A polêmica do podcast Angry Mac Bastards — às vezes a “zuera” sai pela culatra
Eu estava conversando esses dias no Twitter (onde mais, né?) ontem sobre as palavras que o hivemind internético brasileiro costuma estragar com sua fascinação obcecada/abuso descontrolado.
Em 2011, tivemos o “MAMILOS“. A expressão virou sinônimo de “polêmica” por causa de um vídeo memético particularmente idiota. E olha, a maioria de vídeos-meme são idiotas quase por definição, e ainda assim o “vídeo dos mamilos” se destaca no mongolismo. Veja aí, caso você tenha escapado desse vídeo durante todos esses anos.
Em 2012, me parece que a palavra da vez foi “CHORUME“. Outrora um termo que significava o nauseante líquido que escorre de um saco de lixo orgânico em estado de putrefação, “chorume” virou na internet algo (ou alguém) do qual você não gosta. Como uma criança que aprende uma palavra nova, a internet repetiu “chorume” a exaustão até que eu desenvolvi um tipo de sistema imune contra o termo — se eu vejo alguém usando a palavra eu já parto do princípio de que eu devo desgostar do indivíduo. Tipo reação alérgica mesmo.
E em minha experiência pessoal eu devo dizer que o uso de “chorume” é quase exclusivo de gente escrota.
Em 2013, estou convencido que o termo mais overused do ano — novamente, a ponto de gerar instantânea antipatia quando vejo alguém usando — foi “ZUERA” (que, informam os adeptos, “não tem limite”). “Zuera” veio substituir o “TROLL“, que também encheu o saco em anos passados.
Em 2013 a internet brasileira abraçou completamente a “zuera”. E embora tenhamos visto isso relativamente pouco (pelo menos até onde eu lembro), em algumas ocasiões a zuera backfires lindamente na cara dos zuões.
E assim começa a história do Aaron Vegh.
Aaron Vegh, como sua bio no Twitter explica, é um programador canadense. Aliás, não apenas canadense, mas ele é praticamente meu vizinho. O sujeito mora em Whitby, que fica aqui DO LADO de Oshawa, cidade natal da minha esposa onde estamos passando o Natal com a família dela.
Bom, agora, é nossa família, né?

O cara tá aqui do lado!
Então. O Aaron tem um blog, onde ele divulga uma página-currículo. Até aí tudo beleza.
E aí entra o podcast Angry Mac Bastards. Ou melhor, o finado podcast, eu devia dizer. No decorrer da controvérsia, o podcast bateu as botas.
O que rolou foi o seguinte: os hosts do programa (que estava em sua edição de número 235, ou seja, eles não eram exatamente novatos nessa esfera), conhecidos pelo humor ácido e irreverente, decidiram tirar o cara pra cristo. Num segmento de análise/desconstrução de quase meia hora, eles pegaram o currículo do cara e sairam esculachando basicamente tudo que acharam lá (No link você encontrará uma transcrição do programa, porque o podcast foi sumariamente deletado da internet).
Se fossem dar conselhos sobre como aperfeiçoar o currículo do sujeito, vá lá. O que eles fizeram no entanto foi escrotizar desde o fato de que o cara escreveu um livro (“grandes merdas é um livro self-published“), até a aparência pessoal dele. Nem o template do Pages que o maluco escolheu pro currículo os caras perdoaram.
E o problema com essa “zoeira”, “zoera”, ou seja lá como a turminha escreve essa porra, é que não há um real esforço humorístico em simplesmente agir com crueldade com alguém. Era bastante claro que os apresentadores simplesmente não foram com a cara do programador, e resolveram dedicar um pedaço imenso do programa espezinhando até cansar.
Já comentei aqui em outros tempos que essa galera que equivale “brincadeira de internet” (na época o termo vigente era o tal “trolls”) a esse tipo de perseguição pessoal tá, quase sempre, vacilando pra caralho. E este foi um claro exemplo disso.
Mas aí vem a parte realmente engraçada. Apesar de ter bem poucos seguidores, o Aaron foi defendido em massa pela internet.
A internet começou a ir atrás dos anunciantes do programa, pra denunciar os bullies e força-los a remover o patrocínio. Alguém entrou em contato com o empregador de um dos caras, o excremento se propeliu em direção ao ventilador, e aí os rapazes do podcast resolveram deletar TUDO, às pressas. Abandonaram anos de programa e desligaram a porra toda.
Do podcast só sobrou o texto de despedida deles.
Como os caras estão batendo em retirada, é bem capaz que até esse link resulte num erro 404 em breve. Aqui está o registro do pedido de “desculpa” deles.
É curioso que eles digam que não queriam “lutar contra a Máquina do Ódio/Revolta Internética”, quando a confusão inteira só existiu porque eles destilaram tanto veneno contra um cara que estava quieto na dele tentando arrumar um emprego. E ainda manipulam a situação emocionalmente, lamentando que as famílias deles não merecem isso — porque nós temos que nos compadecer dos bullies que iniciaram a porra toda, né?
E digo logo que duvido muito que as “famílias” deles receberiam algum tipo de represália por causa da história. Tá mais com cara de chantagem emocional mesmo.
O que me fode a cabeça é que a mentalidade dos caras é “bah, vocês não entendem nosso refinado senso de humor, então foda-se, somos as vítimas da situação, nossas famííííílias!!!!”, em vez de pedir desculpas genuínas pela shitstorm.
Como vocês podem ver, o problema da falta de limites da zuera é que isso significa que ela pode dar a volta e chegar em você de novo.
[ Update ] O Aaron acaba de me informar pelo twitter que a Kelly Guimont foi demitida do seu emprego por causa da polêmica.

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