Directo ao assunto I
NOTAS SOBRE O FIM DE UM CICLO
1. O SINGULAR CASO DO CORVO. Esta insistência do Partido Socialista no tema do apoio do PSD à candidatura do PPM pelo círculo do Corvo, supostamente evidenciador das fragilidades adversárias, tem algo de cómico e muito de deprimente. Sejamos claros: a prevalência socialista no Corvo, ilha com 430 habitantes e lógicas eleitorais absolutamente particulares (tenho a certeza de que me perdoam o eufemismo), só significa que o PS se movimenta melhor em ambiente de caciquismo. Infelizmente para o PS, infelizmente para os Açores e, claro, infelizmente para o Corvo. Quem aparentemente manda ali nem sequer precisa de ser candidato ao que quer que seja. E, perante um cenário de tal grau de irrazoabilidade, só a introdução de algum pragmatismo poderá ajudar a conter danos. No interesse dos açorianos e, sobretudo, no interesse dos próprios corvinos, que assim dispõem de uma belíssima oportunidade para provarem que eu estou completamente errado. Oxalá esteja mesmo.
2. UM PLENÁRIO MORNINHO. A ver se eu percebi bem o que, na terça-feira, Sérgio Ávila disse no Parlamento. Os Açores pediram emprestados 135 milhões de euros, mas não porque precisem de dinheiro. Alienaram pelos próximos dez anos uma parte significativa da sua autonomia, mas não porque as contas da Região estejam descontroladas. Vão reduzir funcionários públicos e a respectiva massa salarial, mas não porque seja verdadeiramente necessário. É isso? Então, porquê? Porque pediram os Açores mais um empréstimo, ainda por cima a juros altos e implicando novos e dolorosos compromissos? Porque chegaram à conclusão de que tinham autonomia a mais? Pelo prazer retorcido de instalar o caos em mais uma série de famílias? Porque está na moda? Simplesmente porque podiam? Ou terá sido porque têm uma dívida pública acima dos 2,3 mil milhões de euros, incluindo quase mil milhões na Saúde, sector cujo orçamento para 2012, aliás, se esgotou ainda antes do Verão?
3. COMO VAI, SR. CONTENTE? O “exemplo de uma região social”, diz José Contente. Referir-se-á mesmo aos Açores? Ao líder nacional no consumo de álcool, na violência doméstica, no abuso sexual, na gravidez precoce, na mortalidade infantil, no analfabetismo, na pobreza persistente e no ritmo do crescimento do desemprego? É desse exemplo de “região social” que Contente fala sempre que inaugura uma obra? Lamento, mas não: ainda não é desta que eu vou começar a pactuar com a ausência destes indicadores no discurso político. Basta ir ao site do Instituto Nacional de Estatística para confirmá-lo: apesar dos milhares de milhões de euros de que Carlos César e Vasco Cordeiro dispuseram para investimentos ao longo destes 16 anos, os Açores continuam na cauda de quase todos rankings do desenvolvimento humano. Afinal, que obra social é essa que o PS deixa?
Textos políticos, Diário Insular, 7-9-12


