Rodrigo Constantino's Blog, page 452

January 16, 2011

Calamidade serrana

A mobilização voluntária de tanta gente para ajudar as vítimas da calamidade na serra carioca é impressionante e louvável. Mas como seria bom se esta mesma mobilização ocorresse ANTES dos desastres anunciados, para pressionar as autoridades incompetentes! Prevenir é melhor que remediar, certo?

Se as eleições fossem em fevereiro, bem na época das chuvas, isso já colocaria uma pressão maior nos demagogos de plantão...
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Published on January 16, 2011 08:14

Conceitos vazios sobre o público e o privado

MARIO VARGAS LLOSA - O Estado de S.Paulo

Desde que comecei a ler seus livros e artigos, coisa já de uns 30 anos atrás, sinto em relação a Fernando Savater algo que não me acontece com nenhum outro dos meus escritores preferidos: quase nunca discordo de seus julgamentos e críticas.

Em geral, as razões que ele apresenta me convencem de imediato, ainda que para isso deva retificar radicalmente aquilo em que, até agora, eu acreditava.

Quer ele fale a respeito de política, de literatura, de ética e até de cavalos (sobre os quais não sei nada, salvo que nunca acertei uma única aposta nas raras vezes em que pisei em um hipódromo), Savater pareceu-me sempre um modelo de intelectual comprometido, ao mesmo tempo um homem de princípios e um pragmático, um desses raros pensadores contemporâneos capazes de enxergar sempre claramente nos intricados meandros deste século 21 e de orientar os que se extraviaram a encontrar o caminho perdido.

Tudo isso vem a propósito de um artigo de sua autoria sobre o WikiLeaks e Julian Assange, fundador do site, que acabo de ler na revista Tiempo (edição de 23 de dezembro de 2010 a 6 de janeiro de 2011). Peço encarecidamente aos que comemoraram a divulgação de milhares de documentos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA como uma proeza da liberdade, que leiam este artigo que esbanja inteligência, valentia e sensatez. Se não os fizer mudar de opinião, certamente os levará, pelo menos, a refletir e a se perguntar se seu entusiasmo não terá sido algo precipitado.

Savater comprova que nesta vasta coleção de materiais vazados não há praticamente revelações importantes, que as informações e opiniões confidenciais vindas à luz já eram sabidas ou presumíveis por qualquer observador da atualidade política mais ou menos informado, e o que predomina nelas é principalmente o mexerico destinado a saciar esta frivolidade que, sob o respeitável rótulo da transparência, é na verdade o entronizado "direito de todos a ser informados de tudo, para que não haja segredos e reservas que possam contrariar a curiosidade de alguém - seja quem for que tiver de cair, e o que for que percamos pelo caminho".

Este suposto "direito", acrescenta, é "parte da atual imbecilização social". Concordo integralmente com esta afirmação.

A revolução audiovisual de nosso tempo violentou as barreiras que a censura opunha à livre informação e à dissidência crítica. Graças a isso, os regimes autoritários têm muito menos possibilidade do que no passado de manter seus povos na ignorância e de manipular a opinião pública.

Evidentemente, trata-se de um grande progresso para a cultura da liberdade e é preciso se beneficiar disso. Mas daí a concluir que a prodigiosa transformação das comunicações representada pela internet nos autoriza a saber tudo e a divulgar tudo o que acontece debaixo do sol (ou debaixo da lua), fazendo desaparecer de uma vez por todas a linha de demarcação entre o público e o privado, há um abismo que, se abolido, poderá significar, não uma façanha libertária, mas pura e simplesmente um liberticídio que, além de solapar as bases da democracia, infligirá um rude golpe à civilização.

Libertinagem informativa. Nenhuma democracia poderá funcionar se desaparecer a confidencialidade das comunicações entre funcionários e autoridades, nenhuma forma de política nos campos da diplomacia, da defesa, da segurança, da ordem pública e até da economia terá consistência se os processos que estas políticas determinam forem expostos totalmente à luz em todas as suas instâncias.

