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Eu sabia que tinham fervilhado dentro de mim a vida toda e imploravam para vir à tona, mas eu não os deixava sair, não deixava de propósito, eu não deixava sair nada.
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Não só não consegui me tornar maldoso como fui incapaz de me tornar qualquer coisa: nem mau nem bom, nem crápula nem puro, nem herói nem inseto. Agora, vou vivendo no meu canto e atiço a mim mesmo com um consolo pérfido, que não serve para nada, e que vem da ideia de que um homem inteligente não pode, a sério, tornar-se coisa nenhuma e que só um imbecil se torna alguma coisa.
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Apesar dos pesares, estou firmemente convencido de que não só muita consciência como até qualquer consciência é uma doença.
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Acaso uma pessoa consciente pode respeitar a si mesma, por pouco que seja?
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Os senhores estão convencidos de que aí, então, o ser humano, por si só, voluntariamente, vai parar de se equivocar e, por assim dizer, a contragosto, não vai querer separar sua vontade de seus interesses normais.
Afinal, o ser humano é imbecil, prodigiosamente imbecil. Ou melhor, mesmo que não seja um imbecil completo, em compensação, ele é a tal ponto ingrato que, se a gente procurar outro igual, não vai encontrar.
Eu acho que a melhor definição do ser humano é esta: criatura bípede e ingrata.
Mas por que ele também adora, até as raias da paixão, a destruição e o caos?
Entretanto, estou convencido de que o ser humano jamais abrirá mão do sofrimento verdadeiro, ou seja, da destruição e do caos. O sofrimento, afinal de contas, é a causa única da consciência.
E, aliás, fiquem sabendo de uma coisa: estou convencido de que é preciso manter nosso irmão do subterrâneo seguro com rédea curta.
Final da história, senhores: é melhor não fazer nada! É melhor a inércia consciente! Portanto, viva o subsolo!
agora eu quero exatamente pôr isto à prova: será que é possível ser inteiramente sincero, pelo menos consigo mesmo, e não ter receio de toda a verdade?
Tinha vontade de usar as impressões exteriores para sufocar tudo que se acumulava, dia após dia, dentro de mim. E, entre as impressões exteriores, a única viável era a leitura.
Mas agora, de repente, absurda, repulsiva como uma aranha, me veio com clareza a ideia da depravação, que, sem amor, brutal e despudorada, começa sem rodeios por aquilo que coroa o amor verdadeiro.
Além do mais, o homem nunca pode servir de exemplo para a mulher.
“E como foram poucas, tão poucas”, pensava eu, de passagem, “as palavras necessárias, como foram poucos, tão poucos os idílios necessários (sim, e ainda por cima um idílio forçado, livresco, fictício), para revolver, num piscar de olhos, toda uma alma humana a meu bel-prazer. Isto sim é que é virgindade! Isto sim é que é frescor do solo!”
Aconteceu o seguinte: ofendida e esmagada por mim, Liza compreendia muito mais do que eu imaginava. De tudo aquilo, Liza compreendia o que as mulheres sempre compreendem, antes de qualquer outra coisa, quando amam com sinceridade, ou seja: que eu mesmo era infeliz.
Afinal, sem exercer poder e tirania sobre alguém, não sou capaz de viver…
Mas… mas, afinal, com raciocínios, não se pode explicar coisa nenhuma, portanto, de nada adianta raciocinar.
Nem em meus sonhos subterrâneos eu concebia o amor de outra forma senão como luta; o amor começava sempre pelo ódio e terminava na submissão moral, só que, depois disso, eu não conseguia imaginar o que fazer com aquele objeto submisso.
Eu podia esperar que ela fizesse aquilo. Podia esperar? Não. Eu era tão egoísta, tinha tão pouco respeito pelas pessoas, na verdade, que nem era capaz de imaginar que ela o fizesse. E aquilo eu não suportei.
Para nós, é opressivo até ser gente — gente com corpo e sangue próprios, de verdade; temos vergonha disso, consideramos isso uma humilhação e fazemos de tudo para nos tornarmos uns tais de seres humanos em geral, que nunca existiram. Nós já nascemos mortos e faz tempo que não nascemos mais de pais vivos, e isso nos agrada cada vez mais. Estamos tomando gosto.