Dando trabalho
Então.
Ando meio cansado. Meio não. Totalmente. 2022 tem sido um ano de merda (não, não pedirei desculpas pelo termo) e teima em não acabar.
Há alguns anos falei para amigos que iria sair das estatísticas de #emprego/desemprego. Simplesmente iria desistir de procurar. Obviamente todos me demoveram da ideia (boletos e a pensão do meu filho são argumentos muito mais contundentes, na real).
Só que o mundo corporativo devora corpos e almas e deixa só o bagaço. Vivemos numa cultura neolítica onde se você não está “pronto pro mercado”, você passa fome. Se você não faz o curso com o coach A ou tira a certificação B, passa fome. Se não fala as coisas bonitas e prazerosas, passa fome. É preciso ser feliz, conveniente, conveniente, simpático, jovem, bonito, branco, hétero e cis, ser dos 1%. Senão passa fome, fica pendurado num sistema de merda que te arrasta para as dívidas que você nem sabe se quer contrair.
Mas a máquina tá lá, tendo de girar e você precisa ficar 2h pendurado em conduções — mesmo podendo trabalhar à distância — , escutar bosta vomitada pelas chefias que realmente acreditam no esterco que falam.
Falam nada que sobreviva a dois minutos de escrutínio intelectual; nada que sobreviva a dez minutos de realidade nas ruas. Nada que não tenha sido escrito antes e melhor do que os livros regurgitados.
Bosta repastada.
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Defende-se o direito de quem já os tem em lotes (os donos do capital, da mídia, da tua ferramenta de produzir e falar para o mundo); defende-se o direito de ser mais achacado, aviltado e denegrido; o direito de ver seu amigo que não é padrão ser escorraçado e, quando ele reclama, debochar, falar que é “mimimi”. Defende-se acima de tudo o direito de ser estúpido. De negar o trabalho coletivo das ciências e tecnologias (as pessoas confundem as coisas; tecnologia é tudo, desde o fogo, pequenos gafanhotos). Em suma: defende-se tudo que não é a gente porque temos medo da diferença, do diferente.
“Ain, Zander… o que isso tem a ver com emprego e desemprego e você estar cansado?” Porra. Tem que desenhar?
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Tô velho. Sou bipolar. TDAH. Exausto de ter trabalhado desde os 14 anos e precisar trabalhar mais 14 para me aposentar. Exausto de pensar que certamente não chegarei na idade devida (e que várias empresas não pagaram o MEU DIREITO de INSS). Mas, sobretudo cansado de ler que as empresas são santas, são isentas de regulação, que a PORRA DO MERCADO se autorregula.
Meu caro. Não se regula. As única tendência constante — do mercantilismo até hoje — é o movimento pelo monopólio, ou, como é bonito falar hoje, tomar conta da cadeia produtiva de ponta-a-ponta. Truste. Cartel. Monopólios.
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Tá na hora da gente parar e pensar: Google ser um gigante beneficia a vida das pessoas? Idem pro Twitter, Meta outras ferramentas. Amazon ser um gigante melhorou a economia global? Mas melhorou mesmo? Quais os limites delas todas?
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Digo que estou cansado e escrevo textão. Provavelmente um suicídio de LinkedIn, mas foda-se.
Cansei.
A casa do Zander
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