Como eu comecei a nadar com um iPod
Esta é uma lontra.

Catei justo uma imagem dela comendo, e não é sem querer!
Então, sabe o meu estimadíssimo amigo Evandro de Freitas? Juntos nós formamos o poderoso Megazord 50% do 99 Vidas – alguns diriam até que os melhores 50% –, o mais honesto podcast de games da internet brasileira.
Eu e ele pegamos o hábito de chamar pessoas gordas/sedentárias de LONTRAS. E faz sentido — você sabe o que uma lontra faz? Lontras só ficam comendo o tempo todo. São bolas de gordura com patinhas. O Evandro já abandonou a lontrice há algum, e eu decidi recentemente, de novo, que devo acompanha-lo na jornada rumo ao IMC saudável.
Só que tem um problema. Eu odeio me exercitar. Acho academia impossivelmente entediante; aquela natureza “desligue seu cérebro e execute este serviço braçal repetitivo por uma hora” realmente não é pra mim. Fiz a matrícula na academia do hospital desde que comecei a trabalhar lá, e se fui 20 vezes é muito. Considerando que estou lá TODO DIA, e trabalho lá desde fevereiro de 2013, é uma frequência comparável a da maioria dos deputados na câmara.
Tenho duas bicicletas aqui em casa, mas descobri rapidinho que andar de bicicleta me deixa com agonia tipo “ah, já tou longe demais de casa — melhor voltar logo” (fui um hobbit numa vida passada, acho). Isso quando eu não estou levando tombos por aí.

É estatisticamente inevitável que haja algum leitor do HBD que nunca havia de fato visto uma lontra até ler este post. Isto significa que pra este leitor, lontras estão comendo 100% do tempo.
Tenho também uma ergométrica, mas eu me sinto um hamster naquela porra. Esse negócio de ficar pedalando loucamente sem sair do lugar também não é pra mim.
E então o Evandro ofereceu a solução — natação. E não apenas isso, mas ele tem um truque secreto arcano pra tornar o esporte ainda mais divertido: um iPod cheio de músicas e podcasts, lacrado dentro de um case e fones à prova dágua.
Após ponderar por 2 ou 3 segundos, decidi que essa é a MELHOR idéia do mundo. Não apenas natação é um exercício super completo, mas também é a única atividade física que eu vejo como realmente prazerosa. Do tipo que se você convida alguém pra te acompanhar, QUALQUER pessoa fica empolgada.
Você berra, “Vamo pra academia!!!“, e talvez um amigo marombeiro se amarre na idéia.
Você oferece um “Vamo fazer cooper!” e eu imediatamente penso que o meu GTA5 tá muito mais interessante.
Um “Vamos andar de bicicleta!!!” talvez seja o único que resulte em uma resposta positiva do convidado, e ainda assim é uma atividade exclusivista — se o sujeito não tem uma bicicleta, ele fica chupando o dedo.
Mas um “vamos pra piscina!” causa, universalmente, gritos de alegria e empolgação de qualquer pessoa que ouça. Quem não curte uma piscina, mano?! QUEM? Me diga quem. Diga um nome sequer. Você não é capaz de dizer. Apenas pessoas sem alma.
Só de escrever essa frase já tou louquinho pra terminar essa porra de artigo logo e correr pra YMCA.

Aparentemente é divertido ficar lá
Teria eu então FINALMENTE achado o mítico elemento em toda história de gordos que ficaram esbeltos — uma atividade física REALMENTE prazerosa? Seria por ISSO que as outras tentativas falharam?!
Era a hora de experimentar.
No domingo, convidei minha mãe pra ir comigo. Minha mãe é uma hábil nadadora (pratica há uns 10 anos, acho), e consegue no auge de seus 50 e tantos anos dar múltiplas idas e voltas na piscina olímpica da YMCA com uma facilidade que me humilha.
Enquanto isso, meu crawl torto começou a falhar já na metade da piscina — em parte pelo meu péssimo condicionamento físico, e em parte porque tenho um ombro bichado que limita os ângulos de movimento e, por isso, a efetividade da minha braçada.
Pior, ficar ofegante numa piscina significa que você vai acidentalmente beber alguns litros de urina infantil em sua tentativa de puxar o ar. Eu parava e tossia, enquanto minha mãe observava e ria.

