Quando RPGistas atacam: a anatomia de um chilique

“SEU BURRO! SEU IMBECIL! VOCÊ ESTÁ ERRADO!”, digitou furiosamente um RPGista no Facebook
Dizer que sou alheio a confusões na internet seria uma tremenda inverdade. If anything, o meu nome é meio que um sinônimo de confusão e desacordo na internet. É uma alcunha que eu carregarei pro resto da vida por ter fundado os icônicos Semeadores da Discórdia.
Me aquietei bastante desde aquela época de caçar treta no orkut como modalidade esportiva, mas como qualquer pessoa que ganha a vida jogando opiniões no éter da interent (éternet?), inevitavelmente eu falo isto ou aquilo que toca no nervo de alguém — mais frequentemente, de um grupo, o que é mais grave — e lá estou eu envolvido em uma briga virtual nas redes sociais.
Só que tem um negócio: geralmente, quando uma opinião minha resulta num troca-tapas internético, existe — ainda que bem sutil, beeeem de levinho — uma pitadinha de mens rea; ou seja, frequentemente há de fato a pequenininha intenção de extrair uma reação furiosa de alguém. Quando eu critico veganos ou ateus com timbre meio jocoso, embora haja uma substância por trás da crítica, admito que junto com o pacote eu incluo alguns gramas de “é isso aí mesmo que eu falei, vai encarar?”. Acho que é parte da minha natureza.
Nesses casos eu entendo a reação explosiva dos criticados. O que eu não entendo, por outro lado, é quando algo completamente idôneo causa reações de fúria.
Essa semana eu postei um vídeo que pergunta a meus inscritos a quantas anda a cena de RPG, um hobby pelo qual já nutri um profundo vício mas do qual atualmente me encontro afastado. Eis o vídeo:
A pergunta é sincera — eu sou rodeado por todos os lados de amigos geeks, e não ouço mais nenhuma menção sequer sobre RPG, que era algo que dominava completamente o diálogo nerd uns 15 anos atrás. Me pergunto (e pergunto aos meus inscritos) se o hobby continua, e compartilho algumas de minhas experiências no mundo do role playing game. Tive que cortar quase 10 minutos de histórias — sério! — porque tinha TANTA coisa pra falar sobre RPG que não tinha como caber no formato de vídeo que eu faço.
Qualquer pessoa com maturidade emocional em dia e uma saudável capacidade de compreensão de texto e tom — ou seja, um ser humano adulto comum — entendeu o vídeo pelo que ele é: uma pergunta sincera de um grande fã da parada que, por causa das vicissitudes da vida, está há muito tempo distante do hobby. Pessoas como o Marcelo Cassaro, que é ninguém senão o criador do 3D&T (portanto um grandíssimo ídolo da minha adolescência) entenderam perfeitamente o que eu falei no vídeo — ele até me agradeceu por ele.
Não teve nesse vídeo absolutamente nenhuma palavra negativa sobre o hobby ou seus praticantes. Nem de brincadeirinha.
Evidentemente, não foi isso que muitos fãs do hobby entenderam. Alguns míopes não viram o ponto de interrogação no título do vídeo, e decidiram então nem assistir o vídeo que seria um suposto ataque ao hobby. Ficou a impressão superficial de que eu estava falando mal e pronto, não quero saber, quem esse nerd pensa que é?!
Eu comecei a sentir um backlash da comunidade RPGista através de algumas menções desconexas no Twitter, falando coisas como “VOCÊ NÃO SABE O QUE FALA O RPG ESTÁ MUITO VIVO SIM!“, ao que eu respondi apenas que estou plenamente ciente da minha falta de conhecimento em relação a cena, já que eu mesmo mencionei isso no vídeo.

Talvez ele suspeitou que eu estou por fora da cena de RPG por causa do momento em que eu literalmente admito que estou por fora da cena de RPG.
Pareceu-me inicialmente estranho que você responda a alguém falando “eu não sei muito sobre como anda a cena atualmente” com “SEU BURRO VOCÊ NÃO SABE COMO ANDA A CENA ATUALMENTE!!!” — por que você precisaria “refutar” uma admissão de ignorância…? — mas enfim. Algumas pessoas precisam extravasar suas frustrações e insuficiências através internet, quem sou eu para nega-los esta catarse? É mais barato que o terapeuta de quem elas urgentemente precisam, e eles merecem esse alívio.
Inicialmente achei que fossem só alguns perdidos que não entenderam realmente o tom do vídeo, sempre rola isso. Foi quando comecei a receber mensagens de donos de editoras de RPG (sério) me sugerindo que eu fizesse um vídeo de “retratação”, pra voltar atrás no que eu falei e esclarecer que o hobby está ainda muito vivo sim senhor, que eu comecei a coçar a barba com curiosidade.
Por que seria necessário um vídeo em que eu desminta algo… que eu não afirmei? Será que precisarei colocar cinco ou seis pontos de interrogação no título dos vlogs no futuro, pra quem consigam discernir uma pergunta de uma declaração…? Espero que não, ia ficar feio pra caralho!

