in YGGDRASIL, PROFECIA DO SANGUE - cap 25


VINTE E CINCO

Maria abriu os olhos reparando num tabuleiro com comida pousado na mesa à frente da cama. Sentou-se espreguiçando-se. Rhenan uma vez mais levantara-se, saindo do quarto sem que se apercebesse. O delicioso odor fê-la levantar-se. Comeu os ovos mexidos com queijo e pão de passas, bebendo o café com leite ainda quente, exactamente como gostava. Podia facilmente habituar-se àquelas mordomias, com a avó tinha sempre aqueles mimos. Naquele dia estava decidida a descobrir onde se escondiam os homens.Um suave bater na porta e Maeve espreitava.- Podemos entrar?- Tu e quem? – Maria olhava divertida.- Nós! - Deirdre entrou seguida da irmã, muito bem vestidas envergando as cores do Clã, maquilhadas e com jóias belíssimas.- Estão lindas. - Maria saltou da cama fascinada com a beleza daquelas mulheres - Esqueci-me de alguma coisa? Alguém faz anos?- Hoje, é realmente um dia muito especial. - Freya soava misteriosa observando-a com os olhos a brilhar. Maria começava a ficar nervosa com elas paradas à sua frente.Maeve abriu os pesados cortinados, brilhava um sol maravilhoso. - Já viste que dia lindo?- Que horas são? - Passa pouco das oito.- Oito? Não é um bocado cedo para estarem todas aperaltadas?- Hoje não! – Deirdre sorria.- Os vossos casacos têm a cor do Clã.- Só os usamos em acontecimentos importantes e felizmente hoje é um desses dias. Maria não aguentava tanta felicidade, podia jurar que ouvira Freya cantarolar, começavam a assustá-la. Levantou-se entrando na casa de banho. Demorou o dobro do tempo, lavou o cabelo com o shampoo com um delicioso odor a maçãs verdes, colocou gel no corpo, aproveitando para usar o máximo dos produtos de beleza que Maeve fizera tanta questão em oferecer-lhe.Maeve espreitou quando colocava óleo no corpo.- Despacha-te! Estás aí há uma hora.- Não me disseste que tínhamos o tempo contado.- E não temos, mas era bom se te despachasses enquanto há sol.Saiu embrulhada numa toalha com o cabelo molhado a pingar-lhe as costas, odiava sentir-se pressionada.- Deixa-me secar-te o cabelo.- Maeve larga-me, - afastou-se dela – ainda me consigo vestir sozinha. Mas afinal onde vamos?- É surpresa. - Para quem?- Para ti.- Para mim? - as mãos suavam, odiava surpresas - A Freya e a tua mãe?- Pedi-lhes para saírem estavam insuportáveis. - Estás a querer dizer-me que estás melhor?- Eu sou a calma personificada. Agora vê lá se aceleras antes que me dê um ataque de coração.- Tens razão, mais calma é impossível.Secou o cabelo enquanto Maeve andava impaciente pelo quarto, olhando através da janela, bufando. Era a primeira vez que a via assim.- Pára de sorrir Maria, estou a ver-te e sei que estás a fazer de propósito. O cabelo está excelente agora veste-te.- Não posso acreditar, também me escolheste a roupa?- Sim! Vais levar este vestido branco com esta lingerie. - Onde é que desencantaste o vestido? - Mas consegues fazer alguma coisa, sem ser preciso explicar?- Caso ainda não tenhas percebido não costumo usar vestidos e muito menos roupa interior como essa. – não se lembrava de ter comprado aquela lingerie, mas desconfiava que Maeve o fizera por ela - Para vestir isso mais vale ir nua.