Eddie Rodrigues's Blog

September 1, 2020

“Eu Me Chamo Antônio”: poesia de bar desperta (des)afetos

Primeiro, encanto. Depois, desencanto. Por fim, cada um pro seu canto.

Dos guardanapos para livro, “Eu Me Chamo Antônio”, de Pedro Gabriel (Intrínseca, 2013) é uma composição de rabiscos escritos à caneta hidrográfica entre um chope e outro da sua vida noturna no Café Lamas, um bar tradicional da zona sul, na cidade do Rio de Janeiro.

Um livro que transborda poesia. O escritor desabafa em seus versos de bar a confusão de sentimentos que batem em seu peito, são desalinhados, intensos, poéticos, indagadores. Uma série de encontros e desencontros que fazem o escritor ir se despindo em palavras.

“Você distante, diz tanto sobre mim.”

Com o objetivo de compartilhar seu trabalho no Facebook, Pedro Gabriel logo se viu rodeado de pessoas que se identificavam com seus devaneios e se percebiam nas entrelinhas de suas palavras. Foi sucesso imediato, lhe redendo dois livros publicados.

“Ela é barulho, eu sou silêncio. Mas a gente se ama na mesma frequência.”

A cada página virada, você vai respirando afetos e desafetos, se perdendo nos traços da caligrafia que fazem as palavras dançarem no papel.

Cada página deste livro é uma obra de arte, e você não quer deixar passar nenhum detalhe.

-Um chope, por amor!

*Eddie Rodrigues para o Cinegrafando (2016)

“Eu Me Chamo Antônio”: poesia de bar desperta (des)afetos was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on September 01, 2020 08:53

August 19, 2020

Enrique Coimbra: “escrevo para não perder a sanidade”

Foto: Brenno Prado

Escritor independente, Enrique Coimbra é carioca de 27 anos e tem 4 livros publicados: “Série Literária Lado B” (2007), “Os Hereges de Santa Cruz” (2014), “Um Gay Suicida em Shangri-la” (2014), e “Sobre Garotos que Beijam Garotos”, (2015). Além de escritor, Coimbra é criador de conteúdo, palestrante, comanda o canal Enrique Sem H no Youtube e mantém a newsletter Clube do Enrique, onde fala sobre comportamento, sexualidade, autoaceitação, músicas, livros, filmes e séries, além de disponibilizar livros gratuitos. Lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, “Sobre Garotos que Beijam Garotos” foi publicado pelo selo FLUPP da editora Casa da Palavra, posteriormente, o autor rompeu o contrato e voltou a publicar de forma independente.

O que significa ser escritor no Brasil hoje?

Enrique Coimbra. Para o senso raso de uma lógica mercadológica, ser escritor é vender bastante livro. Para mim, ser um escritor no Brasil hoje é ter a chance de registrar de uma perspectiva completamente singular o espaço-tempo do território físico, social e político do país, somados às facetas da subjetividade humana moldadas e expressadas por quem vive e/ou conta essas histórias.

Como nasceu o escritor em Enrique Coimbra? Em qual momento escrever se tornou decisivo?

E.C. Não sei apontar em qual momento escrever foi decisivo ou quando o “Enrique escritor” nasceu, mas houve o ponto crítico, em 2013, em que eu abandonei o curso de Design Gráfico na faculdade apenas para escrever livros e manter o canal Enrique Sem H no YouTube. Desde pequeno eu brincava de fazer quadrinhos adaptando filmes norte-americanos famosos e inventava minhas histórias baseado no que lia em Batman ou no Drácula de Bram Stoker. A necessidade de escrever germinou em mim de forma orgânica e insistente, e hoje eu preciso escrever para ficar são.

O que você espera que seus livros provoque nos leitores?

E.C. Torço para que os leitores me digam o que sentiram, para que comentem sobre a obra e o que acharam, porque a criação é muito diferente da recepção. A subjetividade de quem escreve e quem lê se difere, então meu objetivo é apenas dar vida ao universo literário, pois esse universo será preenchido e experimentado pelos leitores. Acaba sendo uma viagem alucinógena e um exercício de empatia em vez de uma leitura qualquer — e isso não tenho como controlar. Apenas conto da melhor forma que posso o que imagino, reimagino e amplio, e o resto vai da química de quem lê.

