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a traição sempre põe um dos parceiros na posição de quem sabe, enquanto deixa o outro no escuro.
Todo romance precisa de um pano de fundo e de uma plateia, mesmo — ou talvez principalmente — os genuínos, romance não é algo que se possa esperar que um casal crie do nada sozinho, você e outra pessoa, vocês dois juntos, não só uma, mas inúmeras vezes; o amor em geral é fortalecido pelo contexto, alimentado pelo olhar dos outros.
É uma coisa horrível, amar e não saber se o seu amor é correspondido. É algo que gera as piores sensações — ciúme, raiva, ódio de si mesma — e leva uma pessoa a estados mais baixos.
Christopher era um homem charmoso, e o charme é feito de superfícies — todo homem charmoso é um impostor.
No fim, um relacionamento não passa de duas pessoas, e entre duas pessoas sempre haverá espaço para surpresas e mal-entendidos, coisas que não podem ser explicadas. Talvez uma outra maneira de enxergar a mesma questão seja dizer que, entre duas pessoas, sempre haverá espaço para falhas da imaginação.
As pessoas são capazes de viver num estado de permanente decepção, há muita gente que não se casa com quem esperava se casar, quanto mais viver a vida que esperava viver, outras pessoas inventam novos sonhos para substituir os antigos, encontrando novos motivos de descontentamento.
um dos dilemas que uma mulher às vezes enfrenta, não só uma mulher, mas qualquer pessoa: ela cativa um homem sem fazer esforço, um homem que não deseja, que a segue por todo lado feito um cachorrinho, por mais que seja enxotado ou maltratado, enquanto todos os esforços que ela faz para atrair e fisgar outro homem, aquele que ela de fato deseja, não dão em nada. O charme não é universal, o desejo frequentemente não é correspondido e acaba se acumulando e formando poças nos lugares errados, tornando-se tóxico aos poucos.
Era o rosto de um homem que tinha sentido medo. O medo imbeciliza qualquer rosto, suplanta a inteligência, o charme, o humor, a generosidade, as qualidades pelas quais conhecemos as pessoas e pelas quais nos apaixonamos. Mas quem não sente medo diante da morte? Foi por isso que não consegui dizer imediata e definitivamente É o Christopher, porque era e não era ele, a expressão era irreconhecível e mesmo as feições em si não pareciam pertencer ao homem com quem eu havia sido casada durante cinco anos, o homem com quem eu ainda estava casada.
pensei em como a morte é sempre abrupta e antinatural, pelo menos do modo como a vivenciamos: sempre é uma interrupção, sempre há coisas que ficam inacabadas.
mas o amor da mãe é garantido, é algo certo. Uma criança nasce e pelo resto da vida dela a mãe vai amar aquela criança, aquele filho, sem que o filho necessariamente faça nada para merecer esse amor. Mas o amor de uma esposa o homem tem que ganhar, tem primeiro que conquistar e depois conservar.
A dor da perda tem um percurso familiar, e, embora seja fácil acreditar que a sua própria dor é única, no fim ela é uma condição universal, não há nada de singular no luto. Isabella e Mark voltariam para casa com o corpo do filho e chorariam
Há traições que parecem imperdoáveis olhando de fora e que, no entanto, são perdoadas, e há formas de intimidade que não se parecem em nada com o nome que têm — mas eram mesmo assim um casamento.
Um dos problemas da felicidade — e eu tinha sido muito feliz, quando Christopher e eu estávamos noivos — é que ela faz com que você fique não só arrogante, mas também sem imaginação.
Quando alguém que você ama morre de forma antinatural, o natural é procurar uma narrativa mais ampla, um significado maior, o choque provocado pelo incidente parece exigir isso. A verdadeira culpabilidade não se encontra no escuro ou com um estranho, mas em nós mesmos.
Dizem que a dor da perda tem cinco estágios, que as coisas pioram antes de melhorar e que, no fim, o tempo acaba de fato curando todas as feridas. Mas e quanto às feridas que você não sabe que desconhece e cujos estágios você não tem como prever?

