date

você colocou sua mão na minha, eu quis tirar


minha mão uma flor


esquecida, entre escombros, você alisou a pele


não estou pronta, tentei te dizer


mas saiu outra frase, saiu algo como


já estive aqui, uma vez.


sinto vergonha


do jeito que meus dedos se arredondam em formas humanas, meus ossos, e você me olhando para além do que sou sem nunca me ver, eu também não te vejo, mal vejo a mesa em que estamos, os pés se esbarram, será que estou com o sapato certo? será que,


 


chegou a lagosta


 


não sei


comer lagosta.


-eu te ensino,


 


suas mãos.


 


penso o tempo todo


nas impressões que te causo, queria viver, simplesmente, assistir nunca mais. você me pergunta


sobre o meu trabalho, respondo que


bom, faço o que posso.


mas você gosta?


claro e


mudo de assunto, comento do vinho, você lida em silêncio com o fato de eu não estar sendo cem por cento sincera


e quem está? sendo cem por cento sincero,


você segue


em silêncio


parece quase triste


eu não devia ter aceitado esse encontro, onde eu estava com a cabeça? me conheço o suficiente para saber que não mudei uma vírgula e então te escuto dizendo você é muito dura consigo mesma, por que?


ah, meu amor.


você devia passar uma tarde


lá em casa


com a senhora minha mãe


mas achei melhor dar outro tipo de resposta menos íntima


até porque


não vamos passar dessa janta, então eu disse


 


-como? não entendi.


-nada, esquece.


 


e eu já sentindo saudades do que nunca tive com você,


em algum universo paralelo e se eu evoluísse muito, acredito que nosso encontro poderia se estender pelos anos, só não estou conseguindo passar dessa noite, quem dera eu passasse


você pediu a conta.


sua mão está longe agora, a minha


está na perna


ainda dá tempo de


fazê-la voar


até você, vamos, que em breve será tarde, a mão a coisa mais pesada, não sai do lugar, não sai.


 

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Published on September 20, 2018 13:01
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Aline Bei's Blog

Aline Bei
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