Memória
A memória é a lembrança sob um único ponto de vis...
Memória
A memória é a lembrança sob um único ponto de vista, no caso o do narrador do romance. Tenho impressão que esse tema percorre todos os meus livros, sou intrigado pela capacidade humana de deformar a realidade para superar a dor. Todos somos construídos pelas mentiras que contamos a nós mesmos e nesse aspecto todo adulto é uma obra de ficção.
São Paulo
São Paulo é um lugar que permite essas misturas. E com a crise econômica europeia uma nova leva de imigrantes tem se juntado ao caldo grosso de variedade humana da cidade, tornando-se a Babel ideal. No livro, uso essa imagem das camadas de tinta sobrepostas. O narrador cava com as unhas a parede de um lugar que reconhece até encontrar a tinta que estava ali quando era criança. O tempo é a matéria prima do escritor e do meteorologista.
O lugar da trama
Acredito que seja mais o lusco-fusco do crepúsculo. Sou míope, então essa é a hora em que não enxergo nada. Mas o livro todo oscila entre a noite e o dia, o sono e a vigília. Talvez o lugar dele seja essa zona limítrofe onde todos os gatos são pardos.
Inadequação
Cem por cento. Definitivamente eu não pertenço a esse lugar aí. Por isso mesmo estou decidido a reinventá-lo.
A marca da pantera
Adoro os filmes dos irmãos Schrader, eles fazem parte do meu imaginário de adolescência. Nastasja Kinski deve ter sido a mulher mais bonita da história do cinema, ou ao menos da minha história do cinema. E da sua, pelo visto.
Método
De várias formas, como nos livros anteriores. Prefiro não falar da marcenaria suja de serragem que é o trabalho de escrever. É preciso preservar algum mistério. Minha família não tem segredos, pois abdicou totalmente de sua história. Mas, como toda família, é composta de gente boa, loucos e ladrões. Eu também sou um, por isso me sinto na obrigação de mentir e inventá-la do modo que bem entender.
Novela
Sempre ambicionei escrever uma novela perfeita, assim como são “Estrela Distante”, de Roberto Bolaño, ou “Viver Faz Mal à Saúde”, de Jamil Snege. Se consegui ou não, só o leitor pode dizer. Mas o escritor deve ser dotado de ambição. Sem isso, melhor nem sentar para escrever.
[ Fragmentos de uma entrevista ]

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