Dom Dinis e Dona Isabel (2)
Imagem Codex Manesse
Sou
de opinião que a relação entre Dom Dinis e Dona Isabel não teria sido
fácil, situação aliás latente na narração do milagre das rosas. Embora
essa lenda não seja exclusiva do par real português (o milagre das rosas
atribuído a Santa Elisabete da Turíngia é semelhante), é evidente a
não-aceitação por parte de Dom Dinis de tanto fervor caritativo da sua rainha. No
meu romance, eu alargo essa rejeição ao fervor espiritual de Dona
Isabel.
É também curioso constatar que, em quarenta e quatro anos
de casamento, o par real teve apenas dois filhos, nascidos entre 1290 e
1291. Dom Dinis só morreria em 1325, trinta e quatro anos depois de
nascer o seu último filho com Dona Isabel.
Em
meados do mês, quando os calores abafados deram lugar a trovoadas
monumentais, chegaram finalmente notícias. De Aragão! Com apenas vinte e
seis anos, Afonso III morrera de repente, nas vésperas do seu casamento
com a filha de Eduardo I de Inglaterra! À falta de um herdeiro, o trono
fora ocupado por seu irmão Jaime.
Isabel
isolou-se totalmente, ficando inalcançável. Acordando no meio das
noites de trovejar violento, sozinho e triste, o rei deu consigo a
desejar ter Aldonça a seu lado. E continuava a perguntar-se que tipo de
sentimentos o ligava à consorte. Durante aqueles quase três anos de
felicidade em comum, pensara, muitas vezes, que Isabel era a mulher da
sua vida. Parecia não se encher dela, como normalmente acontecia com as
barregãs. Por outro lado, toda aquela espiritualidade, assim como as
qualidades de curandeira e vidente, assustavam-no. Não deixava de ser
uma ironia na vida dele: a mulher que ele mais desejava,
afigurava-se-lhe inalcançável. Parecia-lhe estar longe, apesar de viver a
seu lado.
Algumas
semanas mais tarde, Isabel procurou-o. Parecia flutuar, em vez de
andar. A palidez e a magreza davam um tom transparente à pele, realçando
o negrume dos olhos. Na sua amargura, Dinis não conseguiu evitar uma
tirada áspera:
- Se assim continuais, cedo fareis companhia a vosso irmão!
Logo
se arrependeu daquela rudeza, mas Isabel manteve o semblante sereno,
imune, como sempre ficava depois de meditação e jejum intensivos. E
retorquiu muito calma:
- Não vos preocupeis! Ainda me estão reservados vários anos de vida.
Dinis absteve-se de perguntar quem lhe assegurara tal.
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Published on September 01, 2016 03:16
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