[ Pergunta do Dia ] Qual a sua lembrança nerd mais tenra?
O joguinho acima é Total Annihilation, um RTS com gráficos 3D lançado em 1997. Até hoje, este é um dos meus RTSs favoritos, senão O favorito.
Não bastasse o mérito do jogo como jogo, tenho inúmeras lembranças felizes com Total Annihilation que sem dúvida serviram como fatores que explicam meu apreço por ele.
Conheci Total Annihilation bem por acaso. Estava um dia na escola com meus broders Farney e Luciano (com o primeiro ainda tenho contato; ele veio ao meu casamento. O segundo desapareceu completamente em meados de 2009). Nós três éramos os nerds de videogame e computador da sala naquele longíquo ano de 1997, assíduos leitores de revistas como a Game Power e a Revista do CD-ROM.
Aliás, agora que paro pra pensar tinha um outro broder nesse meio — o Leandro, que por motivos que nunca entendi era chamado pela sala inteira de “Norman”. Provavelmente por causa de uma suposta similaridade com algum personagem de mesmo nome de um filme qualquer. Enfim!
Chega o Farney (que defendia na época seu nome incomum com a explicação faux-orgulhosa que sempre ouviu da mãe, “é o nome de um artista lá“) com uma revista do CD-ROM. Ele trouxe a revista aberta na página de uma propaganda de um game. O título dizia “ANIQUILAÇÃO TOTAL” e trazia uma screenshot de uma guerra imensa, não muito diferente do screenshot aí em cima. Não lembro que features a propaganda relatava, mas o Farney ficou com a impressão de que o jogo permitia uma promessa até hoje não completamente realizada nos games — cenário totalmente destruível.
O maluco nunca tinha nem visto o jogo, mas ele já declarava Total Annihilation como jogo favorito dele. Pra você ver o poder duma propaganda.
Uns dois anos mais tarde eu estava passeando no shopping Iguatemi de Fortaleza com minha mãe. Parei numa banquinha de revistas que ficava no segundo andar (a banca não existe mais, comprovei em minhas idas recente à minha cidade natal) e vi estupefato a seguinte revista na vitrine:
Sei que tem uns pirralhos de 14-15 anos lendo esta bosta de site que não apreciarão o significado nerd-cultural dessa revista. É o seguinte: na nossa época (mid to late 90s), não tínhamos Steam, não tínhamos conexões boas o bastante pra piratear, não tínhamos torrent. O motivo pelo qual a revista anunciava, ali no canto superior direito, ter um “JOGO COMPLETO” é porque isso era meio raro naquela época pra maioria dos pequenos nerds. Nos contentávamos com demos/versão shareware dos jogos, porque nas lojas o pouco que encontrávamos era vendido por quase 100 reais.
Sem putaria turma, eu vi com meus olhinhos que a terra há de comer Diablo sendo vendido numa loja de informática por 110 reais.
Pois bem. Lá pelos idos de 97 ou 98, as revistas de computador da época (Revista do CDROM, CDMAX, CD Expert… tou esquecendo de alguma?) começaram a oferecer “jogos completos” por um preço comparativelmente ridiculamente mais baixo — na faixa de 15 reais. Pra uma molecada criada a base de jogos com 2 fases ou limite de tempo (o demo do GTA limitava seu gameplay por 6 minutos, com uma contagem regressiva impiedosa no topo da tela), isso foi a salvação da pátria.
Lembro até a primeira revista a oferecer jogo completo e qual era: Revista do CD-ROM, e Afterlife.
Então. Tava lá passando no Iguatemi, vi o tal famoso Total Annihilation por uma quantia irrisória, e fiz algo que fui criado a vida inteira sendo condicionado a jamais fazer: pedi à minha mãe, publicamente, pra que ela comprasse algo pra mim.
Minha formação infantil me imbuiu de um senso quase samuraizístico de jamais incomodar ninguém. Até hoje quando estou na casa dos outros eu omito estar com fome, mesmo que o anfitrião esteja perguntando, pra não incomoda-lo obrigando-o moralmente a me alimentar. Se eu fosse vampiro teria que pedir autorização DUAS VEZES pra poder entrar na sua casa.
Minha mãe comprou o joguinho e eu voltei pra casa felicíssimo. Meti o CD no CD Player do carro, tendo aprendido há algum tempo que em alguns games, após pular a primeira faixa, a trilha sonora se torna acessível em aparelhos de música. E a viagem de carro foi ao som da trilha sonora estupenda do jogo.
Meu pai, incomumente, tomou um certo interesse pelo jogo ao me ver jogando. Passei a vida INTEIRA jogando no computador e nos consoles, e meus pais não davam o MENOR interesse pro contéudo que eu estava consumindo. TA, por outro lado, captou a atenção do meu pai. Ele viu a tática que o jogo exigia do jogador, a noção rudimentar de economia ao reger os recursos, a batalha acirrada que exigia seu controle direto e flexível, e acabou experimentando.
Eu e meu pai jogamos MUITO Total Annihilation em rede naquela época, e eu me arrisco a dizer que meu velho se viciou mais no jogo que eu. Até hoje ele ainda joga TA religiosamente — eu também, mas ele mais que eu –, e ele inclusive já até viciou meu irmãozinho Kevin, de 7 anos. O pivete já tinha um interesse precoce em RTSs, outro dia fui à casa dele e vi que ele tinha acabado de terminar uma partida de TA lá no computadorzinho dele.
E uma das belas memórias que eu tenho com Total Annihilation é de quando minha família ia a um SESC em Fortaleza (ou era em São Luís? Isso que é foda nessa vida de nômade — esqueço onde certas coisas aconteceram!).
Após nadar na piscina e comer no bandejão, batia a preguiça e íamos pra uma área de camping. Minha mãe armava umas redes e ficávamos lá preguiçosamente… enquanto eu jogava TA tranquilamente no laptop do meu pai, que ele frequentemente levava em nossas viagens familiares, permitindo dar continuidade ao trabalho E permitir uns momentos de nerdice como esse.
Se minha vida fosse um filme, nesse momento a câmera puxaria pra trás, enquanto minha família inteira tira um cochilo, lá estava eu detonando robôs inimigos, ouvindo o barulhinho dos pássaros naquela tarde tranquila de domingo.
Qual a sua lembrança mais tenra relacionada a nerdice?

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