Pausa


 

É exaustivo tentar ser sempre melhor. O que, afinal, se espera de todo nós: melhorarmos a cada dia que passa. Seja na carreira, passatempos a que nos dedicamos, no estudo, na nossa personalidade e, até, na aparência exterior. Por vezes, tenho a sensação de ir atrás daquilo que não sou, nem desejo ser, contudo, forço e sigo o caminho com o rótulo digno de admiração externa. Talvez até possa resultar, durante algum tempo. Já aprendi que nada dura. Nada. Efémero é sinónimo de vida, pelo menos neste lado tangível que conhecemos de imediato, neste plano físico e irrefutável. Quando o que temos desaparece, ora repentinamente ora levando o seu tempo, lá vamos nós, na busca do mesmo ou algo melhor, que o substitua. Sei, todavia, que quando tinha aquilo, seja um objecto, uma pessoa – se é que se possa possuir alguém -, ou até uma ideia ou característica, permanecia numa busca inquieta, procurava algo ainda melhor. Provavelmente, nem sabia o que procurava, mas sabia que alguma coisa me faltava. Que canseira. Chega uma altura em que o corpo desliga. Só resta energia suficiente para respirar e sobreviver mais um dia. Reflicto no meu caminho, nos meus passos incertos e nas minhas escolhas mais ou menos espontâneas. Sou obrigada a parar, por fim, pois estou tão cansada e perdida. Nestas alturas vou até à profundidade do meu ser e só volto à superfície quando entro numa aceitação absoluta. Aceito-me, aceito a minha jornada até então, aceito o presente. Aliás, aproximo-me do momento presente como há muito não o fazia: sem expectativas futuras, nem queixumes passados. Acabam-se os desejos irreais. Aqueles que valorizam o outro e esquecem o próprio, sabem? Desejar a expressão dela, a pela suave da outra, e o corpo daquela; a força dele e a paixão do outro; a elegância de uma actriz de outros tempos, a popularidade deles; a relação que eles parecem ter…Esqueço completamente quem sou – se é que alguma vez o soube – e transformo-me numa massa disforme que aglomera um vasto leque de características alheias. Esqueço que sou o suficiente. Assim como cada um de vocês, mais do que suficiente, é merecedor de Ser e Viver. Não precisam de tudo aquilo que desejam ou vos mostram ser necessário para serem e estarem no mundo. É difícil explicar esta noção de ser suficiente, completo, quando passamos a vida a tentar ser mais, alcançar mais, subir nos patamares dispostos perante nós assim que nascemos. Não admira que estejamos tão cansados. Exaustos!Experimentem. Fechem os olhos e distanciem-se de tudo o que é estimulo externo. Inspira até às profundezas do teu ser e vê o que surge, a calma por detrás do ruído constante. Incrível… o mundo não acabou por pararmos, pois não? Acho que está na altura de relaxar e exigir menos de nós, sabendo que lidamos com a vida – essa coisa que nos acontece, cheia de altos e baixos, repleta das mais diversas experiências – o melhor que conseguimos, nesse preciso momento em que nos acontece. Cada um através da sua história, que nos marca e molda, aprendendo e desaprendendo. 

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Published on March 11, 2015 07:35
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