MO clássico de quem perdeu algo mas simplesmente não quer aceitar a realidade), sinto a chave do carro e me vem o estalo: caiu dentro do carro, claro! Saí voando em direção ao meu veículo.
A esperança durou pouco. Revirei o carro inteiro e nem sinal do celular. Só aí me veio a idéia de usar o iPhone da muié pra, através do Find My iPhone, localizar meu celular perdido. Se o blipzinho do “radar” apontasse lá pra casa, TÁ DE BOA.
Volto correndo pra YMCA e peço o celular da muié. Ela, já impaciente com a perda de tempo, me dá o aparelho e vai pra piscina. Me sentindo como um funcionário da NSA tentando localizar o paradeiro de um importante informante que sumiu do mapa, entro no Find My iPhone e vejo, com alívio, que a bolinha do GPS do celular indica que sua posição é lá no meu apartamento mesmo.
Só que… tem um problema.
A triangulação do Find My iPhone não é perfeita. Frequentemente, ela não indica o local exato onde o celular está — ele mostra, em vez disso, a área geral onde o celular se encontra. O problema é piorado se o aparelho está dentro de um prédio, o que é o meu caso, forçando o sinal a atravessar inúmeros andares. O app interpreta esse sinal mais fraco como um círculo verde, dizendo “teu celular tá mais ou menos dentro desse círculo aí”.
Pior que isso, esse sinal errático faz a localização do celular oscilar entre alguns pontos aleatórios dentro da área geral onde ele se encontra. A maioria das pessoas normais, sem problemas crônicos e debilitantes de overthink as coisas, aceitaria o diagnóstico do aplicativo como “é, o celular tá lá em casa mesmo, e ele apenas aparenta estar se teleportando dentro do meu quarteirão por causa de idiossincrasias da tecnologia de GPS”.
Só que eu sou o Izzy Nobre, o cara que consegue pegar o cenário mais inócuo e, após pensar fixamente, obsessivamente, doentiamente nele por uns 2 ou 3 dias seguidos, achar que ele vai resultar na minha morte.
Veio-me a seguinte constatação: esse aparente movimento do celular pelo quarteirão, embora bem limitado e com epicentro bem próximo do meu apartamento (ou seja, confirmação não-oficial de que tá lá em casa mesmo), seria consistente com ter deixado o celular cair na rua ao entrar o carro, e algum vizinho o encontrou e tá perambulando lá perto com ele no bolso.
Pronto. Lá vem a ansiedade de novo. Find My iPhone não seria suficiente pra alguém paranóico como eu. Eu precisava de algo mais concreto, uma evidência daquelas que o advogado dos filmes leva no tribunal e o juri fala “Ohhhhh! Mas que advogado foda ele é!” e o juiz bate o martelinho pra eles se acalmarem porque isso aqui não é a casa da Mãe Joana.
Ok. O que eu posso fazer, daqui da YMCA e apenas com o celular da minha esposa, pra ter uma confirmação de que o celular tá lá em casa.
Já sei. Posso controlar meus computadores remotamente, e usar a webcam pra dar uma olhada no meu escritório. É uma idéia maluca, mas ir pra Lua ou fazer um filme baseado numa série dos anos 80 que ninguém mais dá bola também eram e deu bem certo.
Loguei no PC do escritório, abri o OBS (o software que uso pra transmitir joguinhos no meu canal do Twitch) e liguei a webcam.
Mas é óbvio que não daria pra ver porra nenhuma. Que idéia imbecil, Izzy.
AÍ EU PENSEI: Peraí. Posso não VER o celular, mas posso OUVI-LO! O Find My iPhone tem uma função de disparar um alarme remotamente no celular perdido. Ligo essa merda, volto pro acesso remoto, e se ouvir o celular apitando, é sucesso!
Fiz o processo, voltei pro app de acesso remoto e… nada. Nenhum som. E aí eu lembrei porque — porque havia desconectado o microfone momentos antes de ir pra natação pra usar o headset com outro computador.
Puta que pariu. Tudo está contra mim hoje, vai tomar no cu! E agora?
Aí lembrei que minha webcam tem um microfone também! Bastaria então habilita-lo como fonte de captura de áudio nas configurações do OBS. E foi o que fiz.
Imediatamente a estratégia mostrou sinais de funcionamento — o marcador de áudio do microfone, que antes estava sem atividade, começou a captar pequenos ruídos no quarto. Cooler do PC, aquecedor do apartamento estalando, o Marshmallow cagando em cima dos meus quadrinhos ou algo assim, há toda uma ópera de sons pitorescos num apartamento vazio.
Pingo o celular no Find My iPhone de novo. Volto pro TeamViewer e percebo claras oscilações no nível de áudio — algo está sendo captado! É o celular! OBA!
Só que lembra que eu falei que sou um ultra paranóico? Então. O TeamViewer não transmite sons sendo capturados ao vivo, então eu não teria como confirmar que os picos sonoros estavam sendo gerados pelo celular. Os picos PARECIAM consistentes com o som do ping do Find My iPhone, mas lembra que eu queria confirmação 100%?
Como então ouvir o som da parada se o TeamViewer não captura som “ao vivo”?
JÁ SEI! Removo o “ao vivo” dessa equação! O OBS permite fazer gravações usando a webcam; basta então ativar o Find My iPhone pela milésima vez, voltar pro app de acesso remoto, ativar a captura de vídeo, gravar alguns segundos, e então dar play.
Foi o que fiz.
Perfeita solução, né? Só que DESGRAÇADAMENTE a função de tocar sons sendo executados remotamente via TeamViwer, que eu já usei no passado, parece não funcionar mais. A essa altura o iPhone 5 velhinho de guerra da minha esposa já tá com tipo 15% de bateria. Já percebeu que pessoas não-viciadas em tecnologia CAGAM se os aparelhos deles estão com pouca carga, e frequentemente deixam o bicho morrer antes de recarregar? Então.
Comecei a googlear desesperadamente uma forma de reativar a transmissão de áudio através do TeamViewer. Achei a solução: era uma mísera caixinha que de alguma forma se auto des-selecionou no meu aplicativo.

A primeira
Depois de TODA ESSA NOVELA DESGRAÇADA eu dei play no vídeo capturado remotamente. E eis o som estridente e monótono que soou como os cânticos sagrados dos anjos pros meus ouvidos ansiosos:
ACHEI A PORRA DO CELULAR, CARALHO!
E aí saí correndo pra piscina, com a sensação de que ninguém mais no mundo jamais se deu a TANTO TRABALHO só pra garantir que havia deixado um celular em casa.
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