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Se eu ler o romance, ele acaba. Um desperdício. Prefiro guardá-lo para sempre aqui comigo, essa coisa preciosa.
Será que, onde quer que estejam agora, há uma cama limpinha para dormir, será que conseguem ao menos ter sonhos? A higiene é necessária para prevenir doenças, e sonhar é necessário para consolar o coração.
O tempo dirá. O tempo não cumpre ordens, ele flui majestoso e incessante.
As minhas memórias não são, por assim dizer, arrancadas com raiz e tudo. Mesmo as coisas esquecidas deixam algum traço em algum lugar do coração. Como pequenas sementes. Se algo as desperta, voltam a crescer. Mesmo quando a memória em si desaparece, ela deixa em seu lugar alguma coisa: um tremor, uma dor, um prazer, uma lágrima.
Você quer se lembrar das coisas que perdeu? — Não sei. Na verdade, não sei nem do que exatamente eu devia me lembrar. Quando uma coisa me some, o sumiço é completo. Não fica nada para trás. Tenho de continuar vivendo com um coração oco, cada vez com mais buracos.
Eu adorava minhas fotos. Cada vez que olhava para elas, ressuscitavam minhas mais queridas lembranças. Sentia saudades, tristeza, um aperto no coração… As fotografias eram a bússola mais confiável que eu tinha para andar na floresta das minhas lembranças, das minhas parcas lembranças.
As memórias são mais resistentes do que você imagina. Os corações que não esquecem também são resistentes.
A caixinha de música não tem culpa de ter sumido. Mas nós não temos escapatória. Quando vemos uma coisa que sumiu, o coração se inquieta. É como se alguém lançasse algo pesado e duro dentro de um pântano de águas tranquilas. Isso cria ondas na superfície, um redemoinho no fundo, levanta o lodo. É por isso que as pessoas queimam suas coisas sumidas, jogam-nas nos rios, as enterram: elas precisam mandar as coisas sumidas para longe.
Mas e se o próximo sumiço for um sumiço de gente? O velho levou um susto. Começou de novo a piscar. — Mas você, hein? Sempre inventando uma complicação. Gente não tem nada a ver com sumiço. Basta esperar, que um dia morre. Não precisa fazer nada. Basta confiar no destino.
O senhor… podia me explicar… Se eu… Ãhn… Supondo que um dia eu consiga me lembrar de alguma coisa, de que isso me servirá? — Não é para servir para alguma coisa. As pessoas são livres para usar suas memórias como quiserem. — Mas quando nos lembramos de alguma coisa, isso acontece em um lugar invisível, aqui ou aqui, não é mesmo? — questionou o velho, indicando com a mão a cabeça, depois o peito. — Não importa qual seja, mesmo a mais maravilhosa lembrança fica em um lugar onde ninguém a vê… e, depois, ela se apaga… invisível para os outros. Nem eu mesmo sou capaz de guardar as minhas próprias
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