O resultado de semelhante exibicionismo informativo seria a paralisia das instituições e tornaria mais fácil para as organizações antidemocráticas a criação de obstáculos e a anulação de todas as iniciativas dotadas de seus propósitos autoritários. A libertinagem informativa não tem nada a ver com a liberdade de expressão e, ao contrário, é seu oposto.

Esta libertinagem é possível somente nas sociedades abertas, não nas que são submetidas a um controle policialesco vertical que sanciona com ferocidade toda tentativa de violentar a censura. Não por acaso os 250 mil documentos confidenciais obtidos pelo WikiLeaks são o fruto da ação de pessoas que traíram os Estados Unidos e não da Rússia ou da China.

Embora as intenções de Julian Assange respondam, como foi dito, ao sonho utópico e anarquista da transparência total, suas operações com o propósito de pôr fim ao "segredo" poderão conduzir, nas sociedades abertas, ao surgimento de correntes de opinião que, com o argumento de defender a indispensável confidencialidade no seio dos Estados, proponham freios e limites a um dos direitos mais importantes da vida democrática: o da livre expressão e da crítica.

Em uma sociedade livre, a ação dos governos é fiscalizada pelo Congresso, pelo Poder Judiciário, a imprensa independente e de oposição, pelos partidos políticos, instituições que evidentemente têm todo o direito do mundo de denunciar as fraudes e as mentiras aos quais às vezes recorrem certas autoridades para encobrir ações e trâmites ilegais. Mas o que o WikiLeaks fez não é nada disso. Ele destruiu brutalmente a privacidade das comunicações nas quais os diplomatas e agregados informam seus superiores sobre as intimidades políticas, econômicas, culturais e sociais dos países onde servem.

Grande parte deste material é constituída por dados e comentários cuja divulgação, embora não tenha maior transcendência, cria situações enormemente delicadas para estas atividades e provoca suscetibilidades, rancores e ressentimentos que servem apenas para prejudicar as relações entre países aliados e desprestigiar seus governos.

Não se trata, pois, de combater uma "mentira", mas, de fato, de satisfazer a curiosidade mórbida e malsã da civilização do espetáculo, que é a do nosso tempo, na qual o jornalismo (e a cultura em geral) parece se desenvolver seguindo o desígnio único de entreter.

Julian Assange, mais do que um grande lutador libertário, é um animador de sucesso, uma espécie de Oprah Winfrey da informação.

Se não existisse, teria sido criado mais cedo ou mais tarde pelo nosso tempo, porque esse personagem é o símbolo emblemático de uma cultura em que o valor supremo da informação hoje é o de divertir um público frívolo e superficial, ávido de escândalos que vasculham a intimidade dos famosos, mostram suas fraquezas e envolvimentos e os convertem em bufões da grande farsa que é a vida pública.

Embora, talvez, falar de "vida pública" seja inexato, pois para que ela existisse deveria existir também sua contrapartida, a "vida privada" é algo que praticamente foi desaparecendo até se transformar em um conceito vazio e obsoleto.

O que é o privado nos nossos dias? Uma das consequências involuntárias da revolução informática é a volatilização das fronteiras que o separavam do público, e ter confundido ambos em uma representação na qual todos somos ao mesmo tempo espectadores e atores.

Nela, reciprocamente queremos brilhar exibindo nossa vida privada e nos divertimos observando a alheia em um strip-tease generalizado no qual nada está a salvo da curiosidade mórbida de um público depravado pela frivolidade.

O desaparecimento do privado, o fato de ninguém respeitar a intimidade alheia, de esta se ter tornado um espetáculo que excita o interesse geral e de que exista uma indústria informativa que alimenta sem trégua e sem limites este voyeurismo universal, é uma manifestação de barbárie.

Pois com o desaparecimento do domínio do privado muitas das melhores criações e funções do humano se deterioram e se aviltam, a começar por tudo aquilo que está subordinado ao cuidado com certas formas, como o erotismo, o amor, a amizade, o pudor, as maneiras, a criação artística, o sagrado e o moral.

