Não inventa, Mariana

by Mariana Becker

Hábitos diferentes. O bom de viajar é isso. Experimentar jeitos diferentes de viver a vida e adotar o que melhor lhe convém.

Aliás, essa é uma lição para quem pretende viajar a lugares distantes: são os jovens que normalmente falam outras línguas, e as meninas estão sempre mais dispostas a treinar o novo idioma.

É bom quando o silêncio tem um valor na conversação. Talvez seja por isso que eu me encante com tímidos. Adoro. Meu irmão, meu pai, meus melhores amigos. Para eles, o silêncio não é o nada. O silêncio é um todo imenso que contém um mundo de sentimentos e pensamentos. O Japão, aos meus olhos ocidentais, é uma nação de tímidos. Precisos. Delicados, na sua imensa maioria. Mas, claro, como todos os tímidos, podem ser irredutíveis em suas crenças e reservados demais para deixar as palavras que são necessárias saírem. O que é essencial para a saúde do coração. Falar para se entender. A palavra e o tempo.

Às vezes, precisamos ir para bem longe para sermos pegos de surpresa por coisas legais que sempre estiveram perto da gente.

Vou te dizer! Para a pessoa — no caso, eu mesma —, ser megaeficiente na própria vida, não dá para ficar pensando, imaginando. Ou teoriza ou faz.

Da Emma é um restaurante italiano em Montreal que funciona há 28 anos no porão de uma antiga prisão feminina.

DESENVENENAMENTO Pensei bem antes de escrever. Não pela palavra esquisita, mas porque eu não sabia quanto tempo e atenção deveria dedicar ao tema. Tenho feito um exercício. Ao mal destilado pelo outro, ao fel servido a mim, à acidez alheia, à batata quente posta nas minhas mãos, tento dedicar-me o mínimo possível. Me exercito a largar a batata no chão imediatamente e seguir o meu caminho. Repito para mim mesma que aquilo não é direcionado a mim, mas ao mundo daquela pessoa. Pegue a batata quem quiser assumir a briga com o provocador, quem tiver disposição de provar o amargor do recalque alheio, quem quiser deixar aprofundar e arder a ferida da navalhada gratuita que poderia ser apenas um arranhão passageiro. Às vezes, é difícil identificar se somos mesmo a causa daquelas palavras, se contribuímos para aquela agressão acontecer. No entanto, é preciso ter bom senso para avaliar o que o outro está vivendo naquele momento, se ele anda apertado, descontente, infeliz, doente. Ou se sou eu que ando infeliz, apertada, doente. E se a resposta não vem pelo diálogo interno ou pela conversa com o outro, é melhor parar de cavocar a questão. A solução se desvenda com o tempo e, enquanto isso, não fazem bem as gotas homeopáticas de fel. Perguntei à minha mãe como se escreve “fel”. Ela me respondeu: “Não sei. Nunca escrevi essa palavra”. Tá bom pra você?

Olhar para o horizonte do mar azul dá um alívio nesse meu vendaval interno. Não sei explicar — até sei, mas o temporal é grande.

Acho que falar mal dos outros faz mal pra gente. Faz mesmo. Além da perda de tempo. Na minha experiência, cada vez que faço algum comentário maldoso sobre alguém, Deus ou o destino, invariavelmente, me pregam uma peça. Ou dou uma topada, ou algo não se resolve, ou eu cometo exatamente o mesmo pecado do qual reclamei ou de que fiz troça. Por isso, tento seguir uma máxima do meu pai: se não tens nada de bom para dizer sobre a pessoa, simplesmente não fale dela.