- Então vai, mas veste-te de uma vez.Maeve continuava a caminhar impaciente. Antes que tivesse um ataque de ansiedade Maria fez o que lhe pedia, admirando-se ao espelho sem se reconhecer. Maeve saltava como uma criança com uma boneca nova, abraçando-a. - Estás deslumbrante!Sentia-se como Maeve a via, resplandecente. O vestido era lindíssimo e parecia ter sido feito à sua medida. Branco pérola de corte direito até aos pés, as mangas ajustadas aos braços. Um par de sapatos do mesmo tom estavam pousados em cima da cama.- São para ti, oferta da minha mãe.- São lindíssimos, mas salto alto? Devias ter avisado a tua mãe que não me dou com saltos.- Diz-lhe tu!Maria torceu o nariz, tinha mesmo de agradecer e fazer um esforço para não cair.- Experimenta-os. – tinha finalmente conseguido calá-la.Maria calçou-os e apesar de terem salto davam-lhe um andar fantástico. Maeve ajudou-a a fazer uma maquilhagem muito suave em tons pastel realçando-lhe os olhos castanhos. Fez-lhe uma trança larga prendendo-lhe flores de jasmim a todo o comprimento. - Estás maravilhosa! - as lágrimas brilhavam nos seus olhos azuis. - É como me sinto, mas não me faças chorar ou estrago-te o trabalho.- São lágrimas de felicidade. - Eu sei, mesmo assim. – voltou a cabeça para observar o que Maeve lhe fizera ao cabelo – Adoro o penteado.- As flores são jasmim representam aquilo que és, luz. E vão dar-te amor e prosperidade. Freya e Deirdre observavam-na da porta emocionadas. - Estás linda. – Freya avançou para o interior do quarto - Quando o meu filho te vir… – ria-se divertida.- Fazes lembrar-me alguém. – Deirdre beijou Maria sorrindo para a irmã.- Começam a assustar-me, podem dizer-me onde vamos? Maeve empurrou Maria para fora do quarto seguida da mãe e da tia.Caminhavam em silêncio.  Ao cimo da escadaria Maria olhou para baixo ficando sem ar ao ver Lochan envergando kilt, com o cabelo revolto e os olhos a brilhar, sorrindo-lhe em sinal de aprovação. Desceu ao seu encontro. Lochan não conseguia parar de lhe sorrir estendendo-lhe a mão para a ajudar a descer os últimos degraus.- É hoje que te roubo ao meu irmão. És uma visão do paraíso. – admirava-a. Freya bateu ao de leve no ombro do filho trazendo-o de volta à realidade. Maria sorria, sentindo o rosto aquecer.   – Dás-me a honra de te levar? -  deu o braço a Maria.- Não sei para onde me levas, mas adoraria ir contigo. - estendeu a mão tomando-lhe o braço sem reparar na felicidade das mulheres - Estás fantástico, mas não deixes que a tua mãe nos ouça. - sussurrou-lhe.Lochan sorriu-lhe, pousando a mão livre sobre a que Maria mantinha no seu braço.Contornaram a casa seguidos por Maeve, Freya e Deirdre.- Sabes que tens umas pernas jeitosas?- Infelizmente é um drama para nós homens do Clã, somos lindos e bem feitos. – Lochan tentava manter um ar sério, mas não conseguiu evitar rir. - Esqueceste-te de humildes. – Maria continuava a achar que se iam fazer um picnic no jardim da propriedade, não era necessário irem tão bem vestidos – Onde vamos?- Se tiveres paciência descobres por ti mesma.Estavam perto do lago.- Chegámos! – Lochan sorria ao ver a cara do irmão, o modo como olhava para Maria.Eoghan e Fionn trocaram um ar cúmplice deliciados com a reacção de Rhenan quando Maria aparecera pelo braço do irmão.Parou boquiaberta com a imagem que se deparava à sua frente.Perto da água, tinha sido construída uma pérgula em Freixo entrançado com flores de jasmim a fecharem-na, conferindo-lhe uma sombra perfeita e um odor deslumbrante, naquele estranho e quente dia de Primavera. Maria sentia o calor do olhar de Rhenan, um misto de fascínio e desejo. Envergando kilt como os irmãos que o ladeavam, parecia um Deus. Compreendia finalmente o motivo do desaparecimento dos homens, estavam a preparar tudo para tornar aquele dia perfeito. O dia do seu casamento. - Se quiseres fugir ainda estás a tempo. – Lochan sussurrou-lhe ao ouvido olhando para o irmão com um sorriso matreiro.