Que remédio, se os governos escolhidos em eleições legítimas forem derrubados por revoluções que querem trazer o paraíso para a terra (embora frequentemente tragam antes o inferno)?

Que desgraça, se forem deflagrados conflitos e até guerras sanguinárias entre países que defendem religiões, ideologias ou ambições incompatíveis, que desgraça!

Mas que tais tragédias possam chegar a ocorrer porque nossos privilegiados contemporâneos se aborrecem e precisam de emoções fortes, e um internauta vidente como Julian Assange lhes oferece o que pedem, não, não é possível nem aceitável.

TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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Published on January 16, 2011 08:08

January 14, 2011

Quem não tem cão...



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

A coluna de hoje de Merval Pereira em O Globo fala da esperança de um "choque de gestão" no governo Dilma. Outros países, como Chile e Nova Zelândia, conseguiram melhorar bastante a eficiência do setor público por meio de medidas mais meritocráticas importadas da iniciativa privada. Não há mecanismo de incentivo mais perverso do que as regalias dos funcionários públicos, com estabilidade de emprego independente do desempenho, sem a oportunidade de bônus por maior eficiência ou sem o risco de punição, caso contrário.

Neste sentido, seria louvável um "choque de gestão", bandeira que, como lembra Merval Pereira, tem sido usada pelo PSDB há algum tempo. O nome que surge por trás desta conversa toda é o do empresário Jorge Gerdau. Ancelmo Gois, em sua coluna hoje, diz que a presidente Dilma sonha em trazer para o governo o renomado empresário do setor siderúrgico. Jorge Gerdau tem se destacado quando se trata do esforço de levar mais racionalidade para a gestão da coisa pública.

Se alguma coisa for feita nesta direção, já temos motivo para celebrar. Há tanta incompetência no governo que qualquer mudança na direção correta pode gerar ganhos significativos. Mas como diz o ditado, "uma andorinha só não faz verão". As lições de empresários como Gerdau, se parcialmente adotadas, podem melhorar bem a situação do governo, hoje em estado caótico. Mas não resolvem as questões mais estruturais. E estas, segundo os jornais, a presidente Dilma já abandonou logo no começo do governo, avisando a interlocutores que nenhuma reforma necessária será mandada ao Congresso.

Esqueçam as reformas tributária, previdenciária e trabalhista, que poderiam colocar efetivamente o país no rumo certo. A presidente vai, no máximo e com muito otimismo, adotar medidas mais paliativas, tentar ganhar tempo antes que as bombas-relógio produzidas pelo governo explodam. É aquela velha máxima: quem não tem cão, caça como gato.
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Published on January 14, 2011 05:44

January 13, 2011

Dureza...


Distribuí esta imagem no trabalho. É sempre bom não perder de vista esta dura realidade.
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Published on January 13, 2011 09:47

