A incalculável preguiça do homem moderno


Lembra de A Rede, com a Sandra Bullock? Eu só vi o filme uma vez, quando era moleque, mas ele causou uma impressão imensa em mim. Muito do que a Angela Bennett1Descobri hoje aliás que tem uma pessoa real com esse nome. fazia atrabés da internet no filme (trabalhar, comprar passagem aérea, jogar com os amigos e ser vítima de crimes) veio a se tornar lugar comum no mundo atual. Só que tem UMA coisa que ela fazia que eu, mesmo sendo um incorrigível viciado na rede, não havia adquirido como hábito ainda.


Comprar comida. Logo no começo do filme, a Angela despista o convite de um maluco que a chama pra jantar dizendo que “já tem planos”, e prossegue a pedir uma pizza no incrivelmente inexistente “Pizza.net”.


Num mundo em que “ah, todos os domínios já estão sendo usados!” é tào lugar comum, a parte menos verossímil do filme é o fato de que esse endereço tão óbvio está ainda disponível


Não lembro se ela faz compras no supermercado através da internet também, mas considerando o quão eremita a mulher é, preciso supor que é o caso. Fiz compras online uma única vez, e foi uma excelente experiência, e por motivos que realmente não consigo explicar voltei imediatamente a frequentar supermercado à moda antiga. Igual um cachorro que faz um truque bacana, recebe um quitute, e aí NUNCA MAIS repete o truque. Ou seja, eu sou tão racional como um cachorro semi-treinado.


Como eu vivo numa prisão mentalmente agonizante de trabalho nonstop, 2Não é brincadeira. Eu trabalho aproximadamente 16 horas por dia, todo santo dia. Tô prestes a ficar louco. meu tempo é escassíssimo, e a idéia de fazer compras do conforto do meu escritório se tornou ainda mais tentador. Então, fui ao site do Walmart e comecei a encher o carrinho virtual.



A conveniência máxima seria se o Walmart aqui perto entregasse a comida aqui na porta de casa, pra que eu pudesse viver o sonho de limitar minha interação com seres humanos ao mínimo necessário. Infelizmente — ou talvez eu que seja burrildo mesmo e não encontre a opção disso na página –, esse Walmart aqui da esquina só permite o “pick up”, ou seja, tu seleciona tudo, eles empacotam pra você, e você pinta lá algumas horas mais tarde pra pegar suas tralhas.


Embora ainda seja um saco ter que descer no estacionamento, tirar o carro, e ir até a loja, e subir de volta pro apartamento com oitocentas caixas de frango e sucrilhos, o sistema de compra online adianta em MUITO a minha vida. Eu vou só clicando em ADD TO CART nos itens desejados, em vez de ficar andando a esmo pelos corredores do Walmart, tentando futilmente lembrar de itens que eu esqueci de incluir na lista (e de quebra, comprando erroneamente vários itens supérfluos que eu esqueci que já tinha em casa).


Tava achando que era exagero né?


A propósito, creio que isso aí não é comum no Brasil. É uma espécie xaropinho pra deixar a água com sabor, com muito menos calorias do que suco ou refrigerante teria (zero, pra ser específico).


Inclusive seria importante ressaltar aqui que se você que acha que tá sendo super saudável substituindo refrigerante por suco — é por isso que tu vai continuar gordo pra sempre. Suco e refrigerante, no que diz respeito a calorias, são quase indistinguíveis.


Então. Tô aqui alegremente enchendo o carrinho virtual do Walmart, quando começo a me incomodar com o exercício de levantar do computador do escritório pra inspecionar a dispensa, procurando itens que estão em falta, ou próximos a acabar. É uma caminhada de 3.8 segundos, acho que não dá nem 10 passos completos, e ainda assim, isso começou a me encher o saco, e fiquei curioso pra saber se o Walmart tem um app pro iPhone pra que eu possa fazer as compras da forma mais conveniente possível, estando diretamente na frente da dispensa/geladeira.


Pra você ver como as coisas são. É uma ferramenta que eu negligenciei por anos, e agora FINALMENTE estou usando — ou seja, pra mim é como se ela nem existisse antes, e agora do nada essa função se materializou na minha frente, reduzindo demais o tempo que eu gastava num afazer doméstico, me possibilitando até mesmo fazer compras enquanto executo outras tarefas (estou neste EXATO momento finalizando o thumbnail de um vídeo, editando outro, e gravando um podcast ao mesmo tempo).


É um negócio novo, e maravilhoso, e em questão de minutos eu já estou botando defeitos e achando que não é bom o bastante.


Isso me lembra essa entrevista do Louie CK com o Conan O’Brien, em que o primeiro explica a situação do primeiro vôo que ele pegou com wifi, que era super novidade na época. O serviço deu pau, e os passageiros começaram a chilicar — sendo que o esperado era nem ter wifi porra nenhuma.



Eu não sei o que está sendo maior neste meu caso, a preguiça de ir até a cozinha ver os itens que me faltam, ou a ingratidão de reconhecer o quanto a internet facilita nossa vida. O que eu sei é que preciso voltar ao estado de espírito em que QUALQUER novidade tecnológica me maravilha.


Lembra o fascínio de quando você descobriu que podia jogar qualquer jogo de SNES no seu computador? O mundo era mais mágico naquela época.


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Published on March 19, 2018 11:21
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Izzy Nobre
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