Sobre câmeras e valores de produção

Esta é uma G7X.


g7x


No que diz respeito a câmeras mais fáceis de meter no bolso, essa aí é meio que o consenso entre os profissionais casuais de videografia — que é a forma mais “serious business” com a qual posso me referir a uma carreira de YouTube, mas ainda sem dar lá tanto crédito porque afinal, é um vlog. Consta como trabalho, ao menos?


Eu já achava que vlogar na rua usando a 70D (aka “Escola Casey Neistat”) era uma insanidade extremamente desconfortável. Bastou UMA viagem — aquela pra Ottawa, sensacionalmente sponsored by @CarlinhosTroll e a MyVIPBox.com — com a 70D pra eu decidir que nunca mais queria sair de casa com um trambolho daquele. Sair por aí com 70D, lente, tripé e microfone é um negócio que requer um certo nível de investimento, de comprometimento.


Talvez a little too much

Talvez a little too much pra uma porra de um vlog.


Não é algo que você traz só por trazer, porque “vai que acontece algo legal pra filmar!”. Eu precisava de algo com uma qualidade melhor do que uma GoPro, ou meu celular, e que servisse como uma alternativa à 70D.


E a G7X é comentada por todos os manos da fotografia/videografia que é essencialmente uma 70D portátil.


Demorei MESES pra achar essa porra de câmera aqui em Calgary. Por motivos que não entendo completamente, a G7X parecia permanentemente esgotada em todo território nacional canadense. Eu nunca vi nada esgotado tanto nas lojas físicas quanto nas online, e no entanto este era o caso.


Isso se repetia em TODAS as lojas em que eu procurei. Chegou ao ponto em que eu entrava nas lojas pra procurar só pelo hábito mesmo.


Eu ouvi várias teorias. Uma é que a câmera é um produto de nicho — point and shoot com aquele precinho salgado de DSLR –, e o Canadá tem afinal de contas míseros 30 milhões de habitantes. Pra você ter uma noção do que isso significa, pega o Estado de São Paulo, subtrai dele a população do Estado do Rio (algo que eu imagino que muitos paulistas seriam a favor), e dá os canadenses. Por isso, diz a hipótese, os retailers canucks não botaram fé que a parada venderia muito e pediam pouco estoque.


Cheguei a ouvir também que não era nada especificamente de errado com o mercado canadense, mas a G7X é tipicamente difícil de encontrar mesmo. Um cara de uma loja de câmeras aqui, que eu suponho que entende bastante de fotografia (ele tinha um bigode de hipster, coque samurai, tênis verde e óculos de aro grosso) disse que um dos processadores usados pela Canon na fabricação da G7X tá em falta, ou algo assim. Sei lá.


Ontem enquanto a patroa passava 5 horas na Forever XXI experimentando roupas que na real ela nem gostou muito e vai provavelmente devolver dois dias depois — a minha é a única que faz isso? –, eu dei uma passeada por uma loja de câmeras próxima. Totalmente pela força do hábito, só pra ouvir pela milésima vez “desculpe senhor, não temos” e voltar a jogar Angry Birds no celular.


Ah é, voltei a jogar Angry Birds a propósito. Cê tem noção que Angry Birds já tem quase 10 anos? E que tem QUINZE títulos de Angry Birds, ou seja — tem mais Angry Birds que Call of Duty’s? Cê sabia que porcos foram escolhidos como os vilões do jogo quando o desenvolvimento já estava quase terminado, e que foram escolhidos por causa da gripe suína que tava rolando na época? Enfim.


A moça do balcão, previsivelmente, falou que não tinha G7X no estoque e elaborou sua própria teoria pra isso. Sem surpresa alguma, eu já tava pra sair da loja, quando um outro maluco berrou lááá do fundo do estabelecimento:


“…epa, pera que tem uma aqui!”


Nem acreditei. Saquei o cartão mais rápido do que você se decepcionará com seus amigos em 2017 e momentos depois, estava num dos sofás do shopping, examinando a nova compra.


…e ao mesmo tempo, eu sentia uma pontinha de remorso. O dinheiro que eu gasto investindo no canal vem do próprio canal, e como tecnicamente é “trabalho” eu posso declarar no imposto de renda e obter um ressarcimento, então esse tipo de gasto é mais fácil pra mim do que pra maioria das outras pessoas. Entretanto, eu venho muito pensativo em relação a proporção matemática VdP/R — em outras palavras, Valores de Produção dividido pelo Retorno. Entenda aqui retorno tanto quanto financeiro, quanto de crescimento do canal.


Grandes valores de produção dividido por baixo retorno é uma proporção indesejada. O que você realmente que é um alto retorno, com valores de produção parcos. Isso é tão verdadeiro pra míseros vloggers, quando é pra grandes estúdios de Hollywood.


Quanto mais eu penso nessa relação, mais eu vejo que valores de produção são completamente paralelos ao sucesso de um vídeo. Eu sinto um certo retorno às raízes youtubísticas; onde um maluco aleatório falando com uma câmera qualquer no seu quarto, sobre algo com o qual as pessoas se identifiquem e sintam vontade de discutir e compartilhar, vale muito mais do que uma câmera topster*, técnicas de edição profissa ou qualquer outra coisa. Afinal, se você parar pra pensar, o sucesso do YouTube ali nos primórdios foi justamente isso — a galera tava assistindo menos TV profissional e vendo Phillip DeFranco ou Vlog Brothers em vez disso.


Um dos exemplos fundamentais disso é o Whindersson Nunes, certamente a maior história de sucesso do YouTube brasileiro mas até hoje alguém cujo nome me obriga uma Googleada prévia pra não errar a grafia. Nós nordestinos somos, digamos, criativos no que diz respeito a dar nome aos filhos.


O sujeito é um dos maiores youtubers DO MUNDO (29a colocação no momento, se minhas fontes estão corretas), literalmente uma das personalidades mais influentes entre os jovens brasileiros. O cara está cagando furiosamente pra valores de produção, edição cinematográfica, a melhor câmera possível, thumbnail atraente, SEO, e todas essas outras coisas que gurus de YouTube insistem que são primordialmente importantes. Aliás, não sei se essa “indústria” já explodiu aí também, mas aqui na gringa tá LOTADO de experts.



Então eu fico em conflito. Por um lado, eu sei que não precisava dessa câmera — podia usar a GoPro, por exemplo, ou até mesmo meu próprio celular pra fazer vídeos na rua. Mas eu sinto uma aversão estranha a usar esses equipamentos pra vlogar, então por mais que eu não precise de uma G7X, te-la acabará me tornando mais produtivo.


Na real, eu estou muito curioso pra saber o que VOCÊS acham. Acabei de dropar mil malditos dólares numa câmera, quando eu já tenho (xeu contar aqui) CINCO OUTRAS, porque sinto que a melhoria incremental na imagem dos vídeos gravados na rua valerá a pena pra vocês. Como vocês vêem essa questão?


*Usarei esse termo sem ironia durante 2017 e não há solução pra isso a não ser aceitar


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Published on January 01, 2017 10:51
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Izzy Nobre
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