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Tá vendo aquele homem, ele não é o diabo. Pode ser pior, mas é homem. Pode ser filho de Deus, mas é homem. O homem é o barro do homem.
Se nos quisesse perfeitos, nos fizesse perfeitos.
Desde que ele nasceu, sou obrigada a ser sua mãe,
O veredito sobre as amigas que prestavam ou não, o julgamento dos decotes e comprimentos dos vestidos, os lugares e horários permitidos e até as alegrias que podiam ser consideradas dignas de uma pessoa decente passavam pelo maldito sexo. O que dele resvalava era envolto em pecado e condenação. Um mal necessário, ou melhor, um necessário absolutamente mau.
Com os primeiros passos, medo das quinas. Com as brisas, medo da febre. Com o sol, medo da desidratação. Com a comida, medo dos vômitos. Com o amor, medo da perda. Com a liberdade, medo das escolhas.
Custódia era uma mãe atormentada por duas tragédias: a do filho que mata e a do filho que é morto.
Naquela noite, Abel não dormiu… Naturalmente, foi o primeiro a acordar.
Um paraíso não é suficiente contra determinados infernos. É verdade que algum alívio os banhos demorados trazem, mas logo tudo se resseca, ressente, repuxa. Quando há uma ferida aberta, nem os dias ensolarados melhoram as coisas. Nem o mar. E até a brisa, musa da delicadeza, machuca.
Mas quando se quer um pouco de afeto, qualquer migalha é afeto.
Tinham, ao contrário, brincado muito quando meninos, época em que brincar e amar são a mesma coisa. Podiam se distanciar, mas nunca tirar deles o que foram. Não era apenas eles que sentiam saudade, era a saudade que os fazia sentir.
Eu sei, mas cachaça misturada com mágoa, meu filho, mata muito mais, muito mais.
Mais perigoso do que a bebida ou a extravagância das comidas gordurosas é o rancor silencioso. A pedra de fel. A cólera amordaçada, a humilhação opilada.
O silêncio desceu sobre todas as coisas da casa, e o silêncio dos mortos grita.
As palavras permitem todo tipo de realidade.
“Houve pela primeira vez a morte. Já não me lembro se foi Abel ou Caim.”

