O parasita que introduz um certo paradoxo

Há pouco, na Radio Swiss Jazz, passou "My Inspiration". A Kate bordava, o Melville dormia à lareira e eu lia esparramado no sofá, com a cabeça na almofada mais confortável da sala. Pena apenas não ser a versão dos Dixie Gang, com Paulo Gaspar no clarinete. De resto, nenhuma vida é um equilíbrio perfeito, mas não haver paradoxos já será alguma coisa. Se hoje há um paradoxo na minha é, quando muito, esse de que sempre enferma quem se dedica ao trabalho a que eu me dedico. Um escritor deveria saber despir-se das suas opiniões. Idealmente, nem sequer as ter – não aquilo a que verdadeiramente se chama opiniões. Já um cronista vive delas. É este quem paga as contas cá em casa. É aquele que acorda de manhã e adormece à noite, levando-me pelo dia fora. Tenho-me preocupado com isso: o conflito pode às vezes ser paralisante, e tem-no sido alguns dias deste Inverno demasiado longo. Mas também é muitas vezes apenas burguês, pelo que está tudo bem na mesma.


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Published on April 07, 2014 14:24
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