Brasileiro pode sim não torcer na Copa
Muitos se chocam com a falta de interesse da maioria de brasileiros pela Copa do Mundo (53%, segundo Datafolha).
Eu vou torcer.
E ver todos os jogos.
Se a Seleção for desclassificada, continuarei vendo.
O futebol é mágico, já parou guerras, mas é um direito justo não torcer.
Estranho era, antes, aquela unanimidade artificial: todos juntos em ação, pra frente Brasil.
É um direito não gostar de futebol.
Não querer se envolver, se decepcionar, sofrer, torcer, acompanhar.
É justa a decepção com a Seleção.
Pode sim não torcer na Copa. Não é obrigado a pintar a rua de verde amarelo, colocar bandeirinhas na fiação, decorar a casa ou o carro com bandeiras, pintar a cara.
É justo não se identificar com os heróis da ostentação, comandado por dirigentes indiciados, corruptos, presos, envolvidos na hipocrisia que dita que o importante é competir.
Se o importante é competir, por que falamos rumo ao penta, ao tetra, ao hexa, e não simplesmente rumo a uma boa competição?
Se é, por que chegar num digno segundo lugar, como na Copa de 1950, representa a maior e mais traumática derrota nacional, junto com o 7 x 1.
Se é, por que chegar num digno segundo lugar, como na Copa de 1998, na França, deu até em CPI?
É um direito dizer “sou brasileiro, sem orgulho”, trata-se de um dos países mais retrógados e conservadores em direitos fundamentais, em que teses progressistas são barradas por uma classe política não laica.
É digno admirar outras culturas, outros países, outras etnias, outras religiões, torcer por outro futebol.
É justo não cair na empáfia global, detestar anúncios de patrocinadores, que exaltam um nacionalismo que beira a histeria.
É justo querer distância do ufanismo dos que pagam para colar sua marca no rastro de um time de futebol.
Copa é a pátria? Não. É uma competição.
A pátria de fato é um estado nação desigual e socialmente injusta, violenta e corrupta, instável e rica, sem solucionar sua pobreza.
É um direito torcer, se quiser, para outra seleção.
Minha avó, nascida em Modena, que veio ao Brasil com 5 anos, torcia para a Azurra (Itália).
Num país de maioria descendente de todos os cantos do planeta, é justo querer torcer pelo país de origem, o país dos pais, dos avôs.
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