Os irmãos Karamázov (Portuguese Edition)

by Fyodor Dostoevsky

Pois imagine então que, em última análise, eu recuso este universo de Deus: sei que ele existe, mas não o aceito. Não é Deus que eu recuso, compreenda bem, mas sim o universo criado por ele; é o universo de Deus que não aceito, que me recuso a aceitar.

Não desejo que a mãe perdoe o carrasco; ela não tem esse direito. Pode perdoar-lhe seu sofrimento de mãe, mas não o que seu filho, devorado pelos cães, sofreu. Mesmo se seu filho perdoasse, ela não teria o direito de perdoar.

Não me recuso a admitir Deus, mas, com muito respeito, devolvo-lhe a minha passagem.

Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas, se morrer, produzirá muito fruto.

pois a cada hora, a cada segundo, milhares de homens deixam a sua vida na terra e se apresentam diante do Senhor. E quantos não são, entre eles, os que deixam a terra na mais completa solidão; sem que ninguém saiba, na tristeza, na angústia de pensar que não fazem falta: ninguém sabe se eles viveram ou deixaram de viver.

Admitamos que seja loucura pedir perdão aos pássaros; entretanto, a vida seria melhor às aves, à criança, a cada um dos animais que nos cercam, se você fosse mais digno do que é agora, nem que fosse só um pouco.

Ao desenvolver a nova ideia, Mítia ficou entusiasmado, o que sempre lhe acontecia ao imaginar novos planos, ao tomar decisões repentinas.

Todas as suas decisões, no presente, tinham nascido sem raciocínio; em um instante elas tinham sido sentidas e totalmente aceitas, com todas as suas consequências,

eu sou! No meio de mil sofrimentos, eu sou, torço-me sob as torturas, mas sou! Sou reduzido à imobilidade de uma pedra, mas existo, eu também: vejo o sol e, mesmo se não o visse, saberia que ele existe.

“Pai, por que devo amá-lo?”,