erico veríssimo tradutor

Curiosamente, embora Erico Veríssimo seja um dos maiores autores brasileiros e exista fartíssimo material sobre sua vida e obra, os dados circulantes sobre sua produção tradutória não raro são incompletos e por vezes até trazem alguns equívocos e imprecisões.
Abaixo apresento em ordem cronológica o que consegui reconstituir a partir de fontes variadas, tanto primárias quanto secundárias:
O sineiro, de Edgar Wallace, 1931 (Coleção Amarela, vol. 3)
O homem sinistro, de Edgar Wallace, 1931 (Coleção Amarela, vol. 6)
Alemanha: fascista ou soviética?, de H.R. Knickerbocker, 1932
O mistério da escada circular, de M. R. Rinehart, 1932 (Coleção Amarela, vol. 11)
Na pista do alfinete novo, de Edgar Wallace, 1933 (Coleção Amarela, vol. 24)
Classe 1902, de Ernst Glaeser, 1933
Contraponto, de Aldous Huxley, 1934 (em 2 vols.)
A morte mora em Chicago, de Edgar Wallace, 1934 (Coleção Amarela, vol. 34)1
A filha de Fu-Manchu, de Sax Rohmer, 1935 (Coleção Amarela, vol. 36)
A cobra amarela, de Edgar Wallace, 1936 (Coleção Amarela, vol. 41)2
A vida começa aos quarenta, de Walter Pitkin, 1936
Navios - e de como eles singraram os sete mares, de H. van Loon, 1936
A guerra secreta pelo algodão, de Anton Zischka, 1936 (com Othmar Krausneck)
“O sorriso da Gioconda”, de Aldous Huxley, in A Novela, n. 5, fev. 1937
E agora, seu moço?, de Hans Fallada, 1937
“História de Anandi, a vaishnavi”, de Rabindranath Tagore, in A Novela, n. 19, abr. 19383
Três titãs - Miguel Ângelo, Rembrandt, Beethoven, de Emil Ludwig, 1939
Felicidade, de Katherine Mansfield, 19404
Não estamos sós, de James Hilton, 1940
Adeus, Mr. Chips, de James Hilton, 1940
Ratos e homens, de John Steinbeck, 1940
O homem e a técnica, de Oswald Spengler, Meridiano, 19415
O retrato de Jennie, de Robert Nathan, Meridiano, 1942
Mas não se mata cavalo?, de Horace McCoy, 1947
Maquiavel e a dama, de Somerset Maugham, 1948
1 Relançado em 1969 pela Cultrix com o título de A lei do chefão.
2 Para a Coleção Amarela, como se vê, Erico Veríssimo fez sete traduções, de 1931 a 1936. Premido por outras tarefas, como diretor da Revista do Globo, “conselheiro literário” de Bertaso na editora, dedicando-se a traduções de mais fôlego e, sobretudo, com o deslanche de sua obra própria, Veríssimo encerra suas contribuições como tradutor para a Coleção Amarela em 1936.
3 Outra curiosidade é a menção de Erico Veríssimo a Tagore, em suas memórias Solo de clarineta: “Eu lia e traduzia Rabindranath Tagore. Vejo agora aqui a meu lado, tirada do fundo duma gaveta quase esquecida, uma tradução que fiz de passagens do livro Pássaros Extraviados”.
4 Felicidade foi o primeiro lançamento de Mansfield em livro no Brasil, enfeixando catorze contos. Seis desses contos traduzidos por Veríssimo já haviam sido publicados antes, em A Novela e na Revista do Globo. Vale notar que foi ele quem introduziu Mansfield entre nós, escolhendo-a para integrar o lançamento do primeiro número de A Novela, a revista literária da Livraria Globo, com o conto “A lição de música”. Antes da publicação da antologia completa Felicidade em 1940, saíram quatro contos da autora em A Novela, em sua breve existência de 1936 a 1938, e outros dois na Revista do Globo em 1939, a saber: “A lição de música”, “Seis pence”, “O dia de Mr. Reginald Peacock”, “A jovem governanta”, “Psicologia” e “Seu primeiro baile”.
