Nunca mais tento ajudar quem não merece

Há alguns anos conheci uma trupe de strippers nerds que fazem eventos nos círculos geek de Calgary — show burlesco com temática Magic the Gathering, ensaio inspirado em Star Wars, essas coisas. Rolou uma afinidade com a líder da parada (não levem pra maldade, ela conhece minha mulher, etc), e ela precisava de ajuda justamente no lado “social media” da pequena empresa dela.


Agora, social media é essencialmente um dos meus maiores hobbies. Eu praticamente vivo na internet; se tem algo que eu entendo relativamente bem, é a web. Ela precisava de ajuda tanto em lançar um site quanto nas operações relacionadas a redes sociais. Eu gostei da idéia de poder aplicar todo esse conhecimento inútil que acumulei ao longo de anos viciado na internet pra algo que valha a pena pra alguém, então me voluntariei pra essa tarefa.


E com uma certa empolgação atém confesso: não sou apenas um vagabundo que preencheu seu tempo livre nos últimos dez anos com essa internet maldita; esse know how me permite hoje ser um CONSULTOR pra alguém que precisa disso!


Só que rapidinho notei que a menina é daquelas que não aceita muitas sugestões e se chateia ao ser contrariada. Ela insistia em contratar um webmaster, por exemplo — falei pra ela que isso é uma prática que caiu em desuso; gerenciar sites hoje em dia é tão fácil que dispensa empregar um webmaster (e de fato, o próprio termo “webmaster” é meio que uma relíquia da internet dos anos 90).


Expliquei pra ela que os CMSs atuais (WordPress, por exemplo) permitem um total leigo na parte mais técnica da coisa (como eu) mantenha seu site atualizado com conteúdo original — isso sim que é importante em estabelecer uma presença na web. Se você tem algum bom conteúdo original, você pode nem saber o que é HTML e ainda assim ser bem sucedido na área.


Pague alguém pra instalar um CMS, outra pessoa pra fazer o webdesign, e pronto — tome as rédeas da coisa depois disso.


Para minha surpresa, ela contrariou completamente tudo o que eu falei, com uma certa petulância (“pfff claro que não haha existem muitos webmasters sim!!!!”, como quem diz “você não sabe de nada!”). Beleza, deixei quieto o negócio. Deixa ela pagar pra alguém atualizar o WordPress pra ela então, a grana é dela.


Em seguida tive que explicar pra ela o que era o twitter, e como ela deveria usa-lo para promover seu conteúdo. Ela reclamou o tempo inteiro, dizendo que não tem tempo pra isso e o caralho — com aquele tom de descaso que só é possível quando você desmerece completamente a sugestão de alguém.


Pensei “ok, mais uma idéia que ela jogou no lixo. Beleza”.


Depois a conversa voltou pro lance do site. Ela insistia em contratar um webmaster, e eu falando pra ela que isso é desnecessário, que qualquer pessoa que ainda ganha a vida como “webmaster” está pensando e trabalhando como se estivessemos em 1997 — sejam francos comigo, estou errado em pensar isso? –, e que NO MÁXIMO o que ela realmente precisa é de alguém que faça o design. Ela me diz que já contratou alguém muito profissional pra isso; mantenham isso em mente.


A prepotência dela se estendeu a outras áreas, por exemplo — quando ela reclamou que não conseguiu vídeos de um certo evento porque havia “muita luz natural”, como se existisse tal coisa/como se luz natural fosse um inimigo da cinematografia. Falei pra ela que não entendi qual era o problema, luz natural nunca é demais. Ela explicou que “duh mas havia fogo nesse evento, claro que não dá pra filmar direito!”.


Já não tão surpreso com a combinação de “ignorância” e “prepotência” vinda dela, expliquei que é uma questão simples de setar exposição e abertura pra poder capturar sob quaisquer condições, ESPECIALMENTE quando luz natural não está em falta.


Em vez de agradecer a dica, ela deu de ombros de forma meio babaca dizendo que “não tem tempo pra essas coisas”. PORRA, a parada é seu emprego, você sofre de amadorismo quase incapacitante, e é assim que você recebe o maluco que tenta ensinar as paradas?


Foi nessa que a ficha caiu. “Wait, não tou comendo essa mulher, não há motivo pra eu aturar esse tipo de babaquice quando só tou tentando ajudar” e cortei laços completamente — deletei do Facebook, saí do grupo dessa tal trupe dela, etc.


Hoje fiquei sabendo por uma amiga em comum que o site foi lançado. Tenha em mente que todas essas discussões rolaram há uns seis meses, quando o site começou a ser desenvolvido. Tiveram SEIS MESES para trabalhar nesse site.


Olhaí que beleza que ficou.


fanchix


Olha esses assets em resolução errada. Olha esses botões de social media que não levam a lugar algum. Olha o relatório de contato que, se você tenta preencher, abre uma foto. Olha essa página de login ridícula. Veja a página com “upcoming events” listando eventos que já rolaram.


ELA PAGOU PRA ALGUÉM FAZER ESSE SITE.


O resultado é uma merda tão lamentável que nem vontade de zoar a mina eu tenho.


Fiquei é com pena. Como alguém pôde olhar pra esse site em pleno ano 2013 e acha-lo adequado para a internet contemporânea?


A lição aprendida é: seu tempo é valioso demais pra gasta-lo tentando ajudar quem não ouve. É nessas que nego se encontra perdido pra sempre como amador na parada, não saber usar os recursos que às vezes batem na porta.


[ EDIT ] Agora que percebi que o site nem permite membros (que sejam corajosos o bastante pra arriscar dar a essa galera seu número de cartão de crédito), já que a conta da menina no CC Bill está inativa. O site é INÚTIL. Aliás, é pior que inútil — é capaz de assustar clientes em potencial.


[ SEGUNDO EDIT ] Todos sabemos que por melhor que seja o skill do artista, quando o cliente pede merda não há outra opção a não ser dar a ele a merda que ele pediu. Entretanto, não é o caso aqui. Este e este são sites feitos pela autora dessa merda que você viu aí. O próprio site dela é um layout pronto que ela alterou em quase nada, incluindo as imagens afirmando serem parte do portfólio da desenvolvedora — o que a meu ver chega a ser fraudulento.


CALCULE AGORA O NÍVEL DE PROFISSIONALISMO E SKILL DE QUEM FEZ O SITE DELA. Só consigo lembrar da ex-amiga dizendo que a empresa que ela contratou é SUPER PROFISSIONAL quando eu alertava-a de que qualquer pessoa que em 2013 se declare um “webmaster” não entende muito de internet.


Se eu soubesse que precisa saber tão pouco sobre design pra ganhar dinheiro com isso!


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Published on May 23, 2013 14:24
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Izzy Nobre
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