Escrever e rever


Manuscrito de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", José Saramago, visto neste blogue.





Um/a escritor/a passa mais tempo a rever aquilo que escreve do que propriamente a escrever. Claro que as editoras têm revisores profissionais, mas é impensável para um/a autor/a (ou devia ser) enviar um original para publicação sem lhe ter dado várias voltas. Eu dou imensas voltas aos meus textos. E por vezes penso que gosto mais de rever do que de escrever!



Escrever é bom, claro, alivia poder despejar as ideias que temos na cabeça, as ideias que temos medo de perder. Mas também é muito cansativo. Se há ideias que nos saem sem esforço (e até se atropelam, daí o medo de perder alguma), há coisas que dão imenso trabalho, como, por exemplo, encontrar ligações entre diferentes partes do enredo, ou encontrar maneira de tornar certa cena mais verosímil.



Rever, por outro lado, é mais relaxante. Ter o texto escrito à minha frente tira-me um grande peso dos ombros, imagino que estou a ler algo escrito por outra pessoa e a corrigir o que me parece mal, cenas infelizes, diálogos supérfluos, por aí fora. Sinto-me livre para criticar e torcer o nariz. E quantas vezes as melhores ideias me surgem na revisão, ao dar coerência àquilo que está mal alinhavado...



Talvez a maior dificuldade seja encontrar uma altura em que chega de revisões. Há quem ache que até se corre o perigo de estragar, em vez de melhorar. Quando essa dúvida nos surge em relação a uma frase, um parágrafo ou uma passagem, talvez seja melhor não lhe mexer, deixar passar algum tempo e tornar ao local. Por outro lado, se nos dá uma vontade espontânea de corrigir algo, é melhor fazê-lo!



Guardar o original durante uns meses, sem lhe tocar, também ajuda. Ganhamos-lhe distância e as fraquezas saltam-nos à vista com mais facilidade.






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Published on November 21, 2017 02:38
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