5 A Edições Meridiano foi um braço editorial criado pela Globo em 1941, com efêmera existência até 1943. Sua Coleção Tucano, pela qual saiu em 1942 O retrato de Jennie, foi absorvida pela Globo após o encerramento da Meridiano. Assim, Mas não se mata cavalo?, de 1947, saiu como volume 25 da coleção, já pela própria Globo. Diga-se de passagem que José Otávio Bertaso apresenta uma explicação extremamente implausível para a criação da Edições Meridiano em seu A Globo da rua da Praia.
Alguns equívocos repetidos com certa frequência merecem ser retificados. O primeiro equívoco a ser desfeito é o seguinte: O círculo vermelho e A porta das sete chaves, ambos de Edgar Wallace, publicados respectivamente como volume 1 e volume 2 da Coleção Amarela (1931), teriam sido traduzidos por Erico Veríssimo. A informação não procede. O círculo vermelho foi traduzido pelo autor regionalista gaúcho Darcy Azambuja, e A porta das sete chaves por Pedro Bruno Dischinger. A fonte desse equívoco, até onde conseguimos apurar,encontra-se em“Memória seletiva: O tempo e os ventos”, uma cronologia biográfica publicada no número 16 dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, de novembro de 2003, em número dedicado a Erico Veríssimo, atualmente reproduzida na biografia constante no Memorial do Centro Cultural Erico Veríssimo (CCCEV).:
1931 A Seção Editora da Livraria do Globo lança a primeira tradução de Erico, O sineiro, de Edgar Wallace. No mesmo ano, traduz desse escritor O círculo vermelho e A porta das sete chaves (CADERNOS 16:10).Na cronologia não consta o nome do autor dos verbetes nem do organizador dos dados, e tampouco qualquer referência às fontes utilizadas. Após várias diligências e consultas a diversas pessoas, obtivemos em correspondência pessoal com a pesquisadora e docente Maria da Gloria Bordini, responsável à época por encaminhar aos coordenadores da edição do IMS os materiais provenientes do Rio Grande do Sul, a confirmação de que houve um engano e que as atribuições corretas são, de fato, as que constam na página de rosto das obras citadas: a tradução d’O círculo vermelho é, como dissemos, de Darcy Azambuja; a d’A porta de sete chaves é de Pedro Bruno Dischinger. O equívoco é tanto mais grave, não só porque não há registro de qualquer fonte primária ou mesmo secundária que abalizasse a inverossímil asserção publicada no Caderno do IMS, mas porque ao longo dos anos ela tem sido acriticamente reproduzida nos mais variados estudos, teses, artigos e pesquisas, sempre remetendo direta ou indiretamente, explícita ou implicitamente, ao citado Caderno.
Mais grave, porém, e de abrangência muito maior é o grosseiro equívoco de que “Gilberto Miranda” seria o pseudônimo usado por Erico Veríssimo em várias de suas traduções.Na verdade, como explica o próprio Verissimo em Um certo Henrique Bertaso:
Até hoje de vez em quando alguém nos pergunta quem é Gilberto Miranda, que há tanto tempo trabalha para a Globo. Ora, trata-se duma “personalidade de conveniência”que inventei, uma espécie de factótum literário. Se uma equipe anônima organiza um livro ou escreve um ensaio e precisamos dum nome para aparecer como autor dessas tarefas, convocamos Gilberto Miranda, que assim tem sido, além de tradutor, especialista em crítica literária, modas femininas e masculinas, trabalhos manuais, política internacional, história natural, psicologia etc., etc. (2011: 50)É a partir de 1936, com a tradução de Piratas modernos, de Hans Dominik, como volume 20 da Coleção Universo, que surge a mítica figura de "Gilberto Miranda". aquela “espécie de factótum literário” que designava um improvisado grupo variável de pessoas fazendo talvez às pressas ou dividindo em várias partes qualquer tarefa urgente ou desatendida. Aliás, é interessante notar que, em várias das traduções assinadas por essa "personalidade de conveniência", consta também o nome de outro tradutor, este sim de carne e osso. A hipótese que me parece mais plausível, nesses casos, é a de algum atraso ou eventual desistência do real encarregado pela tarefa, a qual, então, teria sido finalizada por alguma "equipe anônima" da editora ou alguns colaboradores externos convocados às pressas.
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Published on July 25, 2018 17:47
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