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Sei que estou mentindo para mim mesmo e que, na hora que minha esposa me encarar com aqueles olhos castanhos, eu vou deixar que ela faça qualquer coisa com a minha vida, como tem sido nos últimos dez anos.
Estou muito longe de ser aquilo que esperam que eu seja e de amar o tipo de pessoa que eles esperam que eu ame.
E eu me descobri… nela.
Antes que eu me apaixone pelo seu namorado. Ela responde na mesma hora, com uma palavra que me desconcerta. Mais?
Eu tô MUITO lascado!
Eu o beijo. Levo a minha mão até o pescoço dele, o puxo para perto de mim e o beijo, sem esperar que retribua. E ele não retribui.
Com você, eu quis parar o tempo, quis alongar os nossos segundos, quis me deitar e descansar de toda a correria que eu sou.
Tem também outra metáfora que pensei (é metáfora que chama? Agora vai ser). Sempre tentei entender o que é o amor. Não consigo ver o amor como uma prisão, como uma corrente, muito menos como um campo aberto e livre; o vejo como uma casa, onde você recebe quem deseja receber, sem prender ninguém. A maioria das pessoas que entram são visitantes, elas chegam, tomam um café, conversam e depois saem, vão embora, algumas nunca mais voltam. Eu quero ser uma casa aberta, Cris, e quero que você também seja.
— Por que você lida com as coisas como se elas fossem fáceis? — Porque a vida é uma só, não preciso tornar as coisas ainda mais complicadas do que já são — respondo.
Estou mais caído por esse homem que o Neymar na Copa do Mundo. — Por mim tudo bem! Tudo ótimo! — Passo minha mão sobre a dele, a que está tocando. Ele para por um instante e me olha, pousando o cotovelo esquerdo na parte de cima do piano e apoiando o rosto na mão. — Também te achei bonito. — O quê? — Quando te vi pela primeira vez. Fiquei mentindo para mim mesmo dizendo que você era feio, que era irritante. Sempre achei que o ciúme que sentia por você era muito esquisito — confessa. — Irritante eu sou até hoje.
— Não acho. — Pedro se empertiga e mexe nas partituras que estão no suporte, puxando um papel para a frente. — Acho que a Cris sempre esteve certa em amar você. Inclusive, tenho uma notícia pra te dar. — Ele solta a minha mão e dá dois tapinhas na folha.
Junto minha mão à deles. Não preciso falar mais nada. Nossas cores ficam perfeitas juntas. Nós três combinamos.
Saí do quarto me sentindo tão invisível quanto o B na comunidade LGBT.
As pessoas sempre vão encontrar algo para dizer. Sempre. Não importa o que você faça, elas sempre vão estar lá para te julgar.
Nós duas e nosso corpo sendo livre. Nós duas e nosso corpo de verão. Ponto final.
— Namorada é uma palavra muito forte! Estava mais para um crush platônico que foi correspondido e eu não soube lidar.
Você tem algum problema com The Good Place? — Não vi. Nem ela, nem Brooklyn Nine-Nine. — O quê? Você não viu Brooklyn Nine-Nine?
No começo, foi difícil me acostumar com um estilo tão diferente de humor de Brooklyn Nine-Nine (e com alguns pontos problemáticos da série), mas com o tempo os personagens me pegaram e, quando percebi, estava tão apaixonada que não conseguia parar de ver.
Não se apaixone por uma flor. Mas ela podia, pelo menos, ter avisado que as flores têm esse sorriso bonito e esse cheiro de frutas. Esse cabelo, nossa… e essa pele bonita. Ou será que ela avisou? Havia algo além desse conselho, algo que eu nunca guardei. O que era mesmo?
Não se apaixone por uma flor parece até um convite. Um que eu aceitaria sem reclamar.
A mãe da Lírio já foi nossa fazedora de fogo. Ela sempre trazia a menina nas festas, às vezes até em outras datas. Tínhamos a mesma idade, ficamos amigas, nos apaixonamos.
Me apaixonar por alguém de uma família inimiga… Ele ainda via os fazedores de fogo como inimigos, por achar que tinham roubado um pedaço da estrela.