Durante a adolescência, eu sempre procurei por livros com personagens gays e histórias que eu me enxergasse representado. Como é ser um escritor dessa temática num país ainda tão homofóbico como o Brasil? Você sente que tem uma responsabilidade especial com seus leitores?

E.C. Sim, sinto bastante. Essa foi minha primeira razão para lançar os livros, mesmo que de maneira independente, pois quando comecei, pouquíssima gente estava produzindo ou lendo literatura queer. Mas o nicho estava em ascensão há anos e atualmente estamos alcançando um ligeiro espaço. Preciso ser consciente sobre meus próximos passos, meus próximos personagens e meus próximos retratos sociais de maneira geral dentro da literatura. Preciso que minhas obras sirvam como “documentos” com costura ficcional amarrando e ilustrando os contextos do porquê de eu estar narrando as aventuras que narro, e do jeito que narro.

Foto: Brenno Prado

Qual sua relação com seus personagens? É possível dizer que a sua história e a dos personagens se confundem em algum momento?

E.C. Minha história, os bairros em que vivi ou por quais passei, as pessoas que conheci, as que não conheci, gente que eu vi: tudo não se “confunde”, mas se transforma em algo completamente claro e novo. Isso é fantástico.

Quem são suas referências de escritores?

E.C. Leio muito de muitos, de tudo. Acho que minhas referências são meus sentimentos e meu instinto.

Um escritor é antes de tudo um leitor. Nesse momento, qual é o seu livro de cabeceira?

E.C. Meu atual livro de cabeceira é “Uma Breve História do Tempo”, do Stephen Hawking. A ciência, a cultura e a sociedade têm influenciado minhas decisões artísticas.

Você lançou a segunda edição de “Os Hereges de Santa Cruz” e disponibilizou o e-book gratuitamente. Qual propósito, enquanto autor, pretende alcançar com essa decisão?

E.C. Minha proposta é disponibilizar gratuitamente, a quem interessar, uma literatura urbana, sombria e ocultista num gênero que, nacionalmente falando, peca muito — e é dominado por títulos estrangeiros. Chega de bruxos lá de fora: eu quero vê-los aqui dentro! Do meu lado! Onde eu moro! Como ninguém fez do jeitinho “gore” e sem varinhas mágicas que eu gostaria de ler, eu fui lá e fiz, misturando elementos de filmes como “Jovens Bruxas”, “Os Garotos Perdidos” e a série “Skins” numa narrativa 100% brasileira.

Os leitores podem esperar livros novos vindo por aí?

E.C. Pelo Clube do Enrique eu sempre aviso dos novos projetos, dos livros a serem lançados e vez ou outra ofereço alguns dos meus títulos gratuitamente, então sim, muitos novos títulos vão surgir! Escrever é meu maior prazer. É algo que farei até o fim da vida — sem precisar de nenhuma editora, nunca mais!

*Entrevista por Eddie Rodrigues, jornalista e colaborador do Cinegrafando

Enrique Coimbra: “escrevo para não perder a sanidade” was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on August 19, 2020 09:59

August 16, 2020

Elis, O Filme

https://medium.com/media/d2edc0c963639775b4db3e7143d23b3e/href

Com divina atuação de Andréia Horta na pele de Elis Regina e direção de Hugo Prata, Elis — O Filme desperta nostalgia e traz uma cinebiografia que emociona. A sensibilidade em contar a história de Elis Regina, conhecida como a maior cantora brasileira de todos os tempos, motiva o espectador desejar que o filme se estenda para que ele possa tranquilamente passar mais uma hora no cinema apreciando a vida e obra da artista que canta para fora.

Elis, que morreu aos 36 anos, no auge de sua carreira, muda-se para a cidade do Rio de Janeiro aos 16 anos, em 1961, na expectativa de dar visibilidade a sua carreira, e, rapidamente, sua voz passou a ser conhecida no Brasil e no mundo.

“Não quero lhe falar meu grande amor das coisas que aprendi nos discos, quero lhe contar como vivi e tudo que aconteceu comigo.”

Permeado de canções de sucesso da cantora e outras que ficaram conhecidas na sua voz, a atriz Andréia Horta se entrega, encarna o carisma e personalidade singulares de Elis Regina e vive momento de glória.

Para alguns fãs da artista, o filme é repleto de lacunas e deixa a desejar em certos momentos. Definido como conservador, Elis — O Filme, se preocupa muito mais em mostrar a grandeza de sua música do que seu tempo e convicções, hesita em explorar a relação da cantora com as drogas e não se aprofunda em seus últimos anos de vida.

