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January 2 - January 29, 2024
Não posso viver para sempre sendo a menininha do papai? Isso sempre me coube tão bem.
Talvez eu merecesse algo para me punir por passar os últimos quatro anos só seguindo Rebecca em seus créditos de administração que serviam para quase nada na minha grade de dança e depois, na grade de música.
“Esses são Ethan e Scott.”
Ele é meu melhor amigo mais antigo, o quarterback perfeito para o running back que eu era. Sempre juntos, nos chamavam de inseparáveis e basicamente éramos. Ou somos. Nossas mães amigas, por isso crescemos juntos. Scott se juntou a nós quando veio para San Diego no fim do ensino fundamental e Nick foi transferido de outra escola quando já estávamos no ensino médio. Nick faz parte do time defensivo, um cara quieto, mas bem-apessoado. Os pais têm dinheiro pra caramba, porém ele nunca se impôs em ninguém por isso. Ele e Ethan ainda jogam no time da faculdade, vieram direto depois de se formarem
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“Não se apaixone por pessoas que vão embora, Josh.
Algumas telas em diferentes tamanhos estão plastificadas ainda, uma caixa bem decorada com laços está aberta com várias tintas e outros artigos de pintura se espalham pela cama. Pego o cartão escrito à mão que foi deixado e não consigo evitar um pequeno sorriso. “Feliz aniversário atrasado, baby boy. Odeio ser tão pouco original ao dar um presente, mas é o que posso fazer no momento. Espero ter comprado coisas certas porque descobri que eu não sei muito sobre pintura. Também espero que goste e esses são para uso pessoal, me faça uma lista do que vai precisar para o nosso trabalho. De
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“A gente ficou curioso, tá bom? Durante esses dois anos que estou aqui, a única coisa que as nova-iorquinas me deram foram festas malucas e pés na bunda.” Ethan diz antes de pausar o jogo para focar somente em mim. “Daí meu melhor amigo chega e nem duas semanas depois já tá com uma amiga gata, e rica, que vem na nossa humilde casa comer hambúrgueres do restaurante da esquina e trazer sacolas, provavelmente presentes. Em dois dias separados, devo dizer.”
“Poderia tentar soar menos cirúrgico, Nick.” Ethan rola os olhos antes de enfiar uma torrada inteira cheia de molho na boca. “Essa piada perde a graça depois de um tempo.” Scott bate na nuca dele. Nick cursa medicina, e isso é o suficiente para que o estoque de piadas sobre a profissão seja feito na casa.
No fundo, me sinto mal por Angel. Desconfio que a mente ruim por trás sempre foi Ollie, principalmente pela forma como ele tinha seguido incomodando a Becks depois do término que ele mesmo provocou, mesmo estando com Angel. O amor muitas vezes é unilateral e eu conheço muito bem isso.
“Vocês da Califórnia têm um jeito estranho de se apresentar.” Falo com um sorriso. “Oie, a pessoa com quem Josh veio aqui.” Zombo dela um pouco descaradamente. Talvez pudesse voltar a ser a abelha rainha territorialista do ensino médio e atuar muito bem nesse papel. “Sou Chelsea!”
Aquilo era algo que eu conseguia vê-lo fazendo. O tipo de cara romântico que faz coisas românticas, demonstrações de afeto bonitas e grandes.
Seguimos estudando e daí, um dia antes do envio final das aplicações na maioria das universidades, ela disse que não funcionaríamos mais. Algo sobre a faculdade e experiências, e que a gente devia aproveitar a vida. Se fosse pra ser, íamos voltar um dia, mas eu nunca entendi direito isso. Tipo, hm, nos amamos, mas vamos dar um tour completo por outras pessoas e então voltamos.” Josh ironiza e eu posso ver a mágoa que há em seus olhos e no tom da sua voz. “Acho que não é meu tipo de amor, talvez.”
Eu esperei dois anos por ela e fui chutado por experiências com outras pessoas e trocas de energias novas na faculdade.”
“Foda-se a Sarah, que fodeu com meu futuro.” Ele fala, não tão alto, mas infinitamente com mais chateação que eu. “Eu não teria te conhecido, se fosse diferente.” Josh me fita depois de um certo tempo e um calor não originado pela água morna da hidromassagem me sobe. “Talvez tivesse, caso tivesse vindo para cá desde o princípio.” “Talvez, mas talvez não.” Como se nosso encontro compensasse todo o resto.
