Hamlet
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Read between February 3 - February 4, 2025
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No tempo em que Roma era só louros e palmas, Pouco antes da queda do poderoso Júlio, As tumbas foram abandonadas pelos mortos Que, enrolados em suas mortalhas, Guinchavam e gemiam pelas ruas romanas; Viram-se estrelas com caudas de fogo, Orvalhos de sangue, desastres nos astros, E a lua aquosa, cuja influência domina o mar, império de Netuno, Definhou num eclipse, como se houvesse soado o Juízo Final.
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Chega de andar com os olhos abaixados Procurando teu nobre pai no pó, inutilmente, Sabes que é sorte comum – tudo que vive morre, Atravessando a vida para a eternidade. Hamlet: Sim, madame, é comum. Rainha: Se é, por que a ti te parece assim tão singular? Hamlet: Parece, senhora? Não, madame, é! Não conheço o parece. Não é apenas o meu manto negro, boa mãe, Minhas roupas usuais de luto fechado, Nem os profundos suspiros, a respiração ofegante. Não, nem o rio de lágrimas que desce de meus olhos, Ou a expressão abatida do meu rosto, Junto com todas as formas, vestígios e exibições de dor, Que ...more
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Ó Deus, ó Deus! Como são enfadonhas, azedas ou rançosas, Todas as práticas do mundo! O tédio, ó nojo! Isto é um jardim abandonado, Cheio de ervas daninhas, Invadido só pelo veneno e o espinho – Um quintal de aberrações da natureza.
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Horácio: Senhor – eu vim pra assistir aos funerais de seu pai. Hamlet: Ou seja: veio assistir aos esponsais de minha mãe. Horácio: É verdade, senhor; foram logo em seguida. Hamlet: Economia, Horácio! Os assados do velório Puderam ser servidos como frios na mesa nupcial.
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Hamlet: Me deem amizade – eu lhes darei a minha.
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Quanto a Hamlet e ao encantamento de suas atenções, Aceita isso como uma fantasia, capricho de um temperamento, Uma violeta precoce no início da primavera; suave, mas efêmera, Perfume e passatempo de um minuto – Não mais.
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Os amigos que tenhas, já postos à prova, Prende-os na tua alma com grampos de aço; Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume Mal saído do ovo.
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Laertes: Adeus, Ofélia, e não esquece o que eu disse. Ofélia: Está encerrado na minha memória, E só você tem a chave.
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Eu sei bem, Quando o sangue ferve, como a alma é pródiga Em emprestar mil artimanhas à língua. São chispas, minha filha, dão mais luz que calor E se extinguem no momento da promessa – Não são fogo verdadeiro.
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Todos os nossos feitos, Por mais belos que sejam, ficam ofuscados Por esse costume inglório. Isso acontece também com indivíduos que, Por nascerem com algum defeito natural, Do qual não são culpados (a Natureza não permite Que escolham sua origem), têm um temperamento exaltado, E rompem as fronteiras e defesas da razão; Ou que, por adquirirem hábitos nocivos, Se chocam com os comportamentos bem aceitos. Essas pessoas, digo, pela nódoa de um estigma – Marca da natureza ou azar do destino – Terão todas as suas virtudes desprezadas, Sejam elas tão altas ou infinitas quanto o homem é capaz. Uma ...more
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Minha vida não vale um alfinete E à minha alma ele não pode fazer nada, Pois é tão imortal quanto ele.
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E serias mais insensível do que as plantas adiposas Que apodrecem molemente nas margens do rio Letes Se ficasses impassível diante disso.
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Assim, dormindo, pela mão de um irmão, perdi, ao mesmo tempo, A coroa, a rainha e a vida. Abatido em plena floração de meus pecados, Sem confissão, comunhão ou extrema-unção, Fui enviado para o ajuste final, Com todas minhas imperfeições pesando na alma.
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Hamlet: Não há em toda Dinamarca um só canalha Que não seja... um patife consumado. Horácio: Meu senhor, não é preciso um fantasma sair da sepultura Pra nos dizer isso.
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Horácio: Ó dia, ó noite! Isso é espantosamente estranho! Hamlet: Portanto, como estranho, deve ser bem recebido. Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, Do que sonha a tua filosofia.
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“Duvida que o sol seja a claridade, Duvida que as estrelas sejam chama, Suspeita da mentira na verdade, Mas não duvida deste que te ama!
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Ultimamente – e por que, não sei – perdi toda alegria, abandonei até meus exercícios, e tudo pesa de tal forma em meu espírito, que a Terra, essa estrutura admirável, me parece um promontório estéril; esse maravilhoso dossel que nos envolve, o ar, olhem só, o esplêndido firmamento sobre nós, majestoso teto incrustado com chispas de fogo dourado, ah, pra mim é apenas uma aglomeração de vapores fétidos, pestilentos. Que obra-prima é o homem! Como é nobre em sua razão! Que capacidade infinita! Como é preciso e benfeito em forma e movimento! Um anjo na ação! Um deus no entendimento, paradigma dos ...more
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Quem visse isso embeberia a língua de veneno Pra condenar a Fortuna por traição.