*Eddie Rodrigues para o Cinegrafando (2016)

Elis, O Filme was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on August 16, 2020 14:09

Sully — O Herói do Rio Hudson

Sully — O Herói do Rio Hudsonhttps://medium.com/media/a4fe499cf94db4a55a8401bdd5515995/href

Sully — O Herói do Rio Hudson, do diretor Clint Eastwood, recria, com precisão técnica e envolvente enredo cinematográfico, a história das 155 pessoas que estavam a bordo do voo 1549 da US Airways, quando o comandante Chesley Sully Sullenberger (Tom Hanks), seguindo seus instintos e anos de experiência, toma uma decisão que viria a salvar inúmeras vidas ao decidir fazer um pouso forçado no Rio Hudson, em Nova York, no dia 15 de Janeiro de 2009.

Depois de ter as turbinas atingidas por pássaros levando à perda dos dois motores de uma só vez, os passageiros e tripulantes a bordo de um Airbus A320, definitivamente, se viram assistindo as suas vidas inteiras diante dos olhos em segundos e entraram para a história na mesma questão de tempo. Num dos raríssimos casos de pouso bem sucedido na água, os pilotos agiram com habilidade e destreza jamais vistas, evitando o que poderia ter sido uma tragédia e, para completar, sem acarretar nenhum número de mortos.

“Tenho mais de 40 anos no ar, mas no fim, serei julgado por 208 segundos.”

Apesar de toda a mídia ter se voltado para o caso e o ter aclamado como herói, assim como toda a população, Sully e o co-piloto Jeff Skiles (Aaron Eckhart) tiveram que passar por um rigoroso processo de investigação de acidentes aeronáuticos e provar que fizeram o que era possível e estava em suas mãos naquele momento. Na verdade, fizeram o impossível, suas ações salvaram a vida de todas as pessoas naquele avião. “Nunca ninguém foi treinado para um incidente como esse.”

BRENDAN MCDERMID/REUTERS

O longa é carregado de emoções desde o primeiro minuto. Para quem curte histórias sobre aviação, principalmente, o filme prende a atenção e supera expectativas, te deixa emotivo, tenso, apreensivo e ansioso para ver o desfecho dessa fascinante história baseada em fatos reais.

Sully — O Herói do Rio Hudson faz a audiência perder o fôlego e se imaginar no lugar daquelas pessoas exatamente no momento que poderia ter sido o último de suas vidas.

*Eddie Rodrigues para o Cinegrafando (2016)

Sully — O Herói do Rio Hudson was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on August 16, 2020 13:43

A experiência de participar da Mostra Canavial de Cinema

Foto: Eddie Rodrigues

Eram quatro da tarde quando partimos rumo à BR-232 com destino ao município de Nazaré da Mata. O objetivo era participar da 6ª Mostra Canavial de Cinema que aportou no assentamento Camarazal. A mostra, que já havia sido exibida em quatro cidades esse ano, agora era acolhida pelos trabalhadores rurais da Zona da Mata Norte no interior de Pernambuco.

Na estrada, o céu nos presenteava com um pôr do sol divino, pintando a paisagem num leve tom dourado e contemplativo. E fiquei me perguntando o que encontraria quando chegasse ao assentamento. Era minha primeira Mostra Canavial e eu não tinha muita informação de background. Quando estávamos prestes a sair da rodovia para entrar numa estrada de terra, o céu se encheu com tantas cores e o sol que já havia se escondido resplandecia luzes e sombras que desenhavam as nuvens formando um pôr do sol de encher os olhos. Naquele momento, decidi que estaria feliz com qualquer coisa que encontrasse no destino final porque só o deslocamento até ali já tinha valido a pena.

Chegamos por volta das cinco e meia da tarde. No local, uma igrejinha e dois postes ligados por um fio cheio de luzes contrastavam com uma tela de cinema ainda sendo montada no chão. Fiquei a contemplar as casas nos arredores, atento às particularidades da vida rural. Rapidamente, as cadeiras foram sendo distribuídas e a tela estava de pé. Alguns cachorros latiam na vizinhança e um som tocava distante. No céu agora tomado por nuvens, apenas uma estrela aparecia bem acima de nós. Um sapo passa correndo por entre as cadeiras e defronte, um Toyota bandeirante vermelho exibe uma faixa da Mostra compondo o cenário, me fazendo lembrar imediatamente do filme “Lisbela e o Prisioneiro”, de Guel Arraes.