— Mas a senhora mesma me disse para não me apaixonar por uma flor... — E o que mais eu disse? — Ela vai saindo de fininho, sem esperar uma resposta, e me deixa aqui com cara de tacho. Aperto os olhos, tentando me lembrar. A segunda parte do conselho não fazia sentido nenhum, mas eu não me recordava o que era…
Ela tagarela sobre várias coisas enquanto dançamos e ri. Flor ri tanto que não sei de onde tira tanto humor. E tanto assunto. Só acompanho, tentando prestar atenção em tudo. Porque, de repente, tudo o que vem dela é importante para mim. Quero ouvir sobre sua vida, sua família, seus problemas. Quero ouvir coisas boas também e coisas bobas. Quero saber o que ela faz quando acorda e o que gosta de comer no jantar. Quero conhecer cada detalhe ridículo sobre o dia em que ela colocou fogo —
— Esse é o seu poder, entende? O seu e o da sua avó. Talvez seja o da sua mãe, não sei. Eu crio o fogo; você, o frio.
Ela desce as mãos pelos meus braços até chegar à minha cintura. Fecho os olhos e sinto o calor que vem dela abraçar meu corpo. Levo minhas mãos até a parte de trás do pescoço de Flor, tenho medo de que ela se afaste. Mas ela não se afasta, pelo contrário, se aproxima mais e encosta os lábios nos meus.
Eu a puxo pela mão. Acho que estou começando a me acostumar com o calor dela.
Vamos de mãos dadas para o terreiro e continuamos de mãos dadas quando os casais vestidos com roupas coloridas dançam em sintonia. Depois da dança, nos sentamos em um banco. As mãos ainda unidas. Fico à vontade para me deitar no ombro dela, está mais quente aqui do que perto da fogueira.
Quando Flor volta a se sentar do meu lado, penso em perguntar. Mas não faço isso. Eu me deito de novo em seu ombro e ficamos assim, conversando
Será que um dia serei capaz de parar de rir quando estou perto dela? Espero que não.
O sol aponta tímido por detrás do morro. Devagar, eu me aproximo de Flor. Ela envolve as mãos sobre minha cintura, me abraçando, me trazendo para perto. Levo minhas mãos geladas ao rosto dela, que sorri com o choque de temperatura. E a beijo com urgência, porque nosso tempo é curto.
Se ela tiver razão e eu for o frio, que ironia seria amar tanto assim o calor. Talvez nós duas
nos complementemos. Ela, com suas poderosas chamas roxas, com esse sorriso enorme e essa tagarelice. E eu com minha ...
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Aqui, onde uma estrela caiu e girassóis nasceram, eu me lembro do conselho completo: Não se apaixone por uma flor… a ...
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Para os meus amigos. Os que sempre estão aqui. Os que foram embora e voltaram. E os que não vão ficar para sempre.
Só fui me entender como bissexual depois dos anos 1990, em uma conversa com sua avó. Mas ela nunca gostou desse rótulo.
Escuridão, melodia. Luz, letra. Uma não existe sem a outra.
viu um sorriso quase minúsculo se abrir na boca de Rodrigo.
Tinha certeza que a mãe não aceitaria muito bem aquela ideia de ele gostar de meninos. Nem ele mesmo aceitava. A igreja não aceitava. A sociedade não aceitava. Ninguém aceitava.
Não era para ele querer aquelas coisas. Por que nenhuma garota mexia com ele daquele jeito?
Em todos os seus quinze anos, Henrique nunca havia sentido o coração bater tão forte no peito. O que diabos estava acontecendo?
Só estar perto. É que a maneira como ela falava fazia com que tudo parecesse mais interessante.
— Andei pensando em você… — Rodrigo confessou, assim que todas as outras pessoas se afastaram. Abriu um sorriso tímido, os lábios cheios se destacando de forma graciosa em seu rosto. — Eu também — Henrique admitiu em um impulso. O sorriso de Rodrigo se alargou.
O que é o amor? O que é estar apaixonado senão aquele fogo estranho que ele sentia quando estava com ela? Deveria ser conveniente namorar uma menina. Deveria ser mais fácil não ter que contar para a mãe que gostava de meninos. Namorar Cris deveria simplificar a vida de Henrique. E talvez simplificasse. Seria esse o motivo de tanto sentimento? Seria somente um truque da mente do garoto?
— É. Medo. Do que eu sentia. Do que eu era. Do que eu via em você.
— Ninguém questionou meu primeiro namoro com uma menina. Ninguém! E ele não era sincero. Já meu namoro com a Cris… Nem uma alma viva acreditou que eu pudesse estar apaixonado por ela. E não era por acharem que eu sou gay. Quem dera fosse.
Todo mundo prega o amor… desde que você se apaixone por alguém branco, magro ou de um gênero diferente do seu. Caso contrário, algo, com certeza, vai estar errado.