“Quem tem medo do Lobo mau, Lobo mau, Lobo mau”
Todos que tenham a minha idade sabem que esta era uma das músicas preferidas da nossa infância (bem de pelo menos alguns, eu pessoalmente gosto de não me incluir neste grupo). Mas a triste realidade é que desde pequenos que nos fomos habituando a ouvir que o Lobo é mau, agressivo, falso, agoirento, a própria representação do mal, e o cancioneiro português é disso um rico exemplo. Mas existem muitos mais exemplos em todo o mundo desde os tempos mais remotos. Na mitologia Nórdica que tanto me fascina, Fenrir é visto como um lobo monstruoso, pai dos lobos Skoll, que pretende destruir o sol e de Hati, que por sua vez pretende destruir a Lua. Também na literatura somos bafejados por incríveis descrições da sua maldade, Bram Stoker apresenta-os como os guardiões da noite do príncipe da Valáquia, Vlad Dracul consegue mesmo transmutar-se num lobo. E não me poderia esquecer dos lobisomens que aparecem somente para nos atormentar quando à noite fechamos os olhos e nos deixamos guiar para onde a imaginação nos insiste em levar. Talvez eu seja diferente, gosto de pensar que não estou só. Para mim os Lobos não são maus, são sim uns corajosos sobreviventes num mundo onde o Homem continua a ditar as suas regras esquecendo-se das leis primordiais, as leis da natureza. Tenho que voltar um pouco atrás no tempo e explicar que esta minha paixão pelos lobos tornou-se, mais séria, quando em 1988 me tornei mãe adotiva de um lobo deste Santuário de seu nome Manchas. A história dele e das suas irmãs, na altura marcou-me sobejamente, ainda hoje guardo com devoção o cartão da adoção e a fotografia que o Grupo Lobo me enviou aquando da oficialização da mesma. O Manchas tinha sido mais um caso de pura maldade, desprezo pela vida animal ou simplesmente a única forma de defesa encontrada por algum pastor para proteger o seu rebanho. Ainda lobito foi encontrado com as irmãs dentro do covil onde a mãe os deixara antes de morrer envenenada perto de algum riacho. Por sorte ou simplesmente destino acabariam por encontrar no Santuário do Grupo Lobo, a sua nova casa.Assim como eles, outros tantos ao longo destes anos aqui foram encontrando proteção. Neste local onde todos têm nomes, sejam de rios, de árvores, de serras, sementes, na realidade o que importa é que cada um deles é único, tem a sua própria história. São os verdadeiros embaixadores da sua espécie. E não! Não são Lobos maus. Muitos talvez se perguntem se não seria melhor estes magníficos animais estarem em liberdade. A resposta seria sim se este fosse um mundo ideal, infelizmente não é o caso. Estes nobres animais que aqui se encontram já carregam com eles uma grande bagagem de vida e de anos e as suas hipóteses de sobrevivência seriam muito baixas, o facto de a grande parte deles já ter nascido em cativeiro ou ter tido desde sempre contacto com o homem impossibilita esse estado natural que nunca lhes deveria ter sido tirado. Mas, e apesar da minha devoção por estes animais não serei certamente eu a pessoa mais indicada para vos falar deles. Dessa forma gostava de expressar aqui o meu agradecimento ao Grupo Lobo pela excelente visita que nos proporcionou, ao Furco por ter continuado a dormir ignorando a nossa curiosidade “paparazzo”, ao Lobito por timidamente se ter escondido assim que nos vislumbrou perto do seu cercado, à Faia por nos ter fixado com os seus belos olhos amarelos (fez-me lembrar a loba Lua da Irmandade da Cruz) e de nos ter avisado com o seu uivo que não nos queria ali muito mais tempo, e o meu agradecimento à Tua por se ter deixado ver independentemente dos restante “membros masculinos” da sua alcateia não o terem feito. Havia tanto ainda para dizer, mas vou-me reservar esse prazer para os dois livros que ainda tenho para escrever sobre a Irmandade e os seus Guardiões. Uma coisa vos posso garantir, o meu amor e respeito por estes animais acabou de ganhar uma nova intensidade. Dito isto gostava de vos convidar a todos a visitarem o CRLI – Centro de Recuperação do Lobo Ibérico situado no Picão, perto de Mafra, onde todas as vossas questões serão esclarecidas, onde conseguirão perceber não somente o que significa a palavra Santuário, mas como é importante respeitarmos e compreendermos os animais que ainda conseguem viver em liberdade (infelizmente a população de Lobo Ibérico em Portugal já não chega sequer a 300 indivíduos) e ainda como podemos todos ajudar este projecto a crescer e a ganhar força. Gostava de conseguir uivar em agradecimento a estes magníficos animais, mas como não o posso fazer limito-me a apertar nos meus braços os seus primos directos, os meus fiéis cães e companheiros de jornada, Rommel, Morgaine, Dobby e Raven, não têm nomes de Rios mas tal como eles seguimos todos na mesma correnteza. E como dizem no Grupo Lobo: “Saudações Lupinas”
Crónica in Diário do Distrito, 19 Setembro 2016
Crónica in Diário do Distrito, 19 Setembro 2016
Published on September 19, 2016 07:18
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