Véspera

by Carla Madeira

a felicidade às vezes é uma manta curta, não dá para todos.

Esvaziou a mente enquanto ouvia, do início ao fim, o som de seu mijo bater na água parada. Única meditação do dia. Dali em diante, seria invadida por intermináveis diálogos mentais. Brutos, ressentidos. Polifônicos. Estava em guerra.

onomatopeia da luta dos Power Rangers na mão do menino era repleta de texturas sonoras.

para ele, não havia gravidade, para ela era só o que havia. Ele podia voar, ela não.

Antunes pai era uma aberração às avessas, quando bebia se tornava uma pessoa melhor.

Sóbrio era intragável, bêbado era adorável.

No coração de Tonico, dividido entre odiar e amar desde muito cedo, o álcool tinha poderes milagrosos. Prometeu beber quando crescesse.

ele esteve na cidade e se encantou com Custódia, que a seus olhos tinha uma timidez excitante. Sabe-se lá de onde vem a força de uma primeira impressão, menos ainda para onde vai.

Ela aceitou a corte com pressa de escapar do fundo de um poço.