Vestida com uma roupa mundana demais, maiô e short jeans, Chelsea está andando de um lado para o outro na cozinha. Pondo a mesa e mexendo nas panelas. “Você poderia, por favor, não parecer tão surpreso?” Ela fala com um sorriso sem de fato olhar para mim. “Mas eu estou muito surpreso.”
“Tudo bem.” Digo não conseguindo evitar um riso. “Eu ainda estou aqui e não pretendo ir embora. Foda-se a Sarah, lembra? Não vou deixar que isso estrague meu final de semana sem social com Chelsea Capri.” Brinco e recebo um aceno com um sorriso antes que eu suba as escadas.
“É uma vista tão bonita, nem sempre me dou o prazer de admirar.” Ela fala. “Realmente, é uma vista linda.” Parecia uma pintura, tanto o mar quanto ela. Volto os olhos para o horizonte, observando de fato o que ela fala. “Sinto falta da calmaria daqui às vezes.” “Achei que fosse uma típica garota da cidade.” Zombo-a, arrancando um riso. “Eu sou, mas gosto de um pouco de tranquilidade também. A balança da vida.”
A naturalidade com a qual ele faz tais movimentos me faz invejar um pouco Sarah, por ter tido isso para si com tanta facilidade.
Pela primeira vez, em anos, quis falar sobre a minha mãe. Ontem à noite e hoje a tarde. Me sinto confortável o suficiente ao lado dele para pensar sobre isso. Faz muitos anos que não comento sobre o assunto com ninguém. Papai ainda tem mágoa o suficiente para si. Meus amigos sabem que, se eu não falasse, o assunto fica melhor guardado do que exposto. Mas senti vontade de contar sobre aquilo para ele, para que conheça mais essa parte de mim. O que é uma loucura, porque não nos conhecemos há nem um mês, duas semanas e olhe lá.
“Você escolheu sua roupa hoje com base no meu vestido, elogia mesmo sem procurar por algo em troca, chama para dançar e faz toda a cena fofa. Não acho engraçado, acho atencioso.”
Não entendo o porquê disso me incomodar mais do que normalmente costuma.
Monte uma vida nova em Nova York, eles disseram, mas esqueceram da parte na qual você dá de cara com o passado que quer fugir.
Sinto muito, você não está errado. Eu adorei passar esse tempo com você, por favor, não se afaste. Eu realmente não estou bem e não sei o motivo pelo qual estou tão estressada desde ontem. Provavelmente não é sua culpa e sou meio que idiota por estar descontando em você. Mas isso fica só na minha cabeça.
“Uma pessoa que está se tornando importante?” “Talvez…” É, isso é um sim, definitivo.
“Deixe as pessoas entrarem, nem sempre elas vão embora. Sei que não é a coisa mais fácil do mundo, mas tente pelo menos.”
“Ele é do tipo que namora, não passaria dois meses sem arrumar alguém novo. Se apaixona fácil.” “Ele ainda tá aqui.” Aponto levantando a mão. “E não me apaixono fácil.” Retruco. “Apaixona sim.” Os três dizem em um lindo coro.
Isso me faz sentir falta das nossas reuniões semanais, todas às quartas, com meus melhores amigos. Tudo parecia tão descomplicado antes de Oliver e Angel resolverem namorar e noivar dois meses depois de Oliver terminar com Becks, ou antes de Ollie decidir que era uma boa ideia brincar com os sentimentos não só da Rebecca, mas da Angel também. Antes de Daphne se mudar para Boston e Matteo ficar muito ocupado no trabalho, suprindo a ausência da namorada falecida. Becks encontrou seu caminho agora também com Zach, mas sei que, no fundo, posso contar com eles sempre, até mesmo com Mike, que me
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“Mas você realmente estava bonito ontem à noite. Quatro meninas pediram seu número depois que descobriram que não estávamos juntos como um casal real.” Todas as quatro receberam um olhar bem furioso e eu inclusive pensei em dizer as duas últimas que sim, ele era meu namorado. Quem dera! Pra mim só no caso.
Sarah, você fez um bom trabalho, sorte da próxima. Que me vejo desejando, sem pensar muito, que seja eu. Eu nunca quis namorar na vida.
“Você nasceu no exato dia que minha mãe me abandonou...” E eu não consigo terminar, porque o choro se prende na minha garganta como uma bola, uma pedra enorme.