January 11, 2011

Para derrotar as máfias sindicais

Rodrigo Constantino, O Globo

A informalidade é o ar rarefeito que indivíduos e empresas precisam respirar devido à asfixia causada pela hipertrofia estatal. Com tantos encargos incidindo sobre a folha de pagamento das empresas, dobrando o custo efetivo do trabalhador em relação ao seu salário, ninguém deveria estranhar o fato de que metade dos empregos está na ilegalidade no país. As tais "conquistas trabalhistas" celebradas pelos sindicatos representam, na prática, um problema grave para a competitividade nacional e, por conseguinte, para os próprios trabalhadores.
Em uma economia dinâmica, as empresas terão total interesse em pagar salários atrelados à produtividade do trabalhador. Caso isso não ocorra, o concorrente sempre poderá pagar um pouco mais e ainda assim obter bons lucros com a contratação do empregado. A melhor garantia de bons salários, portanto, não está na caneta mágica do governo, mas na elevada produtividade do trabalho e na livre concorrência entre empregadores. Trabalhadores de países com tais características possuem qualidade de vida bem melhor que a dos brasileiros, mesmo com nossas inúmeras regalias legais.
A enorme quantidade de direitos trabalhistas no Brasil nos remete àquela piada do sujeito que pede para a pizza ser cortada em vários pedaços, pois está com muita fome. A quantidade de pizza não aumenta, mas a sensação de que há mais comida disponível pode gerar uma doce ilusão no faminto. Da mesma forma, a quantidade de dinheiro que o empregador está disposto a pagar ao empregado não muda após tantos encargos, tais como férias e licenças remuneradas, 13o salário, vales para transporte e alimentação, contribuição para o Sistema S, FGTS e INSS.
O único efeito prático é que o salário será dividido em mais partes para abrigar todos estes direitos, com o agravante de que o empregado agora dispõe de menor grau de liberdade para escolher como gastar seu dinheiro. Outro efeito nefasto é que os trabalhadores com menor produtividade acabam sem emprego formal, tendo que buscar refúgio justamente na ilegalidade e ficando, portanto, sem nenhum dos direitos trabalhistas.
O austríaco Hayek, vencedor do Prêmio Nobel de economia, chegou a afirmar que "o poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar". O economista francês Guy Sorman também percebeu que muitas das conquistas sindicais não passavam de uma reserva de mercado para os já empregados e sindicalizados. Ele escreveu: "Os sindicatos só protegem os sitiados que constituem sua clientela principal, não os desempregados, que não militam e nem são contribuintes".
Quando se entende melhor esta lógica econômica, fica claro porque deve ser aplaudida a meta da presidente Dilma de desonerar a folha de pagamento das empresas, reduzindo assim o custo do setor produtivo. Não há mágica quando se trata de melhorar a competitividade das empresas brasileiras: seus encargos devem ser reduzidos, e a produtividade do trabalho deve aumentar. Isso só será possível com melhor educação e treinamento técnico, não com decretos estatais. Foi o caminho que países como Chile e Coréia do Sul trilharam, com evidente sucesso. A alternativa é continuar sonhando com fantasias, acreditando que haverá mais comida se a pizza for cortada em mais pedaços.
A necessária reforma trabalhista esbarra, porém, em obstáculos criados pelos antigos aliados do partido da presidente. Os poderosos sindicatos, afinal, sempre fizeram parte do quadro de apoio do PT. Além disso, há a questão fiscal, pois os menores encargos podem significar menor receita tributária no primeiro momento, até que a base ampliada de trabalhadores formais compense a redução dos encargos. Para viabilizar a reforma, o governo deve adotar um programa de austeridade fiscal, reduzindo seus gastos de forma significativa. Economicamente, isso faz todo sentido, até porque houve grande inchaço da máquina estatal durante o governo Lula. Politicamente é que a coisa complica mais.
O governo Lula se mostrou totalmente incapaz de realizar a reforma trabalhista durante seus oito anos de mandato. O modelo sindical concebido ainda na era Vargas seguiu praticamente intocado. É chegada a hora de a presidente mostrar se fala realmente sério quando diz que pretende reduzir os encargos trabalhistas. Pelo bem da nossa competitividade econômica e, portanto, dos próprios trabalhadores, espera-se que seu governo consiga levar adiante este desafio. Seria uma derrota das máfias sindicais, mas uma vitória de todo o país.
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Published on January 11, 2011 03:23

