Como se fosse um monstro
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Read between June 1 - June 30, 2023
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Ela apontou para a própria barriga flácida, o saco de carne aposentado de seu ofício como mula da felicidade alheia.
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Éguas parideiras de pelagem curta que eram montadas pelas costas e depois pariam em pé, deixando um rastro de sangue e vísceras na palha do curral, pouco antes de serem vendidas. Que eram, de merecimento, tão valiosas, mas tinham os olhos mais tristes entre todos os animais que morriam.
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Naquele exato momento, enquanto Rose tocava a campainha de uma daquelas mansões, percebeu que estava muito longe de casa, tão longe que talvez não soubesse mais voltar.
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Se conseguisse dar nome aos próprios sentimentos, poderia ter chorado. Mas ainda não era essa pessoa. Ainda nem sabia sofrer.
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Começou a desconfiar que o casal sofria de um mal incurável, uma espécie de solidão que se manifestava especialmente quando estavam juntos.
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Damiana entendeu, do seu próprio jeito, que o medo da solidão podia tirar a coragem das pessoas.
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tinham conhecimento do projeto do livro, mas também sentiam que havia algo errado com a filha, um maremoto desconhecido que parecia transformá-la em silêncio.
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Achava possível resistir ao que o corpo pedia, mesmo quando acordava no meio da noite assaltada por uma ardência entre as pernas, e se abster do amor era uma forma confortável de proteção.
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Sentia que ele transpirava malícia e ganância, que era mentiroso e falso como moedas de chocolate embrulhadas em papel dourado, mas não acreditava que fosse perigoso de verdade.
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Enquanto se rendia, e se rendendo ia caindo, pensou que estava perdida. Joaquim tinha cruzado a fronteira das pessoas que de repente se tornavam impossíveis de ignorar. Agora colonizaria todos os seus pensamentos e ocuparia espaços por tanto tempo inabitados. Era uma sensação deliciosa, mas também terrível, porque fazia parecer que, ao contrário do que imaginava, não precisava ser sempre tão sozinha.
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O primeiro foi Mateus, o ex-bailarino bissexual que estava explorando o desejo por mulheres com curiosidade e energia. Gabriela amava o corpo dele, que parecia esculpido em mármore, mas o fogo acabou depois de um ménage malsucedido com um amigo em comum. O segundo dessa safra particularmente frutífera se chamava Tiago, trabalhava com ciência da computação, acreditava em ets e era lindo mas não sabia disso. Depois, vieram João e Pedro, dois barbudos com olhos de caramujo que fumavam maconha demais e gostavam de ouvir Belchior. Eram tão parecidos que Gabriela precisou confirmar, após algumas ...more
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Mesmo que seu programa preferido fosse ir com ele à feira sábado de manhã e depois fazer o almoço e cochilar no sofá. Mesmo que andasse viciada em dormir abraçando aqueles ombros largos e pontilhados de pintinhas. Ainda não estava de joelhos.
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Esquecia seus grandes propósitos, seu motivo para estar nesse país e a investigação de suas raízes. De repente estava satisfeita com o que era possível, e até seus pais perceberam a mudança. Diziam que ela estava leve. Ela que nem sabia que andava com tanto peso nas costas.
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Pagaram e foram embora logo depois, atrapalhando-se com os guarda-chuvas ao sair, porque chovia. Para piorar tudo, chovia. No meio da calçada, Lucas tentou dizer alguma coisa, mas só abriu e fechou a boca, como um peixe de aquário. Gabriela, por sua vez, o abraçou rápido, deu as costas e começou a caminhar com tanta força que parecia querer furar a calçada com os pés, espirrando água para todo lado. Chegou no trabalho com as meias enlameadas e desabou na cadeira em um estado quase catatônico.
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Gabriela não quis se despedir. Em vez disso, bloqueou Lucas em todas as redes sociais e decidiu que esquecê-lo era o melhor a ser feito. Ela era muito boa nisso.
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Ele foi o único a ter um orgasmo. O orgasmo que, dois meses mais tarde, deixou Gabriela chocada com a consequência, porque acabou de fato grávida do próprio desespero.
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Esse é o grande problema das obsessões, no entanto. Elas gostam de carne viva e nunca dormem. Nem mesmo quando a gente é feliz.