Viajar é uma merda
Já posso até ver. Você, um viajólogo de carteirinha, está com o cu em chamas revoltado com a idéia de que um blogueiro gordo do Canadá ousou falar que viajar é uma merda. Mas passa uma pomada aí e deixa pelo menos eu explicar.
CHEGAR NO LOCAL PRA ONDE VOCÊ VIAJOU É MASSA. Rever amigos e família, conhecer um local completamente novo, repleto de gente nova, e ver o quão grandão esse planeta é de fato, ficar em hoteis legais e não se preocupar em comer Cream Cracker na cama ou mijar na pia já que todo dia alguém vai lá e colocar o quarto de volta em condições propícias pra habitação humana… isso tudo é muito bacana.
Mas a viagem em si, meu amigo, a viagem em si é uma bosta.
Talvez eu seja suspeito pra falar isso, porque minhas viagens recentes foram aquelas que faz o sujeito nunca mais querer pisar num avião na vida. A ida pro Brasil de Calgary é um traslado de quase VINTE HORAS, (Calgary-Houston-Guarulhos/Galeão), boa parte delas passadas dentro de um cilindro voador pressurizado com uma mistura gasosa de 60% de nitrogênio, 20% de oxigênio, e 100% de peidos e CC reciclado.
Seja lá quem realmente inventou essa merda — nunca vamos convencer os gringos, e há de fato indícios que os Wright foram os primeiros, então f0da-se –, eu não imagino que o sujeito tinha em mente alguém passar tanto tempo dentro de um avião. Você já viu o que eram os primeiros aviões? Eram bicicletas com asas que passavam 10 minutos se arrastando pelo ar. Aquilo devia ser até divertido.
Se comprimir ao menor volume que seu corpo é capaz de ocupar numa cadeira desconfortável, tendo que esperar sua vez de usar o banheiro como se fosse um presidiário, comendo uma gororoba que mais parece o tipo de mixaria culinária que sindicalistas ganham pra constar como extras em manifestações políticas… eu duvido que era isso que os malucos tinham em mente. Eles estavam inventando uma asa delta motorizada basicamente, mermão. Era só pra curtir um barato mesmo, não pra passar 8 horas enfurnado naquela merda.
E olha que as coisas melhoraram pra caralho de quando eu era moleque, o que mostra que os confortos que acumulamos com a idade nos tornam uns bostinhas mimados. Quando criança, eu não tinha muita opção de entretenimento num vôo. Uma revistinha da Mônica/Coquetel comprada pela minha mãe de última hora no aeroporto, e aquelas TVs penduradas ao longo do corredor com um filme dublado qualquer.
Pronto. Era isso. Suas opções se limitavam a ler uma revista, fazer cruzadinhas, ou assistir Ace Ventura 2. Por um lado eu era menor (tanto verticalmente quanto horizontalmente) e a poltrona do avião era então um colosso de conforto, mas tirando isso, a experiência era pior em todos os aspectos.
Hoje, os aviões (pelo menos aqui na gringa) tem telas em cada assento, com inúmeras opções de filmes e série; temos aparelhos pessoais de entretenimento com joguinhos e o caralho, tem até internet no avião. INTERNET, aquele luxo que eu só conseguia acessar em casa durante os fins de semana. Hoje eu posso falar merda no tuíter viajando a 800 km/h, literalmente soltando bobagens nas cabeças de vocês.
Talvez não é nem que viajar seja tão ruim assim — é que eu vivo uma existência tão tranquila e confortável que passar um dia com UM POUCO menos de conforto e comodidades me parece um inferno.
Com apenas 32 anos já sou um velho chato. Eu sabia que ia acontecer um dia, mas não antes de perder todos os meus dentes.

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