Para enfrentar as máfias sindicais

Rodrigo Constantino, O Globo

A informalidade é o ar rarefeito que indivíduos e empresas precisam respirar devido à asfixia causada pela hipertrofia estatal. Com tantos encargos incidindo sobre a folha de pagamento das empresas, dobrando o custo efetivo do trabalhador em relação ao seu salário, ninguém deveria estranhar o fato de que metade dos empregos está na ilegalidade no país. As tais "conquistas trabalhistas" celebradas pelos sindicatos representam, na prática, um problema grave para a competitividade nacional e, por conseguinte, para os próprios trabalhadores.
Em uma economia dinâmica, as empresas terão total interesse em pagar salários atrelados à produtividade do trabalhador. Caso isso não ocorra, o concorrente sempre poderá pagar um pouco mais e ainda assim obter bons lucros com a contratação do empregado. A melhor garantia de bons salários, portanto, não está na caneta mágica do governo, mas na elevada produtividade do trabalho e na livre concorrência entre empregadores. Trabalhadores de países com tais características possuem qualidade de vida bem melhor que a dos brasileiros, mesmo com nossas inúmeras regalias legais.
A enorme quantidade de direitos trabalhistas no Brasil nos remete àquela piada do sujeito que pede para a pizza ser cortada em vários pedaços, pois está com muita fome. A quantidade de pizza não aumenta, mas a sensação de que há mais comida disponível pode gerar uma doce ilusão no faminto. Da mesma forma, a quantidade de dinheiro que o empregador está disposto a pagar ao empregado não muda após tantos encargos, tais como férias e licenças remuneradas, 13o salário, vales para transporte e alimentação, contribuição para o Sistema S, FGTS e INSS.
O único efeito prático é que o salário será dividido em mais partes para abrigar todos estes direitos, com o agravante de que o empregado agora dispõe de menor grau de liberdade para escolher como gastar seu dinheiro. Outro efeito nefasto é que os trabalhadores com menor produtividade acabam sem emprego formal, tendo que buscar refúgio justamente na ilegalidade e ficando, portanto, sem nenhum dos direitos trabalhistas.
O austríaco Hayek, vencedor do Prêmio Nobel de economia, chegou a afirmar que "o poder sindical é essencialmente o poder de privar alguém de trabalhar aos salários que estaria disposto a aceitar". O economista francês Guy Sorman também percebeu que muitas das conquistas sindicais não passavam de uma reserva de mercado para os já empregados e sindicalizados. Ele escreveu: "Os sindicatos só protegem os sitiados que constituem sua clientela principal, não os desempregados, que não militam e nem são contribuintes".
Quando se entende melhor esta lógica econômica, fica claro porque deve ser aplaudida a meta da presidente Dilma de desonerar a folha de pagamento das empresas, reduzindo assim o custo do setor produtivo. Não há mágica quando se trata de melhorar a competitividade das empresas brasileiras: seus encargos devem ser reduzidos, e a produtividade do trabalho deve aumentar. Isso só será possível com melhor educação e treinamento técnico, não com decretos estatais. Foi o caminho que países como Chile e Coréia do Sul trilharam, com evidente sucesso. A alternativa é continuar sonhando com fantasias, acreditando que haverá mais comida se a pizza for cortada em mais pedaços.
A necessária reforma trabalhista esbarra, porém, em obstáculos criados pelos antigos aliados do partido da presidente. Os poderosos sindicatos, afinal, sempre fizeram parte do quadro de apoio do PT. Além disso, há a questão fiscal, pois os menores encargos podem significar menor receita tributária no primeiro momento, até que a base ampliada de trabalhadores formais compense a redução dos encargos. Para viabilizar a reforma, o governo deve adotar um programa de austeridade fiscal, reduzindo seus gastos de forma significativa. Economicamente, isso faz todo sentido, até porque houve grande inchaço da máquina estatal durante o governo Lula. Politicamente é que a coisa complica mais.
O governo Lula se mostrou totalmente incapaz de realizar a reforma trabalhista durante seus oito anos de mandato. O modelo sindical concebido ainda na era Vargas seguiu praticamente intocado. É chegada a hora de a presidente mostrar se fala realmente sério quando diz que pretende reduzir os encargos trabalhistas. Pelo bem da nossa competitividade econômica e, portanto, dos próprios trabalhadores, espera-se que seu governo consiga levar adiante este desafio. Seria uma derrota das máfias sindicais, mas uma vitória de todo o país.
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Published on January 11, 2011 03:23

Otimismo com recuperação americana é justificável?

