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Não há consolo em dizer que o que nos acontece, nos acontece. Parte fazemos, parte nos fazem. Às vezes, é preciso ir longe para chegar vindo de trás e alcançar a véspera da véspera da véspera do acontecimento. O momento preciso em que tomamos ou somos tomados por uma direção e um belo dia… ou um triste dia, somos o que somos.
À palavra é dado ser poema. Ou cativeiro.
Sabe-se lá de onde vem a força de uma primeira impressão, menos ainda para onde vai.
Sofria de medo, uma doença dramática em quem tem imaginação. Com os primeiros passos, medo das quinas. Com as brisas, medo da febre. Com o sol, medo da desidratação. Com a comida, medo dos vômitos. Com o amor, medo da perda. Com a liberdade, medo das escolhas.
Um paraíso não é suficiente contra determinados infernos. É verdade que algum alívio os banhos demorados trazem, mas logo tudo se resseca, ressente, repuxa. Quando há uma ferida aberta, nem os dias ensolarados melhoram as coisas. Nem o mar. E até a brisa, musa da delicadeza, machuca.
Não era apenas eles que sentiam saudade, era a saudade que os fazia sentir.
Os convidados se sentaram de maneira aleatória, embora o destino não conheça essa palavra, cada acaso tem poderes de deslocar os acontecimentos e eles se tornam o que são.
Além disso, a maior parte das coisas incríveis que somos capazes de fazer, não fazemos porque somos particularmente incríveis.
Toma-se o caminho ou se é tomado por ele?
O silêncio desceu sobre todas as coisas da casa, e o silêncio dos mortos grita. Grita o chinelo, ao lado da cama, a falta que faz caminhar, grita a xícara lascada e estimada subitamente indefesa sem ter mais quem a proteja, gritam os cadernos…
Mas só Deus sabe ser radical — separar as coisas e obtê-las em estado puro. Luz ou escuridão, céu ou inferno. A nós é dado um dia misturado ao outro.
As palavras permitem todo tipo de realidade.
“As coisas reveladas pertencem a nós.”















































