“Ontem passeava com o meu amigo Jawdah quando começou a chover. Corremos a abrigar-nos e rimo-nos, pois ficámos completamente encharcados. Pouco depois, mal o tempo melhorou, fomos para casa. Eu fui ao terraço pendurar as minhas roupas, todas molhadas, pois já estava sol. Por coincidência, o meu amigo passou na rua nesse momento, depois de se trocar. Ao passar por baixo do meu estendal, caíram-lhe uns pingos na cabeça. Pensou que estava a começar a chover outra vez, mas eu chamei-o. Quando ele percebeu que os pingos eram da minha roupa, ficou furioso. Insultou-me, subiu as escadas e agrediu-me. Um homem suporta muita água, desde que ela venha dos céus, mas é incapaz de suportar umas gotas se elas vierem de um estendal. Nenhum homem dá socos no céu, mas as pessoas ao nosso lado são mais fáceis de culpar. Com um terramoto ninguém fica furioso, mas se eu abanar alguém sou agredido.”
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Afonso Cruz,
Para Onde Vão Os Guarda-Chuvas