Mas se for necessário pra que alguns entendam, estou aberto a mudanças.
O caldo entornou de vez quando começaram a repassar no Twitter (em tom de “É ISSO AÍ CARA, DETONA ESSE NERD BURRÃO IDIOTA”) uma postagem que podemos definir como pertencente à categoria de “textão de Facebook”. O status inicial do post é curtinho, sim, mas se você somar todos os adendos que o autor adicionou em seguida (junto com o tom geral de ranço que pingava da página), vale como um textão.
E em seguida, quando alguém sugere que talvez, TALVEZ, o vídeo não era merecedor de tamanha reação já que eu admito que sou um velho fã do hobby que está há alguns anos distante:

Sobrou até pra vocês!
Repare o indício de que a fúria era tamanha que não há tempo de concatenar essas três frases num post só. O processo foi mais ou menos “GRRRR” aperta o enter “GRRRR” aperta o enter “GRRRR GRRRR” aperta o enter, tudo dentro de alguns segundos.
Quando alguns mais ponderados reiteraram que “caaaaaaaalma cara, é só um maluco comentando nostalgicamente suas lembranças dos jogos“, ele bate na mesma tecla novamente:

De certa forma é um elogio!
Ainda lutando contra a (pequena) maré de bom senso que refutava seu chilique, o rapaz prossegue:
Repare no trecho “O cara diz isso e fulano leva como verdade absoluta”. Diz isso O QUE, exatamente…? Que eu tenho saudade de RPG, olha aqui minhas fichas, olha como eu me divertia pra caramba com isso, olha como seria legal jogar de novo?
Vindo de um jogador de RPG, que deveria melhor que ninguém saber INTERPRETAR um texto, é particularmente lamentável. O alarmismo é tão profundo que frequentemente usaram o termo “PERIGO” pra se referir às possíveis consequências do meu vídeo. Pus o seu hobby em risco ao fazer um vídeo dizendo que sinto falta dele.

ESTE VLOGGER SIGNIFICA PRE RI GO
O rapaz pixelizado não estava sozinho em sua quixótica campanha contra o perigosíssimo moinho canadense que ameaça destruir o RPG. Surgiu uma amiga, infelizmente igualmente analfabeta funcional, que acrescentou…
Se eu fosse republicar aqui TODOS os comentários semelhantes a esse seria mais fácil postar logo os screenshots da parada, e eu prefiro não fazer isso porque remover os nomes e fotos de todos os envolvidos daria trabalho demais. Não que eu precise fazer isso, mas gosto de exibir maior boa vontade para com meus inimigos do que eles exibem pra mim. Isso ajuda a mostrar quem é que está do lado certo de uma situação como essas.
Nisso chega o Ninja de Beverly Hills e joga gasolina na fogueira. Este cara merece um comentário à parte, aliás, e já já chego nessa parte. Eis a contribuição dele no debate:

O rapaz se espevitou todo com a idéia de PODRES meus. Lembre-se: isso tudo porque eu fiz um vídeo falando que tenho saudade de jogar RPG.
Ele até inventou uma hashtag só pra mim, que ele vem usando há ANOS (haja persistência! Enquanto isso nem zerar a porra do Pokemon eu consigo) em redes sociais para verter seu ódio incessante de forma semi-velada.
O Ninja de Beverly Hills foi e acrescentou em relação aos meus “podres”:

“Ele não é um cara gente boa, como nós, que partimos pra pra ataques pessoais sem motivo”
Devo explicar a origem do apelido: o tal rapaz aí tem no seu perfil do Facebook uma foto que muito lembra o poster do clássico filme do Chris Farley:

Se você adicionar uma espada, uma neckbeard particularmente asqueirosa que berra “eu não sei me assear ou cuidar da minha própria aparência” e um senso gritante de auto-importância, você chega bem próximo na foto do cara no Facebook
Informantes explicaram que a foto no Facebook é porque o rapaz é instrutor de alguma arte marcial aí. Não sei quem paga o rapaz por aulas, mas eu não conseguiria levar a sério um mestre marcial cujo IMC é maior que o meu.
O sujeito não se conteve a expressar seu ódio pelo Facebook. Correu também para o Twitter, com todo o recalque que conseguiu carregar nos bolsos, e cobrou satisfação de um amigo que curte meu canal porque esse tipo de ódio profundo e tão puramente destilado não é o tipo de coisa que você consegue controlar ou limitar à própria cabeça — é preciso exteriorizar. ALGUÉM TEM QUE RESPONDER POR ISSO.

“Você está se referindo àquele vídeo em que ele mostra material antigo de RPG e fala nostalgicamente que queria voltar a jogar?”
Quando viram o ataque de pelancas do Ninja de Beverly Hills, informações fluiram em minhas caixas de entrada com detalhes que pintaram um belo quadro de quem é o rapaz. Agora, melhor do que nunca, eu consigo entender porque alguém é tão amargurado com a vida, com tamanho ímpeto de falar mal de alguém sem qualquer provocação, com uma ânsia literalmente patológica de se declarar moralmente superior a todas as pessoas ao seu redor. Espero, genuinamente, que esta alma conturbada consiga encontrar a paz de espírito que precisa.
Foi um bom lembrete pra realmente relevar esse tipo de ataque. Eles vem de uma posição de dor, de angústia, de insatisfação profunda com algo maior. O problema do cara não sou eu; em sua falta de direção, ele está me usando como saco de pancadas na falta da habilidade de fazer algo para de fato dar um jeito na própria vida.
Como falei: espero que ele encontre a luz.
—
E toda essa confusão porque eu mostrei umas fichas de Vampiro e falei que queria tentar jogar novamente, agora que falo inglês suficiente pra jogar com meus amigos gringos.
Olha, esses caras tão precisando gastar mais alguns pontos em Constituição, porque pra rasgar o cu de tanta raiva por tão pouca provocação (nenhuma?!), essa ficha de atributos tá toda errada.
Prometi agradecimentos aos broders que tiraram screenshot da thread (os revoltosos começaram lentamente a perceber o vacilo e, numa medida de controle de dano, deletaram o tópico inteiro às pressas, embora tarde demais), mas agora não estou achando os tweets. Postem aí nos comentários para que eu dê os devidos agradecimentos, vocês foram importantíssimos no registro dessa completamente sem sentido confusão internética.
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