Rodrigo Constantino, Jornal Valor Econômico (Palavra do Gestor)

Dados recentes nos Estados Unidos mostraram razoável recuperação da maior economia do mundo, e muitos investidores e analistas atualizaram suas expectativas para o crescimento dos próximos anos.

O Goldman Sachs, por exemplo, já fala em crescimento de 3,4% para o PIB americano este ano, aumentando para 3,8% em 2012. O banco chamou 2011 de "o ano da recuperação", após o "ano da dúvida" em 2010, em que muitos questionavam o risco de um duplo mergulho americano, e o "ano da sobrevivência" em 2009, quando o mercado precificou o risco de uma depressão.

Parte desse otimismo crescente foi claramente incorporada no preço dos ativos. O S&P 500 já subiu mais de 20% desde agosto de 2010. O risco de um duplo mergulho parece cada vez mais distante. Alguns analistas já começam a questionar quando o Fed terá que subir novamente os juros.

Entretanto, ainda há bastante ceticismo no ar, e muitos investidores adotaram a postura de São Tomé: querem ver números econômicos mais concretos para crer numa recuperação sustentável. O risco desta postura é perder o rali e entrar quando já for tarde demais. Não custa lembrar que os mercados antecipam as expectativas futuras.

Para quem defende um cenário mais otimista para os EUA, ao menos no curto prazo, existem alguns sólidos argumentos. Em primeiro lugar, o caminhão de liquidez que foi injetado pelo Fed nos mercados. Essa montanha de dinheiro tem que ir para algum lugar. Nada garante que será o destino mais adequado para um horizonte de longo prazo. Mas surge o risco de novas bolhas em determinados ativos. Não devemos esquecer que a bolha imobiliária foi, em parte, criada justamente por medidas expansivas do Fed, no afã de combater o estouro da bolha de tecnologia.

O Fed acaba empurrando o problema com a barriga, jogando-o para frente, ganhando tempo para ajustes mais estruturais. Entrementes, novas bolhas podem ser criadas, gerando a ilusão de que uma nova fase de crescimento sustentável começou.

Dificilmente pode-se falar em nova bolha para o mercado de ações americanas a esta altura. O S&P 500 está negociando a algo próximo de 13,5 vezes o lucro esperado para este ano, o que não é absurdo algum em relação ao seu padrão histórico. Ao contrário, se o crescimento de lucro realmente se concretizar, o S&P 500 ainda parece atraente nestes níveis. Afinal de contas, ele está no mesmo patamar nominal que estava no começo de 1999, há doze anos!

O grande risco para esse cenário seria justamente uma recuperação acelerada demais ou uma inflação galopante como resultado das medidas frouxas do Fed. Dessa forma, o Fed teria que subir as taxas de juros rápido demais, podendo matar a "bolha" em seu nascimento. Mas dificilmente Ben Bernanke agiria dessa forma preventiva. Não é seu perfil, além de que o Fed possui um mandato duplo: cuidar da inflação e do nível de emprego. Este, por sua característica de defasagem, ainda está muito aquém do desejado.

A probabilidade maior é de o Fed ficar "atrás da curva", aguardando uma recuperação significativa dos empregos antes de agir. Esse quadro é perigoso para a economia americana, mas vantajoso para uma aposta com horizonte mais curto no mercado de ações.

O "concurso de beleza" keynesiano explica o motivo: o importante é antecipar quem os jurados vão considerar mais bela, e não acertar quem de fato é a mais bela. À medida que dados econômicos mais fortes forem saindo e o Fed mantiver a política monetária frouxa, os investidores tenderão a comprar mais o cenário de recuperação sustentável, migrando em massa para a bolsa.

Quando e se isso ocorrer, aí será o momento de recuar e aumentar a cautela, pois os pilares da recuperação ainda serão muito frágeis, dependentes dos estímulos do governo. Os problemas acumulados na última década de bonança irresponsável ainda estão intocados. A grande derrota dos democratas para os republicanos no Congresso aumenta as chances de reformas mais estruturais na direção correta, invertendo um pouco o ímpeto quase socialista do governo Obama. Mas o abacaxi a ser digerido é grande e indigesto demais para se apostar em medidas realmente eficazes no curto prazo. Os americanos ainda têm um encontro marcado com a dura realidade à frente.

