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Mas enquanto tentava encontrar consolo em mim mesma, toquei meu rosto, meu pescoço e senti a textura fria e delicada ao redor da minha pele. Engasguei ao tatear e perceber que era o colar que Theo tinha me dado no primeiro dia com eles, ao redor da árvore de natal. Suspirei de alívio através do choro. Não tinha sido um sonho e a prova estava ali, em formato de coração com “o amor é mágico” gravado em letras bonitas na prata.
E se eu me esquecesse? E se não pudesse me lembrar mais da forma como os olhos de Theo eram verdes e calorosos, e se eu perdesse a imagem dos cachinhos adoráveis de Zola ou das bochechas de Annie?
— Que confusão é essa? — uma voz grave perguntou e eu congelei. Meu sorriso dando lugar a uma expressão incrédula quando me virei. Eu tinha batido a cabeça forte demais. Só podia ser isso. Porque naquele momento eu estava vendo Theo Jones, em pé e diante de mim.
— Não se preocupe… Maeve, não é? — eu balancei a cabeça positivamente, querendo me chutar por nunca ter prestado atenção nos meus vizinhos. Ele era o tipo educado que sabia o nome de todo mundo, e eu era a esquisitona. — Theo vai cuidar de você.
“Você não parecia tão confuso quando eu sentei na sua cara em cima dela”, quis falar, mas a possibilidade de acabar sozinha no meio da rua porque ele ficaria com medo parecia crescer.
— A vida às vezes é terrivelmente cruel — repeti as palavras que ele tinha me dito, mesmo que não soubesse —, mas quando não é, ela é fantástica. Se pudermos olhar pelo lado bom, chegamos a tempo — falei com um meio sorriso, que ele retribuiu.
— Sabe o que me dá mais raiva? — a voz conhecida soou na outra ponta do corredor, por onde tinha saído. Theo estava respirando forte, como se tivesse corrido na volta até ali, em cada uma de suas mãos um copo de café. — Eu assisti você entrar e sair do seu apartamento todas as vezes que fui visitar meu irmão, mas nunca tive coragem de falar com você. Rocco dizia: ela parece triste, mano, melhor deixá-la em paz. Mas nunca quis te deixar em paz, e aí você aparece na minha porta e um monte de coisas estranhas acontecem — caminhou às pressas até o meu lado, os olhos cheios de uma energia
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— Que bom — riu —, vamos começar de novo. Oi, sou Theo Jones, é um prazer conhecê-la — estendeu sua mão em minha direção. — Oi, sou Maeve Carter — respondi, segurando sua mão, para nunca mais soltar. — O prazer é todo meu em conhecê-lo, Theo.
Theo e eu namorávamos há apenas seis meses quando Louise, a assistente social, tinha dito que muitos pais em potencial procuravam pelo perfil das nossas meninas, que em breve elas entrariam para a lista e que elas poderiam ser mandadas para qualquer canto no país. Eu chorei por horas naquele dia. Nos casamos duas semanas depois no cartório do centro da cidade, para que nós dois pudéssemos entrar com o pedido de guarda.
Eu nunca me casei de vestido branco e longo, ou valsei a luz de holofotes como as fotos na casa do futuro tinham mostrado. Mas eu também não esperei anos até minhas filhas se tornarem oficialmente minhas.
Me tornei a escritora que tinha visto que um dia seria, e Theo foi contratado pelo Museu Preston ainda no mestrado.
Graças ao meu casamento adiantado, meu cunhado e meu melhor amigo tinham se conhecido muito antes do esperado, se apaixonaram e resolveram adotar seu próprio bebê. A vida não era só boa, ela era melhor do que a encomenda.
— Você vai querer? — a senhora que tinha me atendido perguntou gentil, e eu balancei a cabeça negativamente. — Ela não vai querer, Zola — a do balcão se virou contente para avisar a da porta. — Certo, Annie — a mulher enxugou as mãos no avental e voltou para dentro da cozinha. — Eu tinha ouvido direito? Elas se chamavam Annie e Zola? Era loucura minha ou os olhos castanhos das velhinhas eram perturbadoramente parecidos com os das minhas filhas? Certo. Eu estava vendo coisas.
Eu me lembrava vagamente de ter sido recebida por uma velhinha quando tinha comprado o cupcake. Ou seria minha mente me pregando peças, colocando imagens que não tinham acontecido no meio de memórias.
— Vamos ter uma padaria quando a gente crescer, Zô? A gente podia fazer cupcake — Vai ser demais! — Annie disse, animada, e eu me sentia à beira de um colapso. — Vamos deixar esse papo mais para o futuro, okay? — pedi. Tudo que eu menos precisava era saber de mais uma dobra do tempo inesperada. Ainda mais hoje, às vésperas do dia em que tudo tinha mudado.
— Do que você está falando, amor? — questionei e ele fez uma careta ainda mais criminosa. — Ele estava aqui, parece que foi abandonado, estava todo perdido e balançou o rabinho, eu não pude… me desculpe, sei que ainda não conversamos sobre isso, mas… — abriu a porta de trás e não foi qualquer versão temporalmente mágica de um de nós que me recebeu, mas um filhote de cachorro que pulou direto em minha direção. — Um cachorrinho! — Zola gritou animada quando o pet ficou sobre as patas traseiras para receber seu carinho. Era só um bebê, no máximo um ano, fofo demais para ser verdade. — Vamos ficar
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— Que tal Hope? — falei e ele beijou meu ombro, sussurrando “perfeito”. — Mas ele pode ter um segundo nome. — Hope Stitch — Zola disse, afagando o pelo preto do nosso novo familiar. — Hope Stitch Carter-Jones — Annie disse feliz. — Tão lindo.