Os Açores em mudança


Tomei hoje conhecimento de alguns dos dados de uma sondagem segundo a qual Berta Cabral se prepara para vencer o sufrágio de Outubro por maioria relativa, mas confortável. Tendo em conta a dinâmica eleitoral dos Açores, incluindo a velha máxima segundo a qual quaisquer eleições disputadas no arquipélago durante o Outono se ganham sobretudo até 15 de Junho, é bom sinal.


Aparentemente – e quem conversa com os cidadãos anónimos e/ou confere as nomeações de colaboradores do actual Governo para empresas públicas não tem dificuldade em dá-lo por comprovado –, os açorianos perceberam que o que está agora em causa já é muito mais do que os partidos e, aliás, do que a própria política: é o resgate da Região a uma espiral de esquizofrenia marcada por 16 anos de poder em degradação persistente, de eleitoralismo desenfreado, de subsídios atribuídos à balda e de declínio da massa crítica das ilhas.


Enfim, os Açores – esses mesmo que resistiram a terramotos e tempestades, que rechaçaram invasores e pragas agrícolas, que se empenharam na solidificação de uma identidade comum e na concretização de uma autonomia política – estão novamente disponíveis para agarrarem o seu destino com as próprias mãos, para voltarem a cultivar os valores da cidadania, para fazerem as pazes com a ideia de bem comum. Depois de década e meia de ascensão acelerada em todos os piores rankings nacionais (o consumo de álcool, a violência doméstica, a gravidez precoce, o rendimento social de inserção), incluindo a liderança em vários deles – mas não, claro, no do rendimento médio das famílias, em que todos os anos lutam pela cauda da tabela –, trilham agora o caminho da mudança.


Em vez de um presidente, querem passar a ter uma presidente: Berta Cabral, social-democrata e líder da Câmara Municipal de Ponta Delgada. E querem também, aparentemente, que o exercício do poder seja negociado, nomeadamente através de um acordo pós-eleitoral entre o PSD e o CDS de Artur Lima. Outro bom sinal, visto que foi precisamente o CDS a viabilizar o melhor dos quatro governos do PS e de Carlos César: o primeiro, com vigência entre 1996 e 2000, assente numa maioria relativa e, ainda assim, capaz de cumprir uma legislatura inteira.


Pois que o PS, enquanto principal partido da oposição, saiba honrá-lo da mesma maneira que, quando foi chamado a isso, o PSD o fez. De resto, o futuro sorri. Há quantos anos, nos Açores, não era assim?

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Published on June 14, 2012 17:11
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