- Quero que me leves ao teu irmão. - apertou-lhe o braço olhando para ele emocionada - Obrigada por seres tu a entregar-me, não podia ser outra pessoa. – colocou-se em bicos dos pés beijando-o nos lábios.- Obrigado por o fazeres tão feliz. Maria sentia-se a personagem principal de uma história de encantar. Os irmãos juntos eram uma visão deslumbrante, altos, o mesmo cabelo escuro e os olhos de um azul que derretia. Não desviava os olhos de Rhenan, conseguia sentir a sua emoção, o desejo nos seus olhos. Imaginara-o de kilt, mas nem nos seus melhores sonhos o vira tão sedutor e irresistível. Queria atirar-se nos seus braços e jurar-lhe amor eterno, mas ainda tinha de chegar perto dele sem tropeçar. Lochan segurava-a firmemente sorrindo para o irmão, beijando-a antes de a entregar. - É toda tua, mano!Rhenan esticou-lhe o braço num cumprimento de guerreiros, sem tirar os olhos de Maria. - Go raibh maith agat deartháir!- Que assim seja! – Maria ouviu-se dizer aquelas palavras que a família repetia.Rhenan abraçou-a, beijando-a, selando a promessa que lhe fazia.Os irmãos gritavam de felicidade rodeando-os. Obrigando Rhenan a largar Maria entre fortes e sonoros abraços. Beijando-a em sinal de respeito, era oficialmente uma MacCumhaill.- Cunhadinha, - Fionn abraçou-a - ainda pensei raptar-te, estás radiosa. - Não tinhas hipóteses, meu! Se eu que sou uma cópia viva do nosso irmão não consegui, eras logo tu, ranhoso. – Lochan socou o irmão no braço.Rhenan beijava a mãe e a tia sem tirar os olhos de Maria, era finalmente sua mulher.Maeve dançava, era um dia perfeito.A família crescia e com Maria as suas esperanças.- Quero que saibas como estamos felizes, o meu filho não podia ter escolhido melhor. – Freya limpava uma teimosa lágrima de felicidade - Vamos celebrar. Voltaram-se, caminhando de regresso a casa.- Esperamos-vos lá dentro. - Eoghan encaminhou a família à sua frente piscando-lhes o olho.Maria abraçava Rhenan. - Então era para aqui que vinham todos os dias. Adorei a surpresa e tudo o que disseste.- Mo ghrá! Sinto que te amo desde o início dos tempos, que te conheço há muito. Tenho-me aguentado para não gritar que te pertenço e que és minha. Hoje finalmente pude fazê-lo. - És só meu?- Sempre fui. Nunca amei até te conhecer e as promessas que te fiz são para manter enquanto viver.- Então são para sempre. Mas terás de mo provar mais tarde.- Posso provar-to já!- Aqui? E se alguém aparece?- O Eoghan não deixa. – Rhenan ria-se divertido.- És doido!- Sou, por ti! - arrastou-a para debaixo da pérgula para ficarem longe do sol.- Só uma questão.- Maria vais mesmo fazer-me perguntas agora?- Tens alguma coisa vestida debaixo dessa linda saia?- Eu dou-te a saia, anda cá que te mostro o que tenho por baixo. Ria-se deliciada quando Rhenan a puxava para si, sem perceber como a conseguira despir tão depressa. Tinha de dar razão a Maeve e lembrar-se de lhe agradecer por a ter obrigado a vestir a lingerie, ao vê-lo perder a respiração, com o corpo a reagir.- Linda! – sussurrava com a voz rouca. Desfez-lhe a trança passando-lhe os dedos pelo cabelo sentindo o seu odor – Enlouqueces-me mulher.        