Cobertor curto
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
O governo Dilma anunciou novo pacote cambial para tentar conter a valorização do real. Será cobrado agora 1% de imposto sobre a diferença entre a posição vendida e a posição comprada em derivativos cambiais, quando o excedente for superior a US$ 10 milhões. O mercado ficou confuso com a distinção entre operações de "hedge" e especulação, uma vez que é difícil distingui-las. Além disso, no limite os agentes podem simplesmente transferir suas operações de câmbio para o exterior. As ações da BM&FBovespa despencaram já antecipando esta perda de receita.
Foram várias medidas até agora com o mesmo objetivo, mas todas surtiram efeito apenas de curto prazo. Compreende-se o desespero dos industriais com esta valorização da moeda nacional, o que torna os produtos importados mais competitivos. Mas o fenômeno de desvalorização do dólar é global, e alguns fatores importantes que colaboram com a enxurrada de dólares para o Brasil são estruturais. O governo está tentando enxugar gelo, atacando com medidas paliativas os sintomas, em vez de lidar com a raiz do problema.
Com taxas de juros praticamente nulas nos países desenvolvidos, e nossa Selic chegando perto de 13%, parece natural que o Brasil se torne foco de atração de capital especulativo. Mesmo levando em conta a alta inflação, o diferencial de juros reais é alto. A ata do Copom sinalizou ontem o término da elevação dos juros, mas ainda é muito cedo para decretar vitória sobre a inflação. E eis que, de forma resumida, desenha-se o cenário complicado: o mundo rico não tem juros e exporta capital, o Brasil é destino certo pela sua elevada taxa de juros, mas esta não pode ceder porque a inflação ameaça sair de controle; o real se valoriza, e os industriais começam a chiadeira; o governo vai fazendo uma colcha de retalhos com medidas pontuais para atender grupos de interesse.
O cerne da questão é a baixa competitividade da economia brasileira, por causa dos elevados impostos e encargos trabalhistas, burocracia asfixiante, infraestrutura capenga e baixa produtividade da mão-de-obra sem educação. Como o governo não ataca nenhum destes problemas com coragem, e ainda mantém gastos públicos altos, fica impossível reduzir os juros reais sem gerar inflação. O editorial do Estadão hoje resume bem a coisa: "O quadro só mudará quando o peso do combate à inflação for dividido entre a política monetária e a política fiscal. Isso ocorrerá quando o governo se dispuser de fato a conter seus gastos. Por enquanto, isso está fora da agenda". O cobertor é curto.
O governo Dilma anunciou novo pacote cambial para tentar conter a valorização do real. Será cobrado agora 1% de imposto sobre a diferença entre a posição vendida e a posição comprada em derivativos cambiais, quando o excedente for superior a US$ 10 milhões. O mercado ficou confuso com a distinção entre operações de "hedge" e especulação, uma vez que é difícil distingui-las. Além disso, no limite os agentes podem simplesmente transferir suas operações de câmbio para o exterior. As ações da BM&FBovespa despencaram já antecipando esta perda de receita.
Foram várias medidas até agora com o mesmo objetivo, mas todas surtiram efeito apenas de curto prazo. Compreende-se o desespero dos industriais com esta valorização da moeda nacional, o que torna os produtos importados mais competitivos. Mas o fenômeno de desvalorização do dólar é global, e alguns fatores importantes que colaboram com a enxurrada de dólares para o Brasil são estruturais. O governo está tentando enxugar gelo, atacando com medidas paliativas os sintomas, em vez de lidar com a raiz do problema.
Com taxas de juros praticamente nulas nos países desenvolvidos, e nossa Selic chegando perto de 13%, parece natural que o Brasil se torne foco de atração de capital especulativo. Mesmo levando em conta a alta inflação, o diferencial de juros reais é alto. A ata do Copom sinalizou ontem o término da elevação dos juros, mas ainda é muito cedo para decretar vitória sobre a inflação. E eis que, de forma resumida, desenha-se o cenário complicado: o mundo rico não tem juros e exporta capital, o Brasil é destino certo pela sua elevada taxa de juros, mas esta não pode ceder porque a inflação ameaça sair de controle; o real se valoriza, e os industriais começam a chiadeira; o governo vai fazendo uma colcha de retalhos com medidas pontuais para atender grupos de interesse.
O cerne da questão é a baixa competitividade da economia brasileira, por causa dos elevados impostos e encargos trabalhistas, burocracia asfixiante, infraestrutura capenga e baixa produtividade da mão-de-obra sem educação. Como o governo não ataca nenhum destes problemas com coragem, e ainda mantém gastos públicos altos, fica impossível reduzir os juros reais sem gerar inflação. O editorial do Estadão hoje resume bem a coisa: "O quadro só mudará quando o peso do combate à inflação for dividido entre a política monetária e a política fiscal. Isso ocorrerá quando o governo se dispuser de fato a conter seus gastos. Por enquanto, isso está fora da agenda". O cobertor é curto.
Published on July 29, 2011 06:16
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