Estou na beirada dos 30. Eis como me sinto em relação a isso

Acabo de reparar que meu RG foi emitido ANTES dos ataques de Onze de Setembro.
Este é o meu RG. Junto com alguns outros poucos documentos — título de eleitor, dispensa militar, alguns cartões de identificação escolar –, é um dos últimos artefatos que me conectam ao período que eu convencionei chamar de minha “vida antiga” — a vida no Brasil. Eu ia usar a foto só pra ilustrar meu iminente aniversário, mas como o tema do post é justamente “envelhecer”, este pequeno lembrete de uma vida semi-esquecida se torna ainda mais apropriado pra esse texto.
Quando eu nasci, meu pai tinha 23 anos. Lá pros meus 6 ou 7 anos, a época em que começamos a formar memórias mais claras (eu diria que é aí que sua vida realmente começa aliás), meu pai tinha aproximadamente a 30 anos.
Meu pai era o adulto mais próximo, a principal figura de autoridade. Por isso, na minha cabeça infantil, os 30 e poucos anos eram a “idade adulta padrão”. O mundo adulto, populado por pais, professores, médicos, empresários e políticos, era um mundo de pessoas de 30 anos. A turma com essa idade é quem dominava o mundo.
Eu nem me imaginava chegando nessa idade. Agora que estou à beirada dos 30, estou extremamente introspectivo. É impossível não comparar o que eu acumulei nestes quase 30 anos, com o que o meu pai tinha na mesma idade. Com a minha idade, meu pai já tinha tido dois filhos, começado sua carreira numa gigante multinacional, sido transferido por causa do trabalho, viajado ao exterior, etc.
Sei lá. Não consigo acreditar que estou chegando aos 30 anos — e que no fundo, no fundo, não sei bem o que estou fazendo com a minha vida. Tenho umas idéias e uns planos aí, sim, mas como é comum a alguém paranóico e cheio de self-doubt, questiono cada decisão e me pergunto se no final das contas não teria sido melhor ter ficado no Brasil after all.
Apesar desse tom derrotista, eu não tenho muito do que reclamar. 2013 foi um ano em que realizei TUDO que eu queria, o que coloca uma pressão absurda em 2014. Se 2014 não for ainda melhor, vou sentir um retrocesso. E aí estarei deprimido de verdade no meu próximo aniversário.
E tem aquele conceito que já compartilhei aqui uma vez. Vim aqui com 19 anos, no dia 28 de novembro terei vivido no Canadá por exatamente uma década. Considerando que nossa vida realmente só começa lá pros 7 anos, tenho 12 anos de vida brasileira contra 10 de vida canadense. Daqui a pouco, a vida brasileira que sempre foi um marco tão definitivo da minha propriopercepção e auto-identidade será um fator menor da minha vida como um todo.
Minha “vida canadense” será mais determinante na minha formação pessoal do que a vida brasileira foi — e considerando que vivi minha vida adulta inteira aqui, é possível que esse momento já chegou.
Wow. Estou aqui há quase 10 anos. Lembro quando tinha acabado de chegar — sem dinheiro, sem conhecer ninguém, sem falar a língua, e amargando o fim de um relacionamento de 3 anos, e presenciando também o desmoronamento do casamento dos meus pais.
Eu tava com uma idéia bem maior pra esse texto. Uma análise sobre a experiência de envelhecer, de passar sua vida adulta inteira observando seu país natal de longe, de “crescer” diante dos olhos de tantos estranhos (o site tem 11 anos e alguns de vocês o acompanham desde o começo). Só que meu desânimo é tamanho que eu não consigo nem me forçar a escrever, como já foi o caso em outras circunstâncias em que eu estava desanimado.
Blah.

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