APEX PREDATOR
A noite chega, silenciosa como sempre, e ponho-me em movimento a coberto das estrelas. Cubro a maior parte do meu extenso território de caça, de olhos e ouvidos alerta, sem encontrar aquilo que procuro. Decido, então, manter-me imóvel, até porque me sinto fatigado, e para tal escolho um local estrategicamente perfeito. É um ermo sombrio e abrigado de onde posso ver tudo sem ser visto. Não terá passado muito tempo, quando algo me chama a atenção. As folhas das árvores são fustigadas, não sem alguma violência, pela força do vento, que traz até mim um odor que me é familiar.
O cheiro de carne viva torna-se mais intenso, até que, por fim, a presa entra no meu campo de visão e eu posso comprovar que se trata de um belíssimo exemplar. Move-se com toda a inocência de um cordeiro a caminho do seu sacrifício. O vento está a seu favor, pelo que não será capaz de farejar o perigo até ser tarde demais. Aproxima-se de mim, de forma gradual. Sinto uma descarga de adrenalina e o meu coração encarrega-se de fornecer maiores quantidades de sangue aos meus músculos tensos. Arqueio o meu corpo delgado para a frente, com os meus membros inferiores flectidos de forma a darem-me o impulso necessário para me erguer do chão. É então que sinto a presa tão próxima de mim que posso ouvir a sua respiração. Precipito-me sobre ela, de garras e dentes à mostra, e em pleno voo parece-me poder escutar o seu sangue gelar-se-lhe nas veias.
Ante o seu espanto, ceifo-lhe a vida com um golpe limpo e certeiro na sua jugular palpitante. Com a sua carne tenra, asseguro a minha sobrevivência por mais uma noite.


