Capítulo 3: o monstro que habita a minha cabeça

In.fe.ri.o.ri.zar


Diminuir o valor, a importância de (algo, alguém ou si mesmo); apoucar(-se), rebaixar(-se).


Há um ser que habita a minha cabeça. Não sei bem como ele é nem que forma tem, só sei que ele é naturalmente pequeno. Digo “naturalmente” porque algumas horas eu o ajudo a crescer, e ele fica maior do que qualquer coisa, maior do que a minha consciência, do que a minha autoestima. Mas ele é naturalmente pequeno. Eu simplesmente sei.


Ele se fez presente em alguns momentos importantes, sempre pensando com a minha cabeça: “Você não vai conseguir”, “Você não é boa o suficiente”, “Você não serve para nada”. E eu acreditava em cada palavra, alimentava o monstrinho com as minhas lágrimas de desespero, o que o aumentava mais e mais.


Como foi difícil escolher uma faculdade, uma profissão, tão nova e com tantas dúvidas. Nessa época ele se alimentou bastante da minha desconfiança em mim mesma. Como foi difícil namorar sentindo tantas inseguranças – obviamente todas as outras garotas eram melhores que eu, então por que alguém em sã consciência iria querer ficar comigo? É claro que os namoros duraram tanto quanto a minha incrível autoestima na época – ou seja, bem pouco.


Mas não é que apareceu um doido insistindo que ele me queria, sim? Achei que assim que ele presenciasse a ação do monstro iria desistir, como todos os outros. Mas ele simplesmente pegou uma espada (hehe, brincadeirinha!) repeliu o monstro quando “deparou” com ele pela primeira vez. “Por que se sentir insegura se você é incrível?” “É claro que você tem capacidade de arranjar um estágio mesmo sem ter trabalhado antes.” Mais tarde ele disse uma que fez o monstro diminuir a um nível quase microscópico: “Eu acredito em você.”


Gostaria de dizer que depois disso o monstro sumiu e eu vivi feliz para sempre com a minha recém-adquirida autoestima, mas é claro que isso não aconteceu. Eu sei que ele ainda está aqui. E sei que continuo alimentando-o algumas vezes.


No ano passado viajei sozinha pela primeira vez para um país que não falava a minha língua. Assim que cheguei, me perdi um pouco para encontrar o hostel, e aí ele veio com tudo: “O que você estava pensando? Viajar sozinha? E você por acaso vai conseguir se virar sozinha aqui?”


Mas minha nova tática é derrotar o monstro por conta própria. Porque é isso que deveríamos fazer em primeiro lugar. É legal ter alguém ao seu lado disposto a combatê-lo, mas e se esse alguém não existisse? E se ele tivesse desistido, assim como os outros fizeram?


Então eu fui e dei um petelequinho mental no monstro.


E depois eu consegui achar o hostel, sim. Consegui me virar, sim. Fui compreendida e me fiz entender, sim. E foi a viagem mais incrível que já fiz na vida.


O monstro também adora opinar sobre meus textos. Nenhum dos assuntos que eu penso em escrever são bons o suficiente para realmente serem compartilhados. Então nada melhor do que escrever sobre o próprio. [Por essa você não esperava, né?]


No meu placar mental eu acabei de fazer mais um gol contra o monstro e tem várias Renatinhas defendendo o meu lado do campo. Ele até pode conseguir passar, mas, olha… não vai mais fazer gol aqui não. Tem muitas eus me defendendo agora.


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Published on July 30, 2017 18:59
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