os vícios e a história

 


O escritor Iain Gately, que estudou Direito em Cambridge (UK), gosta de provocar teses sensíveis à saúde pública, com dados empíricos e muita pesquisa.


Em seu primeiro livro, A Cultural History of Alcohol, escreveu que os pileques dos nossos antepassados fariam os de hoje parecerem festinhas em conventos.


Desde que se descobriu que o álcool tem ação inibidora sobre neurônios dopaminérgicos do sistema límbico, o porre tem assento cativo na história do mundo ocidental e oriental.


No segundo, Tobacco: A Cultural History of How an Exotic Plant Seduced Civilization, prova que apesar de ser banido em todas as cidades, locais públicos e privados, a planta foi responsável pelo desenho geopolítico do mundo moderno.


Ingleses colonizaram a América para plantar tabaco.


Em 1612, graças ao colonizador John Rolfe, encontraram o que fazer em vasto território.


Ele trouxe mudas de tabaco, que começou a cultivar na recém-instalada colônia da Virgínia.


Rolfe se casou com a princesa índia Pocahontas. O Dia de Ação de Graças, em que colonos e índios fazem as pazes e assam um peru, ocorreu em fogueiras em torno de chácaras cercadas por plantações de tabaco.


 


Don Draper


 


Há anos que ele é “fonte” da revista SUPERINTERESSANTE, e mesmo assim seus livros continuam inéditos no Brasil.


Inalar fumaça é repulsivo para outros animais. Mas não entre nós.


E me lembro que conheci um casal refugiado da guerra em Sarajevo. Nadka, jornalista, e Deso, médico.


Contaram do drama de viver numa cidade sitiada e bombardeada diariamente. A única coisa que funcionava sem parar? Uma fábrica de cigarros nos subterrâneos de um conjunto habitacional.


Foi com a descoberta da América que o tabaco passou a rechear cigarros, cachimbos e charutos.


“Na América, diz ele, as folhas eram fumadas, cheiradas na forma de rapé (tabaco em pó), mascadas e até usadas como supositório. A principal razão para o consumo era mística: o tabaco permitia um contato com espíritos.”


Mas outras funções eram atribuídas a ele.


Efeito algésico e anti séptico eram indicados para dores de dente ou feridas. Marcava os eventos sociais, como as guerras.


O hábito era considerado uma selvageria. O navegador espanhol Rodrigo de Jerez, primeiro europeu a fumar, de volta à Europa, fumou em público e foi preso 3 anos. Colombo era contra a planta. Seus marinheiros, não.


O diplomata e médico Jean Nicot levou sementes para Catarina de Médici, rainha da Franca. Daí vem o nome Nicotiana. Em pouco tempo, virou remédio para tudo.


Em 50 anos, tinha até samurai no Oriente fumando.


Até no islamismo e países árabes, onde o álcool é proibido. foi liberada a sua circulação.


Na Espanha, a Tabacalera, indústria estatal que chegou a ter o maior prédio industrial do mundo, contratava ciganas para fabricar charutos. D|aí veio a associação tabaco – sexo.


No calor mediterrâneo, elas trabalhavam com poucas roupas, suadas, enrolando charutos entre as pernas.


Em 1880, com a invenção da máquina de fazer cigarros, James Buck Duke inovou o comércio e o marketing. Gastava 20% de seus lucros em propaganda.


Surgiu a American Tobacco Company, que Duke presidiu, e deu lucro até à agência Sterling Cooper Draper Pryce, de MADMEN


 



 


Quanto à birita, foi em 8000 a.C na China que o primeiro “mé” foi encontrado, um drinque de arroz, mel, uvas e cerejas fermentadas.


Os sumérios inventaram a “breja”, que a elite bebia com canudinhos de ouro.


É sabido que cada peão que erguia as pirâmides do Egito ganhava em média 5 litros de cerveja por dia.


Em qualquer achado arqueológico existem mais garrafas de bebida do que moedas. Tutancâmon, faraó da 18ª dinastia, foi sepultado com uma bela máscara de ouro e 26 jarras de vinho.


Os gregos tinham 60 variedades da bebida.


Os romanos passaram a produzir e distribuir em larga escala. Soldados romanos ofereciam vinho “de presente” aos inimigos, para dominá-los na ressaca.


Qualquer leitor de Asterix conhece o truque.


 



 


Sem fazer proselitismo, sabe-se que o alcoolismo é um grave problema de saúde pública.


Mas lembre-se que a bebida já foi considerada remédio, e que a revolução americana foi liderada por um fabricante de uísque, George Washington, que também plantava tabaco.


Sem contar que a Declaração da Independência foi escrita num boteco da Pensilvânia e que  Thomas Jefferson, signatário, era um fazendeiro de tabaco.


Se você conseguiu chegar até o final deste texto, beba com moderação. É bom lembrar, se for beber não dirija. E cigarro mata!

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Published on May 10, 2012 08:19
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Marcelo Rubens Paiva
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