#001177 – 22 de Novembro de 2022
Não me saberia defender numa rede social. Posts como alvos, dopamina e validação em ciclos sôfregos. Um avatar do tamanho de um leviatã, com o karma e o desejo, a frustração e o sonho todos do mundo, espremidos numa timeline. Não teria jeito, apetência nenhuma me resta. Os primeiros anos deste século passei-os em blogues e no email, quando estava online. Antes de a já existente aceleração se ter tonado numa vertigem. Agora compete-se pela atenção dos polegares. Uma imagem, um meme tem de ter impacto no primeiro segundo. Essa reação, esse impulso, entre a compulsão e o tédio, é efémera. Mas fica o alvo, o post, o texto, a imagem, com um registo de comentários, likes, retweets. O valor semântico da nossa presença humana online é vampirizado por algoritmos tão potentes como ignorantes. E, desprovidos de melhores ferramentas de empatia e compreensão, reagimos, como quem agride ou despreza. Quero-me longe. Não tenho jeito para isto. Sou um mau alvo, um péssimo atirador. Gosto do silêncio de um texto, do calor de um abraço, do som do riso.
Published on November 24, 2022 10:14