Mas isso não quer dizer que o S&P 500 não possa experimentar um expressivo rali nos próximos meses. É compreensível apostar na alta das ações americanas no futuro próximo, mesmo estando pessimista com o cenário num prazo mais longo. O risco não é desprezível, mas, afinal, não existe almoço grátis.
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Published on January 11, 2011 03:16

January 10, 2011

Nojento!

A única palavra que me vem à mente quando observo o uso político que alguns democratas estão fazendo do atentado contra a deputada Gabrielle Giffords é esta: nojento! A que ponto chega a frieza de alguns políticos? A mulher levou um tiro na cabeça, está em recuperação, e oportunistas da esquerda americana aproveitam o caso para explorá-lo politicamente, tentando associar um doente mental ao movimento Tea Party. É absurdo! É de embrulhar o estômago de qualquer pessoa minimamente decente. Que raça desprezível...

Segue o editorial sóbrio do WSJ sobre o assunto:

Murder in Tucson

On all available evidence, Jared Lee Loughner is a mentally disturbed man who targeted Congresswoman Gabrielle Giffords and anyone near her in Tucson on Saturday because she was prominent and they were tragically accessible. He joins Sirhan Sirhan, John Hinckley Jr. and many others whose derangement led them to horrible acts of violence. Whatever confused political motives he expressed seem merely to be part of the maelstrom of his mental sickness.

In a better world, no one would attempt to exploit his madness for political gain. We would instead focus on the contributions of Ms. Giffords, by all accounts a laudable public servant. We would celebrate the lives of the other victims, and we would praise the survivors who intervened to tackle Mr. Loughner and disarm him before he could kill others—like 74-year-old retiree Bill Badger, who was grazed in the head by a bullet before helping to restrain the shooter.

But the shooting news had barely hit the wires on Saturday before the media's instant psychoanalysis put the American body politic on the couch instead of Mr. Loughner. "Bloodshed Puts New Focus on Vitriol in Politics," declared a story in the New York Times, which focused primarily on the tea party and Sarah Palin in the context of mass murder. The story even hauled in opposition to health-care reform.

Politico, the Beltway website, chimed in by quoting a "veteran Democratic operative" advising the White House "to deftly pin this on the tea partiers," just as "the Clinton White House deftly pinned the Oklahoma City bombing on the militia and anti-government people" in 1995.

Shouldn't a publication insist that someone urging the exploitation of murder at least put his name on the record? The same goes for the anonymous Republican Senator quoted by Politico denouncing "town halls and cable TV and talk radio" in relation to Mr. Loughner.

Consider the kind of rhetoric that is being implicated as incendiary and beyond the pale. Mrs. Palin is being scored for having put contested Congressional seats such as Ms. Giffords's in cross hairs on her website before the last election. This is supposed to be an incitement to murder?

At least one left-wing site also put Ms. Giffords on such a "target" list because she is one of the Blue Dog Democrats who doesn't vote the party line. And yesterday right-wing websites were reprising this or that quote from Democrats and even President Obama invoking some martial or weapons metaphor to suggest they are as culpable. This is as offensive as the blame-Republican implications in the New York Times.

Judging from Mr. Loughner's own website, his mind was a mess of conspiracy theories, influenced by tracts like "Mein Kampf" and the "Communist Manifesto." His main complaint about government seems to be that he believes it is trying to control American "grammar." Yet this becomes an excuse for the media to throw him in with the tea partiers as "anti-government."

Perhaps we will learn more as the investigation unfolds. But so far this case couldn't be more different than that of Nidal Hasan, the Fort Hood killer who was motivated by Islamist hatred of America. Yet it is notable that the press corps was more restrained in identifying Major Hasan's Islamist role models than in immediately stretching to link Mr. Loughner with American politicians who universally denounce such violence.

