Carta dos sonhos
Voltei.
Sonhar, até tempos atrás, era uma impossibilidade. Só dormia quando exausto e acordava apressado. Sentia que ficara algo na cama (ideias, diálogos, desejos, gozos) e se perdiam no chuveiro ou na autoflagelação sexual matutina. O trânsito e o balançar dos coletivos embalava-me, mas as histórias das pessoas do meu entorno eram mais interessantes que os devaneios do sono.
(Às vezes conversava comigo mesmo, discutindo com pessoas que moram na minha memória. Revivia assuntos não resolvidos e os remoía até virarem farinha para a alma. Isso conta como sono?)
Hoje consigo acordar com o gosto de pessoas na boca. Ou a lembrança do peso de um corpo no meu colo. Normalmente é sede ou o gato que resolve se aninhar em mim. Não importa. A fantasia é mais importante. Sei que o real difere e mais excitante, não discuto isso. O ponto é o que sonhamos, o nosso desejo em forma e cores. Lembro pouco do que sonho, pouquíssimo. São mais as impressões e as presenças.
Hoje carrego um cansaço de sonhos vazios. Olho para os olhos que me encaravam com desejo e não consigo desejar de volta. Sei que aquilo ficou no mundo do Morfeu, que se desmancha em cinzas depois da primeira xícara de café. Fica só um laço, um elo que liga o sonhado com o vivido, o planejado com o concreto, o impossível e o improvável.
Amanhece. Rotina chama. Mal tenho forças para o café. E a gente vai.
eu volto!
A casa do Zander
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