A Polícia da Memória
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Read between October 28 - November 2, 2025
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Se eu ler o romance, ele acaba. Um desperdício. Prefiro guardá-lo para sempre aqui comigo, essa coisa preciosa.
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Será que, onde quer que estejam agora, há uma cama limpinha para dormir, será que conseguem ao menos ter sonhos? A higiene é necessária para prevenir doenças, e sonhar é necessário para consolar o coração.
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O tempo dirá. O tempo não cumpre ordens, ele flui majestoso e incessante.
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As minhas memórias não são, por assim dizer, arrancadas com raiz e tudo. Mesmo as coisas esquecidas deixam algum traço em algum lugar do coração. Como pequenas sementes. Se algo as desperta, voltam a crescer. Mesmo quando a memória em si desaparece, ela deixa em seu lugar alguma coisa: um tremor, uma dor, um prazer, uma lágrima.
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Você quer se lembrar das coisas que perdeu? — Não sei. Na verdade, não sei nem do que exatamente eu devia me lembrar. Quando uma coisa me some, o sumiço é completo. Não fica nada para trás. Tenho de continuar vivendo com um coração oco, cada vez com mais buracos.
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Eu adorava minhas fotos. Cada vez que olhava para elas, ressuscitavam minhas mais queridas lembranças. Sentia saudades, tristeza, um aperto no coração… As fotografias eram a bússola mais confiável que eu tinha para andar na floresta das minhas lembranças, das minhas parcas lembranças.
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As memórias são mais resistentes do que você imagina. Os corações que não esquecem também são resistentes.
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A caixinha de música não tem culpa de ter sumido. Mas nós não temos escapatória. Quando vemos uma coisa que sumiu, o coração se inquieta. É como se alguém lançasse algo pesado e duro dentro de um pântano de águas tranquilas. Isso cria ondas na superfície, um redemoinho no fundo, levanta o lodo. É por isso que as pessoas queimam suas coisas sumidas, jogam-nas nos rios, as enterram: elas precisam mandar as coisas sumidas para longe.
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Mas e se o próximo sumiço for um sumiço de gente? O velho levou um susto. Começou de novo a piscar. — Mas você, hein? Sempre inventando uma complicação. Gente não tem nada a ver com sumiço. Basta esperar, que um dia morre. Não precisa fazer nada. Basta confiar no destino.
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O senhor… podia me explicar… Se eu… Ãhn… Supondo que um dia eu consiga me lembrar de alguma coisa, de que isso me servirá? — Não é para servir para alguma coisa. As pessoas são livres para usar suas memórias como quiserem. — Mas quando nos lembramos de alguma coisa, isso acontece em um lugar invisível, aqui ou aqui, não é mesmo? — questionou o velho, indicando com a mão a cabeça, depois o peito. — Não importa qual seja, mesmo a mais maravilhosa lembrança fica em um lugar onde ninguém a vê… e, depois, ela se apaga… invisível para os outros. Nem eu mesmo sou capaz de guardar as minhas próprias ...more