Ponder the implication of this. A deranged soul shoots a public figure and we are supposed to change our political discourse and rule certain people and opinions out of bounds based on whatever incoherent ramblings Mr. Loughner published on his website?

Every two years we hold elections so that sane Americans can make a judgment on the policies of President Obama, John Boehner, tea party candidates and so on. But even though the people have recently had their say, in a typically raucous but entirely nonviolent fashion, we are supposed to put that aside and assess what a murderer with a mental illness has to tell us about the state of American politics, government and our national dialogue.

This line of argument is itself an attack on democratic discourse, and it is amazing that it even needs to be rebutted. Taking such an argument seriously will only encourage more crazy people to believe they can trigger a national soul-searching if they shoot at a political target. We should denounce the murders and the murderer, rather than doing him the honor of suggesting that his violence flows in any explainable fashion from democratic debate.

President Obama does have an opportunity here, but it is not to link—"deftly" or otherwise—his political opponents to Mr. Loughner. This would only further poison and polarize our public debate. Mr. Obama can lift the level of public discourse by explaining the reality of Mr. Loughner's illness and calling out those on the right and left who want to blame the other side for murder. That would be a genuinely Presidential act of leadership, and it would have the added advantage of being honest about the murders in Tucson.
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Published on January 10, 2011 05:27

January 7, 2011

A disputa pela Vale



Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

Segundo o jornal Valor Econômico, o sentimento dos sócios controladores da Vale é o de que Roger Agnelli, atual presidente executivo da empresa, já "esgotou um ciclo na mineradora", e deverá ser substituído em março, quando acaba seu contrato com a mineradora. A matéria fala que o processo de escolha do substituto não deverá ser politizado, mas não há certeza alguma disso no mercado. O receio ainda existe, e com razão.

Todos sabem das diferenças entre a presidente Dilma e Roger Agnelli, assim como é conhecido o apetite do PT pelo comando da maior empresa privada do país. A cabeça de Roger Agnelli está em jogo faz tempo, e parece que os próprios controladores da Vale, entre eles o Bradesco, decidiram que não compensa mais comprar esta briga e se indispor com o governo. Afinal, nosso governo concentra um poder quase ditatorial, e ainda há a questão da revisão dos royalties de minério em pauta. A Vale não quer um inimigo como Dilma, e com razão.

Ao que parece, os controladores estão se antecipando e sugerindo novos nomes, justamente para evitar que o governo decida, por meio dos fundos de pensão, politizar de vez o comando da empresa. Alguns desses nomes vazaram para o jornal, entre eles Rossano Maranhão, Octávio Azevedo, Fábio Barbosa, Wilson Brumer e Luciano Coutinho. Destes, apenas o último parece fora de lugar, por sua ligação próxima com o governo (Cotinho é o atual presidente do BNDES). Talvez o nome tenha sido colocado ao lado dos demais para evitar um avanço ainda pior do governo, com sugestões de políticos do partido ou coisa do tipo. As "boquinhas" do governo são infindáveis, mas a fome dos governantes e seus apaniguados é ainda maior!

Não sabemos ainda como esta batalha pelo comando da Vale vai terminar. O que está claro é que o jogo já está rolando nos bastidores, e deve ser barra pesada. A Vale tem feito inserções na mídia com freqüência assustadora, falando de suas conquistas, investimentos e importância para o progresso do país. Sem dúvida se trata de propaganda para mostrar quanto a empresa melhorou e ajudou o país após sua privatização. Seria de fato lamentável um retrocesso com sua politização pelo governo Dilma.
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Published on January 07, 2011 08:47

January 6, 2011

Battisti: Lula é cúmplice de terrorista

Meu vídeo antigo (mas ainda atual) sobre o caso Cesare Battisti, que o ex-presidente Lula, no último dia de seu governo, vergonhosamente decidiu manter no país em vez de extraditá-lo para cumprir prisão perpétua na Itália.
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Published on January 06, 2011 07:05

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
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