Gente Ansiosa

by Fredrik Backman

Não temos um plano, apenas fazemos o nosso melhor para sobreviver ao dia, porque haverá outro batendo na porta amanhã.

Às vezes dói, dói muito, por nenhuma outra razão além do fato de que nossa pele não parece ser nossa. Às vezes entramos em pânico, porque as contas precisam ser pagas e temos que ser adultos e não sabemos como, porque é tão horrível e desesperadamente fácil fracassar como adulto.

Porque todo mundo ama alguém, e qualquer pessoa que ama alguém já passou noites em desespero sem conseguir dormir tentando descobrir como pode continuar sendo um ser humano. Às vezes, isso nos leva a fazer coisas que, tempos depois, ...

No fundo, em lembranças que talvez preferíssemos esconder até de nós mesmos, muitos de nós sabemos que a diferença entre nós e aquele homem da ponte é menor do que gostaríamos.

É muito difícil encontrar as palavras certas quando tudo o que realmente se quer dizer é: “Posso ver que você está sofrendo.”

O criminoso, o assaltante de banco… ele atirou em si mesmo!

Eis aí algo impossível de os filhos entenderem, e uma fonte de vergonha que os pais evitam admitir: que não queremos que nossos filhos realizem seus próprios sonhos ou sigam nossos passos. Queremos seguir os passos deles enquanto eles realizam os nossos sonhos.

Ela esperava que sim, porque às vezes é mais fácil conviver com a própria ansiedade se você sabe que mais ninguém está feliz também.

Porque a parte terrível de se tornar adulto é ser forçado a perceber que absolutamente ninguém se importa conosco, temos que lidar com tudo nós mesmos, descobrir como o mundo inteiro funciona.

Abrimos os olhos de manhã e a vida já está à espera para nos lançar uma nova avalanche de “Não se esqueça!” e “Lembre-se!”. Não temos tempo para pensar ou respirar, acordamos e já começamos a cavar o entulho, porque outro será despejado sobre nós amanhã.

Falando francamente, quem de nós não teve um dia vontade de puxar uma arma depois de falar com uma pessoa de vinte anos?

meteu o papo.

Damos apelidos àqueles que amamos, porque o amor requer uma palavra que pertence somente a nós.

A verdade é que, se as pessoas realmente fossem tão felizes quanto parecem na internet, não passariam tanto tempo lá, porque ninguém que está tendo um dia bom de verdade gasta metade dele tirando fotos de si mesmo.

Obviamente, isso não é lógico nem plausível, mas se fobias fossem lógicas e plausíveis não seriam chamadas de fobias.

ele. Se você está constantemente diante de alternativas, nunca poderá se decidir,

Não são eles os reféns aqui. Sou eu.

Ninguém, na verdade, pode explicar, seja antes ou depois, o que faz um adolescente desistir da vida. Às vezes dói muito ser gente. Não se entender, não gostar do corpo em que se está preso. Ver nossos olhos no espelho e questionar de quem são eles, sempre com a mesma pergunta: “O que há de errado comigo? Por que me sinto assim?”

Ela não está traumatizada, não está oprimida por algum sofrimento específico. Ela só está triste, o tempo todo. Uma criaturinha maléfica que não teria aparecido em nenhum raio X vivia em seu peito, correndo em seu sangue e enchendo sua cabeça de sussurros, dizendo que ela não era boa o suficiente, que era fraca, feia e nunca seria mais do que uma derrotada.

As pessoas se amam até não poderem viver uma sem a outra. E mesmo se pararem de se amar por um tempo, elas não podem… não conseguem viver uma sem a outra.

“Não podemos mudar o mundo, e muitas vezes não podemos nem mesmo mudar as pessoas. Não mais do que um pouco de cada vez. Portanto, fazemos o que for possível para ajudar sempre que tivermos essa chance, querido. Nós salvamos aqueles que podemos salvar. Damos o nosso melhor. Depois, tentamos encontrar uma forma de nos convencer de que isso terá que ser… o suficiente. Para que possamos conviver com nossos fracassos sem nos afogar.”

Uma das coisas mais humanas da ansiedade é que tentamos curar o caos com o caos.

Alguém que se envolveu em uma situação catastrófica raramente foge dela, estamos muito mais inclinados a seguir em frente ainda mais rápido.

Ela se lembrou de quando costumava ler histórias de ninar para as crianças e do personagem Peter Pan dizendo: “Morrer será uma grande aventura.” Talvez para a pessoa que vai, pensou Estelle, mas não para a que ficou para trás.

Ela não tinha nada contra a velhice, apenas contra a solidão.

Quando conheceu Knut, não foi uma história de amor, não da maneira como ela havia lido nos livros, a deles sempre foi mais como a história de uma criança encontrando o companheiro de brincadeiras perfeito.

“Não dá para viver por muito tempo com pessoas que são apenas bonitas, Jules. Mas as engraçadas, ah, estas duram uma vida inteira!”

O mais difícil da morte é a gramática, o tempo verbal,

Homens e mulheres vivendo meses com dificuldade para respirar e indo a um médico após o outro porque pensam que tem algo de errado com seus pulmões. Tudo porque é muito difícil admitir que foi outra coisa que… se rompeu. Que é uma dor em nossa alma, pesos de chumbo invisíveis em nosso sangue, uma pressão indescritível no peito. Nossos cérebros estão mentindo para nós, dizendo que vamos morrer. Mas não há problema nenhum em nossos pulmões, Zara. Nós não vamos morrer, você e eu.

Não foi culpa sua.

Dizem que a personalidade de uma pessoa é a soma de suas experiências. Mas não é verdade, pelo menos não inteiramente, porque, se nosso passado fosse tudo o que nos define, nunca seríamos capazes de nos suportar. Precisamos nos permitir reconhecer que somos mais do que os erros que cometemos ontem. Que somos também todas as nossas próximas escolhas, todos os nossos amanhãs.

Nós salvamos quem podemos salvar.