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Os Anos
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Tópico 2 -Os Anos- Tudo começa com uma fotografia. O poder da imagem. A imagem caleidoscópica. Temos necessidade de preservar a imagem? Temos necessidade de verbalizar a imagem?
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Plano Nacional de Leitura 2027
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Feb 01, 2021 12:58PM

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“É uma fotografia sépia, oval, colada no interior de um cartão dobrado com uma cercadura dourada, protegida com uma folha de papel gravado, transparente. Em baixo, Photo-Moderne, Ridel, Lillebonne (s.Inf.re).Tel.80. Um bebé gordo, com boca de quem está a fazer birra, cabelo castanho a formar um caracol no alto da cabeça, sentado meio nu sobre uma almofada em cima de uma mesa de madeira trabalhada. O cenário com nuvens, o florão da mesa, a camisa bordada, levantada na barriga – a mão do bebé a tapar o sexo -, a alça do ombro descaída sobre o braço rechonchudo parecem querer representar um cupido ou anjinho saído de uma pintura. Cada membro da família deve ter recebido uma cópia e tentado perceber imediatamente com que lado da família se parecia a criança. Neste conjunto de arquivos familiares – que deve datar de 1941 – é impossível não se reparar na encenação ritualizada do modo pequeno-burguês de entrar no mundo.“ ( página 17)
A imagem é forte, muitas vezes é silenciosa ... mas é fonte de informações, é herança, memória, emoção e expressão ( artística, linguística ...) são as razões pelas quais preservarmos a imagem.
Concordam?
A imagem é forte, muitas vezes é silenciosa ... mas é fonte de informações, é herança, memória, emoção e expressão ( artística, linguística ...) são as razões pelas quais preservarmos a imagem.
Concordam?

Porém, penso que hoje, devido à facilidade de captar imagens, de gravar vídeos, a imagem de tanto invadir, por vezes de forma agressiva, o nosso quotidiano perde o encanto e o significado que tão bem perpassam nesta obra.

Célia wrote: "Temos necessidade de verbalizar a imagem. Onde a preservamos melhor é na memória, onde ficam registos de acontecimentos, de músicas que ouvimos, de escritores que lemos, de pormenores às vezes tão ..."
Cada vez mais temos a necessidade de verbalizar a imagem.
Preservamos as imagens na memória, mas esta é seletiva... de todas as imagens, as músicas que ouvimos, os livros que lemos ... só alguns ficam na memória. Só alguns nos marcam... só alguns nos formam como pessoas. Curioso!
Cada vez mais temos a necessidade de verbalizar a imagem.
Preservamos as imagens na memória, mas esta é seletiva... de todas as imagens, as músicas que ouvimos, os livros que lemos ... só alguns ficam na memória. Só alguns nos marcam... só alguns nos formam como pessoas. Curioso!


Este livro faz o mesmo, mas com palavras. Foi por isso que também me senti a viajar no tempo com este livro.
E é interessante como a autora recorre à memória dentro da memória: uma matrioska em que evoca, através das palavras, a evocação de memórias em imagem (fotografia).
Concordo com a observações quanto à vulgarização da fotografia, que contribui, e muito, para a desvalorização da mesma. Antigamente, quando não havia este fenómeno da democratização da fotografia, mesmo uma foto mal executada era-nos preciosa porque era tão rara. Ao contrário de hoje em dia, em que a catadupa de fotos acaba por produzir ruído e confusão e, por isso, não conseguimos olhar para elas como o registo etéreo com que antigamente olhávamos.
message 8:
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Plano Nacional de Leitura 2027
(last edited Feb 17, 2021 01:33PM)
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rated it 4 stars
Nuno wrote: "Acho que depende do conceito de imagem. A imagem numa perspetiva física, de registo físico, está hoje banalizada. Temos imagens de tudo e mais alguma coisa e dificuldades em encontrar uma que tenha..."
Olá, Nuno,
obrigada pela partilha.
De facto, há uma grande panóplia de imagens ... e imagens de tudo, mas há imagens intocáveis, como por exemplo: " imagem de um filho recém nascido" ou de uma paisagem exótica... Penso que Annie Ernaux nos fala da fotografia / da imagem como o despertar de reminiscências que nos "obrigam" evocar as raízes familiares, dos tempos de nos fazem e a forma como o faz é muito elegante, muito bonita. A fotografia é o mote para o reencontro das emoções, das sensibilidade, assim como das razões que a levam a questionar o mundo para o melhor compreender.
Há quem afirme (não consigo citar, mas a ideia é esta) que Annie Ernaux é balzaquiana pela forma como observa criteriosamente para posteriormente desenvolver contextos e ideias; e que é proustiana porque transforma a memória em lugares de experimentação, de compreensão do mundo. Achei muito curiosa esta comparação.
Boas leituras.
Olá, Nuno,
obrigada pela partilha.
De facto, há uma grande panóplia de imagens ... e imagens de tudo, mas há imagens intocáveis, como por exemplo: " imagem de um filho recém nascido" ou de uma paisagem exótica... Penso que Annie Ernaux nos fala da fotografia / da imagem como o despertar de reminiscências que nos "obrigam" evocar as raízes familiares, dos tempos de nos fazem e a forma como o faz é muito elegante, muito bonita. A fotografia é o mote para o reencontro das emoções, das sensibilidade, assim como das razões que a levam a questionar o mundo para o melhor compreender.
Há quem afirme (não consigo citar, mas a ideia é esta) que Annie Ernaux é balzaquiana pela forma como observa criteriosamente para posteriormente desenvolver contextos e ideias; e que é proustiana porque transforma a memória em lugares de experimentação, de compreensão do mundo. Achei muito curiosa esta comparação.
Boas leituras.
Rui wrote: "Sendo eu um apaixonado por fotografia, só posso sublinhar o importante papel da fotografia no registo dos acontecimentos, sejam estes de carácter mais pessoal ou mais coletivo. Sem dúvida de que se..."
Olá, Rui,
obrigada pela partilha.
É muito bonita a ideia da " memória dentro da memória." :)
Penso que hoje há sem dúvida uma vulgarização e democratização da imagem fotográfica, mas também há muito, imenso, ruído .... a fotografia enquanto arte está mais acessível, mas não se vulgarizou.
boas leituras.
Olá, Rui,
obrigada pela partilha.
É muito bonita a ideia da " memória dentro da memória." :)
Penso que hoje há sem dúvida uma vulgarização e democratização da imagem fotográfica, mas também há muito, imenso, ruído .... a fotografia enquanto arte está mais acessível, mas não se vulgarizou.
boas leituras.
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