Desfez o kilt atirando-o para o chão onde a deitou. Rhenan olhava para Maria, era como um quadro que a Deusa tivesse pintado, o seu corpo alvo, os cabelos cor de oiro, os lábios inchados dos seus beijos, os mamilos intumescidos de desejo, o ondular da sua barriga ansiando o seu toque. Deitou-se sobre ela amando-a como se o mundo fosse acabar.No céu apareciam nuvens que em breve tapariam o sol, ambos sabiam que estava na hora de regressar.- Já percebi para que serve o kilt, é assim uma espécie de cama ambulante.- Entre outras coisas.- Quantas deitaste nesta cama?- Só tu!Maria deu-lhe um murro no braço enquanto se sentava. - A partir de hoje estás proibido de falares de outras mulheres, nem sequer podes pensar nelas.Rhenan abraçou-a puxando-a para cima do peito, beijando-a.- Não penses que te safas com beijos. – ria-se feliz.- O que fiz antes de te conhecer é como se nunca tivesse acontecido. Comecei a viver quando te vi. Acredita.- Acredito. – Maria beijou-lhe a ponta do nariz.- Vamos para dentro mo ghrá! Antes que aquelas nuvens tapem o sol ou um dos meus irmãos nos venha chamar.Maria levantou-se de um salto, o pensamento de a poderem ver nua fê-la vestir-se em menos de um segundo.- Tem calma, - Rhenan ria-se divertido, deitado observando-a - mesmo que nos vissem não estávamos a fazer nada reprovável.- Pois não, mas acredita que não me apetecia ser apanhada pela tua mãe ou um dos teus irmãos. Ajuda-me a apertar o vestido.- Anda cá. – levantou-se passando-lhe as mãos ao longo das costas - Fica-te muito bem. Estás radiosa.- Onde o arranjaram tão depressa?- Era da minha mãe. Maria abriu os olhos espantada.- Não o estraguei, pois não? - Está perfeito.- A tua mãe emprestou-me o vestido dela?- Mo ghrá! A minha mãe ofereceu-to.- Mas era dela.- E agora é teu e mais tarde se quiseres será da mulher do nosso filho. Maria abraçou-o encostando a cabeça ao seu peito.Rhenan segurou-lhe na cara, queria guardar na sua memória todos os pormenores do dia mais feliz da sua vida. - Agora vou levar-te para casa como um verdadeiro guerreiro. – acabava de prender o kilt – Segurou Maria, atirando-a por cima do ombro gritando um clamor de vitória como faria depois de uma batalha. Entrou em casa empurrando a porta com o pé. Maria ria-se divertida, Rhenan gritou pousando-a, os irmãos responderam-lhe lançando as mãos ao ar. Antes de ter tempo de agradecer a Freya já os irmãos a puxavam para dançar. Rhenan e Eoghan dançavam frente a frente, parecia uma luta entre os dois apesar de não se tocarem.Quando Maria conseguiu finalmente libertar-se dos braços dos homens sentou-se ao lado de Freya.- Queria agradecer-lhe por sentir que sou digna de usar o seu vestido.Freya segurou-lhe as mãos.- Dei-to com todo o meu amor, assim como te entrego o meu filho. Sei quanto o amas e ele a ti. Sinto-me honrada por o teres vestido naquele que será o primeiro dia do início da tua nova vida. Levantaram-se de mãos dadas, rodando à volta da mesa onde Rhenan e Eoghan continuavam a dançar, agradeciam mantendo a tradição druídica desde o início dos tempos fazendo a roda da vida girar.Maria não conhecia metade dos pratos colocados sobre a mesa. Beberam hidromel, comeram fiskstuvad i öl



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Published on April 10, 2020 02:00
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