Sim, eu sei que fico estranho sem óculos.
Apesar disso, eu tava me divertindo bastante — como já foi comentado, é quase quanticamente impossível não se divertir numa piscina. Imagino que até os defuntos afogados em piscinas tem sorrisos no rosto. Coitados dos legistas, que visão do inferno.
Voltei pra casa animado com a primeira fase da deslontrização, mas faltava o elemento musicopodcastal. Passei numa lojinha de usados e achei este iPod nano cor de rosa.
CLARO que tinha que ser cor de rosa. Comprei.

Era CAD$50; por causa do pequeno amassadinho no canto interior esquerdo, o cara fez por CAD$40.
Pronto.
Agora, faltava o case e headphones à prova dagua. O Evandro recomendou estes, que vejo agora ter ACABADO de abaixar de preço. Era 17 dólares ontem mesmo, tenho certeza. Não posso garantir muita qualidade, mas até hoje o iPod do Evandro não quebrou, então taí.
Como eu estava na pilha da natação, mandei a paciência pro caralho e agi com minha usual afobadíssima impulsividade. Achei uma loja lá na puta que o pariu que vendia um case aí de grife famosa entre a turma que gosta de nadar ouvindo música.
50 conto o case, 30 conto os headphones. A propósito, acho uma chatice redundante ter que ficar explicando que a unidade monetária que eu uso aqui é o dólar canadense (o tal CAD$ que você viu lá em cima). SEMPRE que eu cito valores que eu paguei por alguma coisa aqui, suponha que são dólares canadenses.
Pronto. Com o case e o headphone, eu mal podia esperar pra experimentar a natação com o add-on musical. Quando alguém fala que “fulano mal podia esperar”, geralmente é um exagero. Eu LITERALMENTE não consegui esperar: mesmo já tendo ido nadar naquele dia, voltei em casa, peguei o short, e parti pra YMCA de novo.
O intervalo foi TÃO PEQUENO, aliás, que o voucher do estacionamento que eu paguei na primeira vez ainda tava válido. Daí você tira a minha empolgação. “Quero ver se vai continuar mês que vem“, você já deve estar pensando, de tão ranzinza e sem amor humano no coração que você é. Saia do meu site, você precisa é de Jesus.
Voltei na YMCA, enfiei o iPod no case, e pulei na piscina e comecei a dar braçadas sem ritmo ou habilidade em direção ao outro lado. Imagine um porco com câimbra tentando atravessar o rio São Francisco.

Esta imagem é uma cortesia daquelas aulas de geografia da quinta série
Segundos após começar a ouvir um 99Vidas, ouvi estalos no headphone, e o som baixando até ficar o aparelho ficar totalmente silencioso.
PUTA QUE O PARIU. Como é que no PRIMEIRO DIA, usando um case caro e chique de nadadores riquinhos, eu consigo a proeza de queimar a porra do iPod comprada pra essa ÚNICA FINALIDADE?!?!?
Saí da piscina apavorado, 50% puto e 50% “pelo menos vai render um Todo Dia Tem Uma Merda“. Percebi que a tela ainda tava acesa, e não consegui entender o problema. Algum tempo depois veio o estalo — o ruído era a clickwheel sendo ativada pela fricção da água empurrando o plástico do case contra o iPod. Isso fazia a clickwheel rodar, abaixando o volume da música.
UFA. Menos mal!
Aí veio o dilema — ativo o lock do iPod pra impedir que a água da piscina ataque de DJ, ou não…? Uma vez no case, a configuração escolhida não poderia ser alterada. Tentar mover o switch significaria ficar aplicando pressão no plástico do case com a unha, ou seja: péssima idéia.
Por causa da inquietude mental eu raramente ouço uma música inteira completa, fico mudando de 30 em 30 segundos praticamente — sim, esse é o nível da minha hiperatividade/habilidade de se entediar rapidamente –, então o jeito era deixar destravado e ficar aguentando os estalinhos da clickwheel girando.
Mais tarde, ao voltar pra casa, eu lembrei que é possível desativar esses estalos quando a clickwheel é usada. Maravilha!
Termino este post já colocando o calção de banho pra ir à YMCA. Não é tão longe daqui, mas como já tá ficando tarde e estou com pouco tempo — ainda tenho que gravar vlog hoje! –, vou de carro mesmo pra agilizar as coisas.
Convido os broders a experimentarem nadar com um mp3 player e musiquinhas/podcasts. Deve ser bizarro pros salva-vidas o gordinho nerd dando gargalhadas DO NADA no meio da piscina, mas fazer o que.

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