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Mas eu, Idiota inerte, alma de lodo, Vivo na lua, insensível à minha própria causa, E não sei fazer nada,
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Pelas chagas de Cristo, eu o mereço! Pois devo ter fígado de pomba, sem o fel Que torna o insulto amargo, Ou já teria alimentado todos os abutres destes céus Com as vísceras desse cão. Ah, vilão obsceno e sanguinário! Perverso, depravado, traiçoeiro, cínico, canalha! Ó, vingança! Mas que asno eu sou! Bela proeza a minha. Eu, filho querido de um pai assassinado, Intimado à vingança pelo céu e o inferno, Fico aqui, como uma marafona, Desafogando minha alma com palavras, Me satisfazendo com insultos;
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Morrer – dormir – Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte Quando tivermos escapado ao tumulto vital Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão Que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, A prepotência do mando, e o achincalhe Que o mérito paciente recebe dos inúteis, Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso Com um simples punhal? Quem aguentaria fardos, Gemendo e suando numa vida servil, Senão porque o ...more
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Ou preferes ser geratriz de pecadores? Eu também sou razoavelmente virtuoso. Ainda assim, posso acusar a mim mesmo de tais coisas que talvez fosse melhor minha mãe não me ter dado à luz. Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais crimes na consciência do que pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los, tempo para executá-los. Que fazem indivíduos como eu rastejando entre o céu e a terra? Somos todos rematados canalhas, todos! Não acredite em nenhum de nós. Vai, segue pro convento.
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E eu, a mais aflita e infeliz das mulheres, Que suguei o mel musical de suas promessas, Veio agora essa razão nobre e soberana, Descompassada e estrídula como um sino rachado e rouco. A forma incomparável, a silhueta da juventude em flor, Queimada no delírio! Oh, desgraçada de mim, Que vi o que vi, vendo o que vejo!
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Ora, se isso é exagerado, ou então mal concluído, por mais que faça rir ao ignorante só pode causar tédio ao exigente; cuja opinião deve pesar mais no teu conceito do que uma plateia inteira de patetas.
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Desde quando minha alma preciosa se tornou senhora de vontade própria, E aprendeu a distinguir entre os homens, Ela te elegeu pra ela. Porque você foi sempre uno, Sofrendo tudo e não sofrendo nada; Um homem que agradece igual Bofetadas e carícias da fortuna... Felizes esses Nos quais paixão e razão vivem em tal harmonia Que não se transformam em flauta onde o dedo da sorte Toca a nota que escolhe. Me mostra o homem que não é escravo da paixão E eu o conservarei no mais fundo do peito, É, no coração do coração – o que faço contigo.
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Rainha (Atriz): O sol e a lua darão mil voltas assim Antes que o nosso amor um dia tenha fim. Mas que infeliz eu sou!, tens estado tão mal, Tão longe de tua alegria habitual, Que eu temo por ti. Mas não tema esse temor; As mulheres são assim, no medo e no amor, Nelas os dois vivem sempre irmanados E, ou não são nada, ou são extremados. O meu amor, tu sabes, não pode ser maior, E quando o amor é grande, o medo não é menor. Num amor tão enorme qualquer dúvida assusta Pequenos medos crescem; e o amor, à sua custa.
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O mundo não é eterno e tudo tem um prazo Nossas vontades mudam nas viradas do acaso; Pois esta é uma questão ainda não resolvida: A vida faz o amor, ou este faz a vida?
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Tu, mistura fétida, destilada de ervas homicidas, Infectadas por Hécate com tripla maldição, três vezes seguidas, Faz teu feitiço natural, tua mágica obscena, Usurparem depressa esta vida ainda plena.
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Não quer tocar esta flauta? Guildenstern: Não o saberia, senhor. Hamlet: Por favor! Guildenstern: Acredite-me, eu não sei. Hamlet: Mas eu suplico. Guildenstern: Não sei nem onde pôr os dedos, meu senhor. Hamlet: É tão fácil quanto mentir. Governa-se estes buracos com estes dedos e o polegar, dá-se ar com a boca, e ela nos discursa uma música eloquente. Veja só: aqui estão os registros. Guildenstern: Mas eu não consigo comandar daí qualquer declaração harmoniosa; me falta a perícia. Hamlet: Pois veja só que coisa mais insignificante você me considera! Em mim você quer tocar; pretende conhecer ...more
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Rainha: Hamlet, ofendeste muito teu pai. Hamlet: Mãe, a senhora ofendeu muito meu pai. Rainha: Vamos, vamos, tu respondes com uma língua tola. Hamlet: Vem, vem, a senhora pergunta com uma língua indigna.
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Rainha: Oh, Hamlet, você partiu meu coração em dois. Hamlet: Pois joga fora a pior parte dele, E vive mais pura com a outra metade. Boa noite. Mas não vá pra cama de meu tio; Simula uma virtude, já que não a possui.
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Rosencrantz: Me recuso a compreendê-lo, senhor. Hamlet: Fico contente em saber. O discurso patife dorme no ouvido idiota.
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Vejo a morte iminente de vinte mil homens Que, por um capricho, uma ilusão de glória, Caminham para a cova como quem vai pro leito, Combatendo por um terreno no qual não há espaço Para lutarem todos; nem dá tumba suficiente Para esconder os mortos? Oh, que de agora em diante Meus pensamentos sejam só sangrentos; ou não sejam nada!
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Ó céus! É possível que a razão de uma donzela Seja tão frágil quanto a vida de um velho? A natureza é sutil no amor e, nessa sutileza, Sacrifica um pedaço precioso de si própria Àquele a quem ama.
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Quem é esse cuja mágoa Se adorna com tal violência; cujo grito de dor Enfeitiça as estrelas errantes, detendo-as no céu, Petrificadas como espantadas ouvintes? Esse sou eu, Hamlet, da Dinamarca.
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Fui impulsivo, Mas louvada seja a impulsividade, Pois a imprudência às vezes nos ajuda Onde fracassam as nossas tramas muito planejadas. Isso nos deveria ensinar que há uma divindade Dando a forma final aos nossos mais toscos projetos...
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Em absoluto; desafio os augúrios. Existe uma previdência especial até na queda de um pássaro. Se é agora, não vai ser depois; se não for depois, será agora; se não for agora, será a qualquer hora. Estar preparado é tudo. Se ninguém é dono de nada do que deixa, que importa a hora de deixá-lo? Seja lá o que for!