E imagino já estar dormindo quando escuto ele dizer baixinho no meu ouvido antes de beijar minha testa duas vezes. “Você pode ser amada. Espero ter nascido para te provar isso.”
“Vocês são um grupo divertido e muito interessante.” Eles são mesmo e me pego pensando que provavelmente passar um ou outro dia naquela casa ao lado dos meninos pode ser mais divertido que um verão inteiro sem meus melhores amigos que passaria no Hamptons.
Josh se aproxima de mim, me dando um leve abraço por trás, passando os braços pelos meus ombros, e beijando minha cabeça. “Bom dia.” Ele diz baixinho. “Dormiu bem?” Não preciso olhar para ele para saber que quer muitas respostas para aquela pergunta.
“Disse para não mimar eles.” Josh muda de assunto quando estamos indo para a mesa. “Mas olhe para essas carinhas.” Brinco apontando para os meninos e os três olham para nós parecendo três abandonados e esfomeados.
“Você é uma distração boa.” Ele diz em um sussurro, mas escuto.
Uma mistura amadeirada, com um pouco do meu perfume doce no fundo, seu aroma característico de pintura, sabonete de ervas e Josh. Ele cheira a conforto.
Odeio me sentir vulnerável dessa forma porque algumas vezes o am… esse sentimento, não vem pro bem. E a última coisa que eu quero é acabar, mais uma vez, sendo abandonada.
Ontem à noite foi incrível, ela parecia tão natural ao redor dos caras e não posso deixar de dizer que isso me pegou, porque Sarah nunca se deu bem com meus amigos. E eu me odiei pela comparação, porque elas são muito diferentes de maneira geral. Chelsea consegue ser a pessoa mais tranquila que pode ser e, ao mesmo tempo, a menininha mimada super intensa.
Uma mãe que abandonava uma filha com as desculpas que ela usou não poderia desencadear nada diferente em mim. Chelsea merece tudo o que queira da vida, não é bem a garota mimada que esperava, fútil ou qualquer coisa assim. Ela quis fazer algo que gostasse, sabendo que provavelmente não seria levada a sério dentro do mundo em que vivia, porque o que ama não é considerado como algo importante ou bom o suficiente.
Também não posso desconsiderar como ter o corpo dela encaixado no meu foi uma sensação de estar em casa tão bom.
som profundo da melhor risada que tenho escutado nos últimos tempos invade nossa casa.
“O jantar está na mesa.” Falo para ela que me olha com uma sobrancelha arqueada. “Se estiver com fome, pode se juntar a nós.” Digo e estou me virando para ir até a mesa de jantar quando percebo que ela não sai do lugar. “Sarah? Não foi exatamente um pedido. E eu não gosto de falar as coisas duas vezes.” Sei que pareço uma megera, mas o que custa ser um pouquinho grata e tentar amenizar as coisas sentando na mesa e comendo meio pedaço?
“Isso é um pouco sádico, Sarah. Achou que podia fazer o que quiser comigo e eu aceitaria?”
É estranho pensar que essa mulher, que poderia ser tida como um furacão em pessoa, restaura o pouco de paz que tenho no momento, que é quem me acalma agora.
Você às vezes se acomoda onde está, dentro do relacionamento, e não consegue aceitar quando as coisas mudam. Ou até mesmo quando o sentimento muda.”
Honestamente, criei algumas outras amizades por aqui, mas penso em Chelsea como minha nova pessoa.
“Sarah me traiu.” Conto e ela se choca. “Ousada e bastante burra, se quer minha opinião.”
Preciso da sua boca na minha quase tanto quanto preciso do ar que respiro.
“Além dela imaginar que algumas noivas poderiam requerer o olho de Chelsea Capri em seu casamento. Consegue imaginar isso? Eu, planejando um casamento?” Apesar de incrédula, estou empolgada com a possibilidade. “Consigo imaginar que pode fazer o que quiser.”
“Isso não é uma pergunta com… hm, um… um fundo, mas nunca pensou em planejar seu próprio casamento?” Acabo rindo da forma como Josh fica nervoso ao me fazer a pergunta, porque a última coisa que pensaria é que tem a intenção de se casar comigo com ela. “Na verdade, nunquinha.” Admito com um dar de ombros. “Nunca me vi em um relacionamento forte o suficiente para que eu pensasse em montar uma vida com a pessoa. Nunca cogitei um dia me vestir de branco e ser levada ao altar.”

