Um astrólogo desesperado

Rodrigo Constantino

Como tenho muitos "amigos" em comum com o "filósofo" Olavo de Carvalho no Facebook, acabo sabendo que este senhor dedica boa parte de seu tempo para me atacar. Em mais um artigo em seu espaço no Diário do Comércio, Olavo começa logo me dando uma aula de português. Alguns leitores novos podem ter ficado perplexos com tanto esforço para detalhe tão insignificante. Mas eu explico.

É que Olavo é um sujeito muito vaidoso, tão vaidoso a ponto de estimular a reverência e idolatria de seus seguidores, os "olavetes", que tratam o "mestre" como uma espécie de profeta. Tamanha reverência patética (quem quiser ter uma idéia do nível da turma basta uma rápida visita no meu canal do YouTube) acabou afetando o "filósofo", que já tinha um ego gigantesco. E na época do "debate" no Orkut, eu cometi a ousadia de consertar um erro seu de português, quando ele disse "entre eu e você". O correto, como hoje ele deve ter aprendido, seria "entre mim e você". Essas coisas acontecem, ainda mais no calor de uma discussão. Desde então, entretanto, Olavo não perdoa este erro que apontei em público. Mas como não sou como ele, até agradeço pela aula de gramática. Confesso que escrevi com pressa, pois o tempo é escasso e valioso, como eu disse.

Noto que Olavo de Carvalho, como eu já esperava, vai continuar mendigando minha atenção até, quem sabe?, eu ocupar meu espaço no GLOBO para falar de sua pessoa. Sonhar é bom. Olavo, que já teve trabalhos razoavelmente importantes, foi ficando esquecido, esquecido, acusando conspirações da esquerda para a perda de seu espaço na grande imprensa, até lhe (acertei?) restar um programa (humorístico?) de rádio, repleto de palavrões que o autor confunde com argumento e masculinidade. Parece que ele invoca um santo no começo, e depois desanda a xingar todo mundo. Uma espécie de Bispo Macedo misturado com Walter Mercado. Ou seria Alborguetti?

Mas vamos ao raro conteúdo do texto novo, pois Olavo prefere focar bastante na forma (eu entendo, quando se está desesperado pela falta de argumentos, apela-se aos detalhes da escrita errada). Olavo acha que é afetação minha de superioridade falar que não lhe (acertei novamente?) dou muita atenção. Afinal, eu até chamei um personagem de um romance que escrevi (ainda não publicado) de Otávio de Ramalho, não é mesmo? Vamos aos fatos: Olavo foi solenemente ignorado por mim durante alguns anos, enquanto citava meu nome com frequência neste seu programa de rádio, como soube por terceiros (e em alguns casos fui checar, apenas para ver uma espécie de riso de hiena por trás do vídeo quando o "mestre" tascava um palavrão no ar - o que é aquilo?). Até que resolvi dar uma resposta.

Aqui cometi um erro que gostaria de reparar. Dei importância exagerada à influência de Olavo na direita brasileira, confesso. Ele mesmo apontou esta falha, e frisou sua completa insignificância (exagerando, por sua vez, a importância do Instituto Millenium e outras entidades do tipo). Mas deve ter sido um viés pela interseção enorme de "amigos" no Facebook. Eu realmente fiquei com a impressão de que Olavo ainda era uma voz influente em nossa parca direita. Por isso reagi. Além disso, sua postura na questão específica do aborto de fetos anencéfalos é exatamente a mesma dos evangélicos ignorantes, que ninguém vai negar enorme peso na política nacional. Logo, fiquei com a impressão de que os "olavetes" eram mais do que alguns gatos pingados que gostam de xingar os outros e idolatrar um guru ex-astrólogo, ex-marxista e agora sei lá o que.

Voltando ao Otávio de Ramalho, creio que Olavo terá de concluir que tenho certa obsessão por Marta Suplicy também. Explico. É que um dos personagens do livro é a mulher do trabalhador, e seu nome é Marta em homenagem a esta senhora petista. Não, eu não passo meus dias pensando nela. Tampouco tenho alguma tara oculta por sua pessoa. Era apenas alguém do lado de lá que eu usei como inspiração para a personagem. O mesmo vale para o padre. Virou Otávio de Ramalho pois é o tipo que conheço que invoca santos e apela para a religião nos debates. Confesso que para certas falas do personagem, a inspiração nem veio de Olavo, quem eu passei a ignorar por longo período, como já citado, mas sim de Nivaldo Cordeiro, colega meu de debate na Rede Liberal, e "olavete" fanático. Olavo nem mesmo leu meu livro, mas sabe exatamente, com base em uma frase minha, o que eu criei ali e qual o motivo psicológico disso (se ele fosse mesmo psicólogo, o CRP já teria confiscado sua carteira). É assim que funciona um embusteiro...

Mas entendo a alegria de Olavo por ter recebido esta homenagem. Se soubesse que teria esta reação, eu teria lhe (é isso mesmo?) contado antes. Ele, pelo visto, precisa de mais atenção da minha parte. Afinal, ele tem um dever "jornalístico" (isso foi piada?) de analisar o estado mental das classes influentes (eu não sabia que tinha esse peso todo, e o próprio Olavo, contradizendo-se, tenta me acusar de ter poucos seguidores, alegando que meu vídeo sobre sua pessoa só disparou quando ele o citou - o que é mentira). E fez tal análise, convenhamos, da mesma forma que fazia mapa astral antigamente. Ou seja, sem um pingo de responsabilidade e seriedade. Uma vez embusteiro, sempre embusteiro. Esse é Olavo de Carvalho, o ícone de uma ala (minoritária?) da nossa direita.

PS: Sobre eu depositar no estado o poder de decidir quando começa a vida e, portanto, não ser um liberal, já respondi aqui. Na verdade, é o Olavo quem quer que o estado diga que a vida humana começa na concepção, e quer isso com base em sua crença religiosa. Os países MAIS liberais adotam minha postura, enquanto as teocracias autoritárias adotam a dele. Mas ele insiste que tem a razão nesse ponto ainda, apelando para uma falácia escancarada.[image error]
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Published on May 10, 2012 04:43
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