More on this book
Community
Kindle Notes & Highlights
E a vida, como metáfora de um rio, tudo traz, tudo leva, tudo lava. Menos o amor. O amor é uma verdade à prova do tempo.
Um dia feliz tem mais poder que a tristeza de uma vida inteira.
Ninguém tem culpa de sentir o que sente.
O amor não é incondicional coisa nenhuma, tem suas fragilidades de matéria orgânica. Estraga, esgarça, rasga, inflama, acaba. E como acaba. É feito gente, depende do que vive.
Não é assunto exato. Cada um que sabe. Cada um que vive.
Não é bom todo dia, mas é bom toda a vida.
É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.
Aprendeu que a verdade não tem dono, que é duro demais existir e que ninguém precisa ajudar ninguém a sofrer. O sofrimento vem sozinho, tem pernas, mais cedo ou mais tarde ele aparece; o que a gente tem de buscar é a alegria, essa se esconde delicada na correria dos dias, não se oferece de pronto, quer ser encontrada, surpreendida, amada.
Ter Dalva só para ele dava vontade de ser o melhor homem do mundo.
Estava condenado ao inferno de não ter perdão.
Somos feitos do bom e do ruim em porções imprevisíveis.
Dalva poderia tantas coisas se pudesse. Mas só pôde o que fez. Quem vê de fora faz arranjos melhores, mas é dentro, bem no lugar que a gente não vê, que o não dar conta ocupa tudo.
O problema não é Deus, é o que inventamos Dele.
É difícil pro homem, que manda e desmanda aqui na terra, entender que Deus não existe para fazer nossas vontades,
O sofrimento é certo como a morte e tão inegociável quanto.
O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim.
Na vida, o mal resolvido sempre tromba na gente, ninguém escapa das tangentes.
como se alguma promessa tivesse sido feita. Não tinha.
Mas outros machucados a gente não tem muito o que fazer, não é mesmo? Ou porque causam um estrago de todo tamanho no corpo ou porque ferem a alma de um jeito irreversível demais. Um machucado desses destrói não só quem apanha, mas quem bate. Pior do que isso, acaba com o amor.
O perdão não muda o passado, nunca se esqueça disso, meu filho. O passado é eterno.
O amor é alegre, Venâncio, se não é alegre, não é amor.
Uma certa ignorância é o sal da bondade, ajuda a não levar a própria impotência a sério demais.
A morte põe um olho no passado e outro no futuro e deixa a gente cego na hora, no encontro do que foi e do que será, na tortura do que poderia ter sido. Impõe o desespero do definitivo, trava os movimentos. Embrulha o estômago indigesta. Faz frio nos ossos. A morte é vida intensa demais para quem fica.
A bondade não afasta o desejo da gente.
Tantas correntezas trouxeram a surpresa maior de todas: querer o bem ainda que doesse nela.
Ele não era só o horror daquele dia.
Com que direito ele fazia ela enxergar o que já tinha amado nele?
Quando entrou na sala, Venâncio estava deitado no sofá, dormia com João de bruços sobre seu peito.
Acabou, Dalva, não era mais preciso ter medo. Estava pronta.
Mas, naquela manhã, cantou.
Tudo passa, você vai ver, tudo passa. Ela tinha razão. A vida dá um jeito de manter a gente vivo mesmo quando a gente morre de dor.
Não adie a reparação de Venâncio. Deixar ele sofrendo acreditando que matou o filho não serve pra nada, minha filha, não conserta o que passou nem ilumina o que vem pela frente. Não é justo com ele nem com você.
Os bebês nascem sabendo seduzir, são competentes sem esforço nenhum.
Agora que amava João passou a amar mais ainda Vicente, morreria por ele, daria a vida para voltar o tempo e desfazer sua brutalidade.
Chega, não quero mais mastigar esse rancor, cuspo, quero ser condenado à morte, me matem, mas, se me deixarem vivo, quero meu próprio perdão, pelo menos isto: ser perdoado por mim mesmo. Entendeu? Eu me perdoo. Gritou: eu me perdoo.
Tudo vibrou dentro dele, teve vontade de chorar com a beleza da borboleta.
A verdade se conhece aos poucos.