Fenômenal Garrincha pelo fenômeno Bob Wilson
A notícia de que Bob Wilson faria uma peça sobre Garrincha em parceria com o SESC-SP [Pinheiros] me deixou atônito e feliz.
Claro, faz todo sentido.
O diretor americano que mudou o teatro contemporâneo [ou melhor, o pós-moderno], redesenhou a dramaturgia aristotélica e o papel do autor, reaproximou o teatro das artes plásticas, escolheu meu jogador de futebol favorito para retratar [homenagear].
Pelé não dá teatro. Garrincha dá.
Pelé é Ella Fitzgerald. Garrincha, Billie Holiday.
O menino paupérrimo fã de pássaros das pernas tortas mulherengo pobre e alcoólatra de Pau Grande (RJ) é O personagem brasileiro.
É branco-mulato-índio.
É Macunaíma.
Pescado do talento nato, jogado ao centro do mundo no Maracanã abarrotado, ao estrelato internacional, graças a duas vitoriosas copas do mundo [uma delas, a de 1962, ganhou PRATICAMENTE sozinho, com Pelé contundido no banco], do campo de várzea para os casinos e showbizz, tentando sempre se reerguer de golpes de empresários inescrupulosos e injeções milagrosas no joelho, com nove filhas para cuidar.
Em paralelo seu grande amor pela grande cantora Elza Soares, que já foi chamada de a Billie Holiday dos trópicos.
Garrincha era a Alegria do Povo, entendeu que o futebol era competição, mas também circo, espetáculo, entretenimento.
Que quem o pagava para ver queria torcer, rir, surpreender-se e ver um mágico fazer malabarismos com a bola.
Bob Wilson espera que todos saibam quem foi Garrincha.
Não faz de seu teatro uma sala de aula, dispensa o didatismo.
Seu teatro não quer ensinar, mas provocar.
Com dança, não com a palavra.
Divide em cenas marcantes: o começo pobre no campo, a bebida, a derrota brasileira de 1950, a paixão, o estrelato, a ingenuidade, o empresário, o sucesso internacional, acidente de carro que matou seu filho…
Quase não tem diálogos.
São quadros, pinturas, com uma espetacular banda ao vivo, um elenco genial.
E uma fantástica compreensão do que é o Brasil.
Escalou um Garrincha que fez as filhas do próprio chorarem, Jhe Oliveira, de 37 anos.
Ator baiano de origem pobre, pai boêmio e mulherengo, que dizia que Garrincha era o rei do futebol, não Pelé.
Teatro para aprendermos a como retratar nossa história e nossa paixão, o futebol.
O texto é do americano Darryl Pinckney, que já trabalhou com Wilson em The Old Woman – A Velha (2014), com consultoria e empréstimos de Estrela Solitária by Ruy Castro.
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