Antes da exibição começar, fomos jantar na casa da Dona Janaína e Seu Mário, que abriram as portas para nós. Uma mesa farta estava posta com macaxeira, galinha, cuscuz, ovo, bolo de mandioca, café e sucos, deixando nossos estômagos devidamente satisfeitos. No início da projeção, as luzes se apagaram e algumas cadeiras foram timidamente sendo ocupadas. Aos poucos, famílias inteiras foram chegando acompanhadas dos filhos, avós com seus netos, crianças brincando com seus cachorros e casais de namorados que aproveitaram para fazer da noite, um encontro romântico. Nos arredores, algumas pessoas curiosas assistiam à distância.

As pessoas riam, ora silenciavam ora comentavam as cenas, mas posso assegurar que todas se identificavam e se reconheciam na tela. Era um momento único, compartilhado por toda a comunidade reunida. Não é todo dia que tem uma tela de cinema montada no assentamento Camarazal. Voltei para casa realizado. Foi uma noite simples, fora do habitual e cheia de surpresas, que deixou uma sensação plena e a vontade de voltar nas próximas edições. A 6ª Mostra Canavial de Cinema cumpre o seu papel e se consagra como projeto transformador de realidades.

*Eddie Rodrigues viajou à convite da Mostra Canavial de Cinema para o Cinegrafando (2017)

A experiência de participar da Mostra Canavial de Cinema was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on August 16, 2020 12:30

Sobre Garotos que Beijam Garotos

Foto: Eddie Rodrigues

“Odeio obviedade”. Não há frase melhor para descrever o protagonista de Sobre Garotos que Beijam Garotos, romance LGBTQ do escritor carioca Enrique Coimbra, publicado pelo Selo Flupp da Editora Casa da Palavra. Com direito a trilha sonora no Spotify para se sentir ainda mais próximo das emoções do personagem durante a leitura., Enzo é um jovem aspirante a escritor vivendo intensamente os melhores anos de sua vida regados a muita bebida alcoólica e maconha enquanto narra seus dramas afetivos, amores efêmeros e relações casuais num blog que deixa no leitor a sensação de ter vivenciado as abafadas noites do Rio de Janeiro junto com ele.

“Li teu blog. Você é honesto. Suas histórias são eróticas, mas não apelativas, são sinceras. Você conta experiências.”

Coimbra nos apresenta ao mundo de Enzo em toda sua complexidade, incertezas e desejos. Tudo que ele quer é ser feliz, independente, viver experiências memoráveis e preservar sua liberdade. Enzo, nosso protagonista, é só mais um jovem do século XXI tentando viver a vida da melhor maneira que puder. Apaixonado por aprendizados, sedento por criar histórias e eternizar momentos, mas cheio de dúvidas sobre o que fazer da própria vida. Um sonhador.

“Pode ser que você encontre alguém para a vida toda. Assim como pode ser que encontre alguéns a vida toda.”

Costumeiramente, Enzo se define desapegado e aventureiro, um garoto que não está disponível para relações de longa data, ele quer mesmo é aproveitar o melhor de cada dia, sem ter que dar satisfação a ninguém. O garoto de 21 anos era conhecido no seu círculo social por nunca permanecer com nenhuma pessoa, numa inquietude por viver coisas novas.

“Não acredito que amor dure pra sempre. Acredito que amar várias pessoas durante a vida não significa que nunca encontrei o amor de verdade.”

Através de aplicativos de encontros, ele conhece Breno que é fofo, gentil e está disposto a começar um relacionamento sério, considerando inclusive apresentá-lo aos pais, mas Enzo acaba se entregando mesmo é a Ian, um homem supostamente hétero que é fascinado por seus relatos no blog. Entretanto, apesar de terem momentos provocantes juntos, Ian se encontra totalmente confuso em relação a sua sexualidade e sentimentos que tem por Enzo. Eles precisam encarar seus medos, intuições, afinidades e verdades incômodas sobre si para que possam acalentar os anseios de seus corações.

Sobre Garotos que Beijam Garotos é aqueles livros de se ler numa única tarde, você nem percebe a hora passar.

Sobre Garotos que Beijam Garotos was originally published in Eddie Rodrigues on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on August 16, 2020 11:36